Quem foi a MIP da natação portuguesa em 2017/2018?
Em várias modalidades, maioritariamente colectivas, no final de cada época desportiva para além do MVP (most valuable player), é frequentemente eleito o MIP (most improved player), ou seja, o jogador que mais evoluiu nesse ano.
Na natação, como noutras modalidades individuais, esse é um exercício mais redundante uma vez que a evolução de um nadador é traduzida em marcas cronométricas em cada prova que fez. Mas e se pudéssemos comparar todos os nadadores independentemente da prova que nadassem e elegêssemos aquele que mais melhorou as suas melhores marcas pessoais no espaço de uma época desportiva? Foi isso que fomos tentar fazer e no primeiro de dois artigos começamos pelo sector feminino apresentando as 10 nadadoras que mais evoluíram em 2017/2018. Comecemos antes por explicar o método adoptado:
- Apenas consideramos nadadoras que terminaram a época no top-10 de cada uma das 17 provas individuais do calendário competitivo nacional em piscina longa. Foi apenas considerado o top-10 para garantir que as nadadoras que figuram nesta lista são efectivamente nadadoras de topo nacional. A meio da tabela certamente que encontraríamos muitas nadadoras que sofreram uma grande evolução na presente época, mas a ideia é destacar as nadadoras que deram o salto para o topo em 2017/2018;
- Apenas consideramos nadadoras juniores e seniores por duas razões: 1) Daremos destaque às melhores nadadoras infantis e juvenis da temporada numa futura publicação sobre as revelações da temporada; 2) Nadadoras mais jovens estão num ciclo evolutivo naturalmente mais acelerado e caso as considerássemos teríamos um top sem nadadoras juniores e seniores;
- Para ser possível a comparação, independentemente da prova, consideramos o rácio a cada 100 metros. Por exemplo: se uma nadadora em 2016/2017 tinha de recorde pessoal o tempo de 35.22 aos 50 metros bruços e em 2017/2018 terminou a época com um recorde pessoal de 33.94, terá um rácio de 2,56: (35.22-33.94)x2; se uma nadadora fazia 9:19.14 aos 800 metros livres na época passada e esta época passou a fazer 8:59.57, terá um rácio de 2,45: (9:19.14-8:59.57)/8;
- Aplicamos este modelo ao top-10 de todas as provas e seleccionamos as 10 nadadoras que apresentaram melhor rácio de evolução em 2017/2018 e chegamos ao seguinte top-10:
#10 – Ana Filipa Veiga (CAPGE): 2,01
A nadadora júnior da Gafanha da Encarnação foi a 10ª nadadora que mais evoluiu este ano, com o rácio de 2,01 que conseguiu nos 100 metros bruços. No início da época o recorde pessoal de Ana Filipa era de 1:16.52 e precisamente na última prova desta época melhorou para 1:14.51. O tempo permitiu-lhe ser 6ª classificada no Open de Portugal e medalha de bronze no Campeonato Nacional de Absolutos, coroando uma excelente época da jovem brucista de Ílhavo.
#9 – Inês Teixeira (CDE): 2,16
Mais uma brucista júnior da Associação de Natação do Centro Norte de Portugal. Inês Teixeira é a 9ª do Top graças à evolução que teve nos 50 metros bruços esta época. A nadadora de Estarreja iniciou a época com um recorde pessoal de 35.50 mas no Campeonato Interdistrital de Juvenis, Juniores e Absolutos Piscina Longa que foram nadados em Março na sua terra natal Inês marcou 34.42, o que lhe valeu um rácio de 2,16.
#8 – Alexandra Frazão (CASPAE): 2,29
Alexandra Frazão é uma nadadora que, apesar dos seus 16 anos, há algumas épocas que se vem destacando, mesmo a nível absoluto. Este ano, o seu primeiro no escalão de juniores, esteve em grande plano nos Europeus de Juniores de Helsínquia ao conseguir as melhores classificações femininas da equipa nacional com o seu 10º lugar nos 800 metros livres e o 11º lugar nos 1500 metros livres. E foi precisamente com o tempo que fez nos 1500 metros livres (17:01.21) que obteve o rácio de 2,29. Iniciou 2017/2018 com um recorde pessoal de 17:35.54.
#7 – Letícia André (SLB): 2,32
Mais uma nadadora júnior e uma presença esperada neste top tendo em conta a época protagonizada pela nadadora do Benfica. Foi uma das grandes revelações da temporada chegando aos seus primeiros recordes nacionais individuais e apurando-se para os Europeus de Juniores. Apesar de ter perdido entretanto o seu recorde nacional de júnior-16 anos nos 100 metros livres, foi precisamente com o seu recorde pessoal nessa prova (57.50) que conseguiu o seu maior rácio de evolução. Tinha 59.82 no início da época e tirou 2,32 segundos.
