Bis de Rasovszky na semana perfeita de Anderson

João BastosJunho 12, 20188min0
A elite mundial das águas abertas voltou ao Sado para nadar a etapa setubalense da Taça do Mundo da modalidade. O húngaro Kristoff Rasovszky e a norte-americana Haley Anderson foram os grandes vencedores

A etapa de Setúbal da Taça do Mundo de Águas Abertas disputou-se no passado dia 9 de Junho no cenário do Parque Urbano de Albarquel. Uma etapa que já tinha história para contar ainda antes do tiro de partida.


A terceira etapa do circuito mundial de águas abertas deste ano foi disputada em Setúbal, no local que já acolheu dois apuramentos olímpicos e que é conhecido como o Santuário das Águas Abertas em Portugal.

Este ano, Setúbal voltou a entrar para a história da modalidade por ser a primeira prova FINA onde o uso do fato isotérmico foi obrigatório, na sequência do termómetro marcar 17ºC de temperatura da água. Foi, por isso, com curiosidade acrescida que se assistiu à prova para perceber que efeitos teriam os fatos no desempenho dos melhores do mundo.

Para completar os 10 km, os nadadores teriam de completar 6 voltas ao circuito setubalense, enfrentando também o forte vento que se fez sentir na baía do Sado.

A edição deste ano foi das mais recheadas de grandes nomes de que há memória. No sector masculino, destaque para o campeão olímpico e mundial dos 10 km, Ferry Weertman e para o bi-campeão da Taça do Mundo, Simone Ruffini. No lado feminino contava-se a presença da campeã olímpica de 2016, Sharon van Rouwendaal, a campeã mundial dos 25 km, Ana Marcela Cunha, a vencedora do circuito em 2017, Arianna Bridi e a campeã de 2015 e 2016, Rachele Bruni.

Foto: Luís Filipe Nunes/FPN

Contamos-lhe o filme das provas masculina e feminina:

Kristoff Rasovszky, o rei de Setúbal

A prova masculina começou com grande entusiasmo para o público português. De forma destemida, José Paula Carvalho veio para a frente do pelotão e marcou um ritmo vivo desde o início. O nadador da União Piedense no final da primeira volta era o primeiro a passar na zona de reabastecimento. E não foi o único português a dar nas vistas no início da prova, já que o júnior Tiago Campos passava no 5º lugar ao cabo dos primeiros 1600 metros.

No entanto, não foi possível resistir à estratégia germânica que, quer no sector masculino, quer no sector feminino, consistia em colocar toda a equipa na frente e colocar os principais candidatos em dificuldades.

Assim, Rob Muffels, Andreas Waschburger e Marcus Herwig assumiram o controlo da prova, mas tinham algumas pedras no sapato das quais não se conseguiam desenvencilhar, nomeadamente o vencedor de Setúbal em 2017, Kristoff Rasovszky e o holandês Marcel Schouten que deram a provar aos alemães o seu próprio veneno e a partir dos 5 km aceleraram a prova, de forma que apenas Muffels conseguiu seguir no ritmo do húngaro e do holandês.

Muffels tinha sido segundo em Setúbal no ano passado e sabia bem o perigo que representava Rasovszky, sobretudo se o deixasse ir embora. Por isso, foi o próprio alemão que tentou descolar os adversários e num primeiro momento pareceu bem sucedido, mas foi pura ilusão. A partir dos 6 km o jovem húngaro começou numa galopada que seria incontrariável e começou aí uma caminhada solitária e triunfal até à meta, voltando a dar uma mostra de força impressionante, sobretudo tendo em conta que Rasovszky tem apenas 21 anos.

O húngaro venceu com 25 segundos de vantagem sobre o italiano Mario Sanzullo que fez uma prova de trás para a frente (à entrada da última volta era apenas 10º classificado). No terceiro lugar chegou o britânico Jack Burnell, com o campeão olímpico Ferry Weertman a chegar na 4ª posição, mas a assumir a liderança da Taça do Mundo.

Foto: Luís Filipe Nunes/FPN

Rob Muffels pagou caro o esforço de tentar descolar Rasovszky e acabou apenas na 21ª posição.

