Quem foram os nadadores mais completos dos últimos 4 anos?
Depois de realizados os Torneios do Nadador Completo para infantis e juvenis por todo o país, o Fair Play “criou” um Torneio paralelo fictício inter-geracional para descobrir qual seria o mais completo dos nadadores completo, em cada categoria
Ainda sobre o torneio do nadador completo, o Fair Play fez um estudo comparativo entre os resultados registados nas últimas 4 edições do Torneio do Nadador Completo, a fim de descobrir quem foram os nadadores mais completos no quadriénio 2014-2018. As conclusões partilhamos neste artigo.
No entanto, antes de analisar e discutir os resultados, importa fazer várias observações:
- De forma a ser comparável, todos os tempos foram pontuados conforme a Tabela FINA a vigorar no ano de 2017, ou seja, as pontuações que aqui se registam podem não coincidir com os pontos obtidos pelos nadadores nos anos em que venceram o torneio, uma vez que a tabela de pontuação FINA todos os anos é revista, indexada aos recordes mundiais em vigor no início do ano;
- O Fair Play decidiu restringir a amostra a um ciclo de quatro anos porque coincide com o número de anos que cada nadador participa no nadador completo (de infantil-B a juvenil-A). Nesta primeira análise, são os nadadores nascidos em 2002 e as nadadoras nascidas em 2003 que surgem nas quatro tabelas que exibiremos em seguida. No próximo ano serão os nadadores de 2003 e nadadoras de 2004 e por aí adiante;
- Os vencedores do circuito desta época (2017/2018) partem em clara desvantagem, uma vez que este ano o TNC se realizou em Novembro, em oposição aos de anos anteriores que se realizaram em Maio. Entre o TNC da época 2016/2017 não houve um ano de evolução, mas apenas 6 meses. Este efeito é tanto maior quanto mais novos forem os nadadores, o que é facilmente identificável na categoria infantil-B. Ou seja, só daqui a três anos se poderá fazer uma comparação totalmente justa e equilibrada, considerando que o TNC se mantém em Novembro.
Feito o intróito, vamos à análise:
INFANTIL-B
Como referimos anteriormente, esta é uma categoria onde o efeito “altura da época em que o TNC é disputado” é mais acentuado. Todos os participantes no Torneio do Nadador Completo da época 2017/2018 tinham menos de 13 anos (no sector masculino) e menos de 12 anos (no sector feminino), ao passo que nos anos anteriores, muitos nadadores já competiam com 13 e 12 anos, respectivamente.
Acresce que os participantes na presente época têm 2 meses de treino de nível competitivo, contra os 8 meses dos participantes em anos anteriores.
Por isso, a diferença dos vencedores deste ano para os de anos anteriores é muito enganadora.
Face aos dados, os vencedores infantil-B quadrianuais do Torneio do Nadador Completo são Bernardo Simões (Colégio Vasco da Gama) e Carolina Fernandes (Clube Galitos de Aveiro).
Bernardo foi o único nadador nos últimos 4 anos a superar a fasquia dos 2000 pontos, e de facto em comparação com os seus “adversários”, o nadador do CVG foi o melhor nos 100 livres (59.59, único dos quatro abaixo do minuto), 100 costas (1:07.45, único abaixo do 1.10) e 200 estilos (2:22.56). A bruços perde para Hugo Neves e a mariposa para Pedro Sousa.
Do lado feminino, Carolina Fernandes vence de forma destacada. Tão destacada que ela até podia abdicar de nadar a prova de bruços (fez 419 pontos) que permanecia com mais pontos na mesma. Bruços foi mesmo a prova onde Carolina não foi a melhor das quatro, na categoria de infantil-B. Fez 1:23.33 contra os 1:22.76 de Mariana Cunha. Nas restantes quatro provas que pontuam para o circuito a sua superioridade é enorme: 1:01.36 nos 100 livres (a mais próxima é Mariana Cunha com 1:05.67), 1:07.43 nos 100 costas (a mais próxima é Sara Cruz com 1:13.05), 1:05.51 nos 100 mariposa (a mais próxima volta a ser Mariana com 1:11.81) e 2:33.04 nos 200 estilos (a prova onde Mariana mais se aproxima: 2:35.57).