#6 – Rita Frischknecht (SAD): 2,59
A costista cada vez mais especializada na técnica de livres é a primeira nadadora sénior a surgir neste top. Nesta época a nadadora do Algés marca presença nos top-10 das provas de livres dos 50 aos 400 metros, com destaque para o segundo lugar nos 200 metros. Mas foi nos 400 metros livres que Rita mais evoluiu. Iniciou a época com um recorde pessoal de 4:32.51 e terminou com 4:22.17, resultando num “score” de 2,59. Refira-se que Rita só nadou esta prova em piscina longa uma vez esta época. No nacional de clubes da 1ª divisão.
#5 – Raquel Pereira (SAD): 2,68
Segunda nadadora do Algés presente no top. A brucista, a cumprir o seu primeiro ano de sénior, teve uma boa época alcançando o seu primeiro recorde nacional absoluto individual e o seu primeiro apuramento para uma grande competição por absolutos, os Europeus de Piscina Longa. A prova que a traz a esta lista é uma prova que ela já não nadava há algum tempo em piscina longa, os 400 metros estilos. Nadou em 4:58.48 nos Nacionais da 1ª divisão e melhorou os 5:09.21 que tinha de RP, resultando num rácio de 2,68 segundos/100 metros.
#4 – Ana Reis Sousa (CNLA): 2,84
Também é sem surpresa nenhuma que a júnior do Clube de Natação do Litoral Alentejano está nesta lista. Ana Sousa foi uma das grandes revelações da temporada, tendo batido ao longo da época 9 recordes nacionais individuais da categoria júnior-16 anos. Chegou à meia-final dos 200 livres nos Europeus de Juniores e a nível interno foi vice-campeã absoluta dos 100 livres. O tempo que lhe rendeu o rácio de 2,84 foi o dos 800 metros livres. Nadou nos nacionais do Funchal em 9:02.99 e tinha no início da temporada 9:25.73.
#3 – Inês Fernandes (SCP): 3,05
Chegamos ao pódio e no terceiro lugar temos um nome já bem conhecido da natação nacional. Apesar de contar já no currículo com o impressionante total de 55 recordes nacionais, Inês continua a evoluir e este ano esteve em particular destaque na prova de 200 metros estilos sagrando-se campeã nacional absoluta e do Open de Portugal no Jamor. Mas foi o tempo de 2:17.68 que fez na 1ª divisão que passou a figurar como seu novo recorde pessoal. Tinha 2:23.78, melhorando assim 3,05 segundos/100 metros.
#2 – Diana Durães (SLB): 4,36
À partida não se esperaria encontrar neste top uma nadadora que já há tantos anos é uma das melhores nadadoras nacionais, ainda para mais tão bem posicionada, mas o que é certo é que Diana Durães por pouco não foi a nadadora que mais evoluiu esta época em Portugal. A nadadora do Benfica foi ao Meeting de Uster nadar uma prova que já não nadava há 8 anos e, naturalmente, estabeleceu um novo recorde pessoal por larga margem. Falamos dos 200 metros mariposa onde marcou 2:20.62. Tinha de RP 2:29.33, resultando num rácio de 4,36.
#1 – Ana Rita Queiroz (CASPAE): 4,47
E a Most Improved Player feminina da natação portuguesa em 2017/2018 foi…Ana Rita Queiroz! Um título que assenta bem à nadadora júnior do CASPAE que este ano melhorou muito as suas melhores marcas e naquelas que na época passada já eram as suas melhores provas. Ana Rita terminou a época com um tempo muito próximo do mínimo para os Europeus de juniores nos 800 metros livres, mas foi o tempo de 17:35.16 aos 1500 metros livres que lhe garantiram a liderança do top. Trazia da época passada 18:42.16 e, por isso, este ano melhorou 4,47 segundos em cada 100 metros!
2 comments
João Bastos
Agosto 24, 2018 at 8:48 am
Caro Professor, obrigado pelo comentário.
Também pensei fazer a comparação pelos pontos FINA mas como a tabela muda todos os anos aconteciam coisas esta: pela Tabela 2016 uma nadadora que tivesse feito 4:52.14 aos 400E tinha 775 pontos, mas pela Tabela 2017 uma nadadora que tivesse nadado os 400E em 4:50.20 tinha 773 pontos (culpa da Hosszu que baixou muito o recorde do mundo nos JO).
Também podia calcular os tempos todos pela mesma tabela (a de este ano), mas aí encontrei outro problema que tinha a ver com recordes pessoais muito antigos. Por exemplo, os 2:29.33 aos 200M da Diana Durães pela Tabela deste ano valem 542 pontos, mas em 2010, quando foram feitos, valiam 564 pontos. Por acaso não alterava o top porque a Diana ficaria com uma progressão de 107 pontos e a Ana Rita com 114, mas podia influenciar.
Sei que o método que utilizei tem fragilidades porque um nadador que passe de 1:00.00 para 58.00 aos 100L tem o mesmo rácio que um nadador que passa de 53.00 para 51.00, daí tentar minimizar esse efeito limitando a análise ao top-10 de cada prova. Ainda assim, há provas que foram mais competitivas que outras, como é natural.
Cumprimentos!
António Moreira
Agosto 23, 2018 at 11:16 pm
parabens pela analise.
deixo no entanto uma questao, porque nao fazer a seriaçao por tabela de pontuacao?