Glasgow’2018: os melhores Europeus da natação portuguesa
Os Campeonatos da Europa de Natação decorreram na cidade escocesa de Glasgow de 3 a 9 de Agosto e Portugal tem razões para balancear de forma positiva a sua participação
A afirmação formulada no título do presente artigo é factualmente verdadeira se for tido em conta o critério “finais alcançadas” pelos nadadores portugueses, facto desde logo assinalado e facilmente mensurável. Mas não é o único dado retirado dos Campeonatos da Europa de Glasgow que importa salientar e concluir. O presente levantamento estatístico foi elaborado por Vítor Raposo para a Federação Portuguesa de Natação.
Portugal entre os 16 melhores da Europa
Para além do critério já referido, a classificação final do Troféu LEN suporta a conclusão de que de facto estes foram os melhores Europeus para a selecção portuguesa. Portugal pontuou 176 pontos, com as 5 nadadoras portuguesas a contribuírem com 114 pontos e os 7 nadadores portugueses a oferecerem 62 pontos. Esta pontuação “rankeou” o nosso país no 16º lugar, empatado com a Lituânia de Ruta Meilutyte e Danas Rapsys (ambos nadadores medalhados em Glasgow).
Esta foi a melhor classificação de sempre de Portugal neste Troféu, superando o 20º lugar de Berlim’2002. Mas há ainda outros dados a reter, mais facilmente assinaláveis no seguinte quadro resumo:
Tendo em conta o quadro anterior, verifica-se que esta foi a terceira maior delegação portuguesa em Campeonatos da Europa (ex-aequo com outras três participações), os segundos Europeus com maior presença lusa em provas individuais, o Europeu com mais finais e o quinto com mais meias finais.
Como factor negativo, observa-se a relativamente baixa percentagem de obtenção de melhores marcas pessoais do ano e de recordes pessoais, ainda assim distinguindo-se esta edição dos Europeus como a melhor desta década nesse critério.
Em termos de melhor classificação individual, o 5º lugar de Ana Catarina Monteiro nos 200 mariposa foi a terceira melhor classificação portuguesa de sempre, depois da prata de Alexandre Yokochi nos 200 bruços em Sofia’85 e do bronze de Alexis Santos nos 200 estilos em Londres’2016, empatada com o 5º lugar nos 50 costas de Nuno Laurentino em Helsínquia’2000 e nos 200 estilos de Diogo Carvalho em Londres’2016.
Glasgow’2018: os Europeus mais competitivos de sempre
Para além de concluir que a selecção nacional teve a sua melhor prestação de sempre, importa perceber em que circunstâncias o fez. Nuns campeonatos da Europa decorridos a meio do ciclo olímpico, já seria de esperar que em comparação com a edição anterior a edição escocesa fosse mais competitiva (sobretudo porque Londres foi secundarizada por se disputar meses antes dos Jogos do Rio).
E assim foi, como é perceptível no seguinte quadro:
No quadro anterior estão registadas as marcas de acesso às finais e meias finais de todos os Europeus disputados depois do embargo dos fatos de poliuretano e é evidente que foi preciso nadar mais rápido em Glasgow para se ultrapassar as fases a eliminar, com particular ênfase no sector masculino onde apenas os 400 livres tiveram uma final “fechada” num tempo superior que Londres.
Nalguns casos a evolução do nível europeu foi bastante significativa em apenas dois anos. Por exemplo, a meia final dos 100 bruços masculinos fechou num tempo inferior que qualquer final das edições anteriores, assim como os 50 costas femininos.
Neste contexto assume ainda maior relevância Portugal ter-se mostrado à altura da evolução europeia tendo obtido o maior número de finais nos Europeus mais competitivos de sempre.
A afirmação feminina
Se a prestação nacional nos Europeus de 2018 foi a melhor de sempre, muito o deve à evolução da natação feminina. Com efeito, se for apenas considerado o sector masculino, Portugal até teve um desempenho pior que em Londres onde obteve duas finais masculinas com classificações de 3º e 5º lugares. Em 2018, Portugal chegou a duas finais masculinas quedando-se nos 7º e 8º lugares.
De facto, a superação veio do lado das nadadoras portuguesas que numa só edição chegaram a tantas finais como em toda a História da natação portuguesa. Até 2018 Portugal só tinha marcado presença em três finais femininas em Europeus de piscina longa:
- Ana Barros (Sheffield’93) – 8ª nos 100 costas;
- Joana Arantes (Sheffield’93) – 8ª nos 200 mariposa;
- Sara Oliveira (Berlim’2002) – 7ª nos 200 mariposa.
Com os desempenhos de Ana Catarina Monteiro nos 200 mariposa, Tamila Holub nos 1500 livres e Diana Durães nos 400 livres, a presença feminina de Portugal em finais europeias duplicou, passando o sector feminino, inclusive, a fazer algo que nunca o sector masculino conseguiu: chegar a três finais numa só edição dos Europeus.
Para além do número de finais, também na classificação as senhoras chegaram mais além. O 5º lugar de Ana Catarina Monteiro passou a ser a melhor classificação feminina de sempre, sendo que os 7ºs lugares de Tamila e Diana são as segundas melhores classificações igualadas com a classificação de Sara Oliveira em 2002.
Rumo a Budapeste
Em 2020 os Campeonatos da Europa voltam a disputar-se em Budapeste, onde já aconteceram por quatro vezes. Depois do sucesso da edição de 2018, impera perspectivar já a próxima edição, uma edição que se disputa em ano olímpico, o que traz os seus prós e contras.
Como principal pró, podemos indicar o facto de os próximos Europeus se disputarem no mesmo ciclo olímpico que estes, o que significa que é expectável que os 12 nadadores portugueses que se qualificaram para Glasgow estejam em condições de serem candidatos a marcar presença na próxima edição dos Europeus, sendo ainda natural que outros se lhes juntem.
Assim, e mesmo a dois anos de distância, é admissível que possamos assistir ao alargamento do grupo de elite da natação portuguesa. Ultrapassar os 15 apurados de 2002 pode ser um pré-objectivo interessante.
E aos 12 é fácil juntar uma mão cheia de candidatos:
- José Paulo Lopes, que já nadou abaixo do mínimo aos 400 estilos;
- Francisco Santos, que este ano ficou a 17 centésimos do apuramento aos 200 costas;
- Ana Pinho Rodrigues, que terminou a época a 34 centésimos do mínimo aos 50 livres;
- Luiz Pereira, que ficou a 44 centésimos do mínimo aos 100 mariposa;
- Vários jovens nadadores de quem se espera forte evolução nos próximos dois anos, como Inês Henriques, Ana Sousa, Letícia André, Alexandra Frazão, Rafaela Azevedo ou Filipe Santo.
Em relação aos contras, será pouco provável que seja nos próximos europeus que a percentagem de recordes pessoais e melhores tempos da temporada irá subir, visto não se tratar da principal competição da temporada, mas o que é fundamental para a natação portuguesa é que após Budapeste 2020, Glasgow 2018 passe a ser o segundo melhor Europeu de sempre.