INFANTIL-A
Bernardo Simões interrompeu a dinastia dos Ricardos que perdurava desde 2014/2015, numa categoria extremamente equilibrada no sector masculino.
O nadador do Aquático Pacense, Ricardo Rocha, é o mais pontuado dos 4 vencedores, com 2334 pontos, mas o equilíbrio é de tal ordem que Ricardo Rocha só fez o melhor tempo dos quatro nos 100 livres (56.36).
A costas e estilos foi Ricardo Silva a superiorizar-se aos rivais, nadando em 1:00.69 e 2:19.34. Já bruços e mariposa foram para o terceiro Ricardo, o algesino Ricardo Ferreira, que fez 1:13.21 e 1:01.54, respectivamente. Bernardo Simões ficou muito perto de deixar a distribuição mais parcimoniosa ao nadar os 100 bruços apenas 17 centésimos acima do tempo de Ferreira.
Em femininos observam-se duas tendências: a primeira é que as pontuações têm vindo em crescendo e a segunda é que a altura da época é indiferente para Carolina Fernandes (que até nadou esta prova com uma diferença de idades superior a um ano para as adversárias. Em Novembro tinha 12 anos e 2 meses; nadadoras nascidas em Janeiro nadaram este torneio, nesta categoria e em anos anteriores com 13 anos e 4 meses).
Carolina volta a impor-se com 2849, com Mariana Cunha a ficar a escassos 49 pontos de distância, e segue com possibilidades de ser a melhor no ciclo de quatro anos em todas as categorias. Considerando as provas individualmente, Carolina é a melhor a em três: nos 100 livres onde foi a única a baixar do minuto (59.56), nos 100 mariposa com 1:03.34 e nos 200 estilos com 2:24.93. Mariana Cunha é a melhor costista, com o tempo de 1:06.20 e Clara Pereira a melhor brucista com 1:16.07.
JUVENIL-B
Mais uma vez, o equilíbrio é a nota dominante no sector masculino, na categoria juvenil-B, mas ao contrário das meninas infantil-A, os vencedores juvenil-B têm progressivamente vencido com menos pontos do que no ano anterior.
O sportinguista Diogo Dantas é o melhor dos quatro, totalizando 2604 pontos, uma “vitória”, muito sustentada no tempo que fez na prova de 100 metros bruços. Com 1:07.75, Diogo foi o único dos quatro a baixar de 1:10. Também foi o melhor nos 100 livres, nadando em 54.29. Já a costas o melhor foi Ricardo Rocha, sendo o único a baixar do minuto, com 59.93. Mariposa e estilos foram para André Costa que nadou em 58.81 e 2:13.45.
No sector feminino, algumas protagonistas habituais dos anos anteriores. Camila Rebelo superioriza-se nesta categoria, ficando perto dos 3000 pontos. Marcou 2944 na época passada e é a nadadora mais completa da categoria juvenil-B. Camila foi a melhor em duas provas, enquanto Inês Rocha foi a melhor em três, mas os 100 costas da nadadora da Lousã foram demolidores. Nadou em 1:03.70, única abaixo de 1:06. Também foi a melhor nos 100 livres com 59.32, única abaixo dos 60 segundos.
Já Inês venceu os 100 bruços com 1:13.96, os 100 mariposa com 1:05.67 e os 200 estilos com 2:22.87. O calcanhar de Aquiles foi mesmo os 100 livres (1:02.96).