Quanto ao húngaro, campeão do mundo de juniores de 2016, afirma-se cada vez mais como o grande nome das águas abertas num futuro próximo. Foi em Setúbal, no ano passado que ele ganhou a sua primeira prova de elites e desde aí ninguém tem ganho mais do que ele. Desde Setúbal 2017, foram disputadas 8 etapas da Taça do Mundo e Rasovszky venceu 4 e fez o que só o alemão Thomas Lurz (o maior vencedor de etapas da Taça do Mundo de sempre) fez: vencer duas vezes consecutivas em Setúbal. Um fenómeno, sem dúvida!

Quando aos portugueses, Tiago Campos confirmou a excelente prova que vinha fazendo e foi o melhor luso logo na estreia numa etapa da Taça do Mundo, terminando na 31ª posição. Foi ainda o melhor júnior em competição o que é um bom indicativo a apenas 5 semanas do Europeu de Juniores.

O tetra-campeão nacional dos 10 km, Rafael Gil foi o 40º classificado e José Carvalho foi o 45º.

Haley Anderson, 3 anos depois

Como já aqui referimos, era difícil pedir um alinhamento feminino mais forte para Setúbal. Das grandes referências mundiais das águas abertas só não esteve presente a francesa Aurélie Muller, campeã mundial dos 10 km. De resto, com nomes como Sharon van Rouwendaal, Ana Marcela Cunha, Rachele Bruni, Arianna Bridi, Haley Anderson, Samantha Arevalo, Viviane Jungblut, Xin Xin, Finia Wunram, Angela Maurer, Anna Olasz, Martina Grimaldi e a revelação da temporada Leonie Beck em prova, o espectáculo estava garantido.

Entre as melhores do mundo também se contava a portuguesa Angélica André que vinha de um fantástico 5º lugar na etapa de Gravelines da Taça LEN.

Se na prova masculina os alemães assumiram a liderança aos 2 km, na prova feminina as alemãs vieram para a frente assim que ouviram o tiro de partida. Lideradas pela nadadora mais experiente do circuito, Angela Maurer, a locomotiva germânica composta também por Svenja Zihsler, Leonie Beck, Lea Boy, Finnia Wunram e Sarah Bosslet veio para a frente para não deixar fugir ninguém.

Junto das germânicas seguiam as duas norte-americanas, Chase Travis e Haley Anderson. Estranhamente, o outro bloco que costuma liderar o pelotão feminino nas etapas da Taça do Mundo (as italianas) cedo ficou muito para trás. Os transalpinos desde sempre foram dos mais fortes opositores à utilização dos fatos isotérmicos e se na prova masculina nem se podem queixar, já que tiveram Sanzullo no pódio, no sector feminino as italianas passaram completamente “ao lado” da prova (só Giulia Gabbrielleschi deu um ar de sua graça).

Na liderança da prova, as germânicas sentiram como cada vez mais incómoda a presença das duas norte-americanas que a pouco e pouco foram aumentando o ritmo, até que a meio da prova entra em equação a mais temível das adversárias, a holandesa Sharon van Rouwendaal que veio de trás para partir por completo o pelotão.

Com capacidade para seguir a campeã olímpica só mesmo a vice-campeã olímpica de 2012, Haley Anderson e a surpreendente australiana Kareena Lee.

Este trio fez junto praticamente todos os segundos 5 km, deixando apeadas as germânicas que vinham a tentar minimizar as perdas.

No entanto, o pódio já estava definido. Faltava saber a ordem. Na última bóia, a americana tomou a liderança e os últimos 400 metros foram de um intenso sprint entre ela e a holandesa que à entrada do funil chegou a parecer com capacidade de vencer a prova, mas Anderson ainda tinha reservas e foi mesmo a primeira a bater na meta.

Haley Anderson já vinha de uma vitória na semana anterior em Gravelines e terminou assim uma semana de sonho, ela que não vencia uma etapa da Taça do Mundo desde 2015 (a única que tinha no currículo até agora). Kareena Lee levou o bronze.

Foto: Luís Filipe Nunes/FPN

Nas contas do circuito, Sharon van Rouwendaal ascendeu à liderança ultrapassando as anteriores líderes Ana Marcela Cunha e Leonie Beck.

Quanto a Angélica André, viu-se forçada a abandonar com dores no ombro, não podendo repetir a excelente prestação que tinha tido na época passada (foi 8ª classificada).

A etapa de Setúbal da Taça do Mundo volta em Junho de 2019, enquanto o circuito segue para a Hungria, onde já no próximo fim-de-semana se disputará a etapa do lago Balanton.


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