JUVENIL-A
Chegados à última categoria onde se disputa o Torneio do Nadador Completo, há uma observação que é fácil de ser tirada: o sector feminino é mais forte que o masculino nos escalões de formação. Repare-se que o vencedor dos vencedores na categoria juvenil-A tem menos pontos que a vencedora das vencedoras na categoria infantil-A.
Não seria preciso olhar aos pontos do nadador completo para tirar esta conclusão, uma vez que é sabido que o desenvolvimento fisiológico se dá (ou continua a dar) em idades mais avançadas nos homens do que nas mulheres, pelo que aos 14/15 anos, algumas nadadoras já fazem tempos relativamente próximos dos que farão aos 20/21.
Na análise à categoria, podemos observar que há dois vencedores destacados.
No sector masculino, o nadador do Vilacondense, Porfírio Nunes, consegue mesmo a maior vantagem considerando todas as categorias (100 pontos para o segundo).
Decompondo a sua “vitória” concluiu-se que obteve este resultado porque fez o melhor tempo na maioria das 5 provas (fez melhor em três): nos 100 costas nadou em 58.77, batendo por pouco Rafael Aires que, no ano passado, fez 58.82 ou até mesmo Ricardo Rocha que este ano fez 59.02. Em mariposa também foi o melhor com 58.63, assim como em estilos onde se superiorizou com 2:11.46. Em livres foi Rafael Aires que levou a melhor com 53.03 e em bruços, de forma natural, foi o brucista Alexandre Amorim com quase 3 segundos de vantagem (1:06.99).
Do lado feminino, Raquel Pereira não dá hipótese à concorrência e é a única nadadora a ultrapassar os 3000 pontos. 3209 pontos e as melhores marcas em todas as provas, menos nos 100 costas. 57.52 a livres (nenhuma das outras três nadadoras baixou dos 59 segundos), 1:10.95 a bruços (Inês Rocha foi a que mais se aproximou com 1:14.16), 1:03.71 a mariposa (Inês, Rafaela e Camila nadaram as três na casa do 1:05) e 2:19.31 aos 200 estilos (Inês, Rafaela e Camila nadaram as três na casa do 2:23).
Em suma, este é um artigo apenas em jeito de curiosidade, mas de onde podem ser tiradas várias outras conclusões para além daquelas que aqui se expressam, tais como 1) aferir da qualidade do trabalho de base nos escalões de formação; 2) a transposição para o nível absoluto das relações comparativas que se estabelecem nos escalões de formação – os melhores nadadores nos grupos de idade vão ser os melhores nadadores seniores?; 3) Estamos perante uma geração que promete grandes feitos futuros para a natação portuguesa?
Partilhe connosco as suas opiniões 🙂
7 comments
martina silva
Dezembro 6, 2017 at 11:42 pm
Porque nao recuar mais um pouco no tempo?
João Bastos
Dezembro 7, 2017 at 12:22 pm
Cara Martina, a ideia é essa. Tentar recuar até à época em que se institucionalizou o TNC como um ranking nacional para infantis e juvenis, mas recolher todos os tempos, convertê-los na mesma Tabela FINA e compará-los requeria mais tempo.
Como não quisemos perder o timing, avançámos com esta “amostra” duas semanas após a realização dos vários TNC por todo o país.
Fica o compromisso que quando for publicado o ranking oficial deste ano, pela FPN, aproveitaremos essa deixa para mergulhar mais fundo nos registos do nadador completo.
Obrigado pelo seu comentário.
Cumprimentos!
Nelson Conceição
Dezembro 6, 2017 at 9:49 am
Análise muito interessante. Pegando na questão “os melhores nadadores nos grupos de idade vão ser os melhores nadadores seniores?”, e se olharmos para os nadadores olímpicos actuais, nenhum deles está nos melhores das listas de nadadores completos, ou na lista de recordistas nacionais dos escalões mais jovens. O que leva a outra pergunta: carga a mais no treino dos jovens nadadores não terá consequências no seu desempenho futuro? Altos níveis de treino nas camadas jovens, com o objectivo de ter resultados antecipados não causam saturação física e mental nos atletas?
João Bastos
Dezembro 6, 2017 at 10:34 am
Caro Nélson, muito obrigado por ter respondido ao desafio!
Visto de fora, parece-me que essa é uma das questões que os treinadores portugueses mais debatem nos últimos anos, sobretudo sobre duas vertentes: Gestão de carreira e especialização precoce dos nadadores.
O Torneio de Nadador Completo até é uma competição que vem responder à segunda parte da questão, sendo um estímulo a que os jovens nadadores não se especializem precocemente numa técnica/distância, mesmo que sobre esta matéria as posições não sejam consensuais. Do lado dos que defendem que a especialização precoce não tem nenhum problema na progressão dos jovens nadadores há agora um forte argumento chamado Katie Ledecky. Eu consideraria que a Ledecky é uma árvore muito frondosa, mas não é a floresta eheh
Há outra observação que se pode fazer das tabelas no artigo e que vai ao encontro do que refere: de todos os nadadores mencionados, os mais velhos estão agora no 1º ano de sénior e, mesmo assim, alguns dos que ali constam já não nadam (ou pelo menos esta época e uma parte da anterior não competiram). Claro que a amostra é pequena para atribuir esse abandono precoce a uma única razão, mas penso que urge começar a fazer o levantamento das razões para a desmotivação para que se actue no sítio certo.
Muito obrigado pelo comentário.
Cumprimentos
Rui
Dezembro 21, 2017 at 11:08 am
O que conta é a regularidade, não a especialização. Ligar uma coisa à outra pode ser muito enganador.
Sou da opinião que este ano deveria ser retirado do ranking – não faz sentido comparar com anos anteriores por ser realizado em Novembro e não na primavera. As diferenças são abismais na categoria de infantil B – Se não faça o exercicio de verificar os tempos da Carolina Fernandes em Dezembro e quando ela fez o NC de 2016 e vai ver que talvez ela consiga ficar no top5 deste ano! 😉
Quanto ao abandono deixo uma pergunta – em vez de se ajustarem os treinos ao horario escolar, porque não ajustar o horario escolar aos treinos? Não me parece que a carga de treino seja o assunto mas sim a complexidade logistica diária dos atletas desde muito cedo. É muito facil de fazer e não exige qualquer investimento – só vontade!
João Bastos
Dezembro 21, 2017 at 5:40 pm
Caro Rui,
Lá está: há quem defenda precisamente que a regularidade não se consegue com uma especialização precoce. Como não me sinto habilitado para opinar sobre qual a filosofia correcta, decidi levar a cabo este estudo comparativo onde fica patenteado essas duas vertentes, já que evidencia quais os nadadores mais versáteis e quais os nadadores mais regulares, ano após ano, tornando-se mais regulares até na sua técnica mais especializada.
Coloquei os nadadores deste ano porque foi depois do TNC deste ano que me surgiu a ideia de fazer este “ranking”, daí que não fazia sentido excluí-los. Claro que (sobretudo em infantil-B) é incomparável. A ideia é continuar a fazer este “ranking” todos os anos e daqui a três (se o TNC se mantiver em Novembro) todos os nadadores passarão a estar em pé de igualdade.
Obrigado pelo seu comentário.
Cumprimentos e votos de um Feliz Natal!
Rui
Dezembro 22, 2017 at 5:32 pm
Eu respondia à questão do Nelson – “Pegando na questão “os melhores nadadores nos grupos de idade vão ser os melhores nadadores seniores?”, e se olharmos para os nadadores olímpicos actuais, nenhum deles está nos melhores das listas de nadadores completos”. A lista de NC evidencia a regularidade não a especialização que se observa nos nadadores seniores.
Congratulo obviamente pela iniciativa, pretendia sublinhar que, como foi bem dito no texto, este ano não é comparavel com os anteriores.
Boas festas!