1ª divisão masculina – Estória do histórico heptacampeonato do Sporting
A equipa masculina do Sporting Clube de Portugal continua a coleccionar campeonatos nacionais de clubes. No passado fim-de-semana tornou-se na primeira equipa masculina com 7 campeonatos consecutivos. Passamos em revista a prestação dos verde e brancos, bem como os restantes pontos altos do Campeonato Nacional de Clubes da 1ª divisão masculina
No início Deus criou o céu e a terra e ao sétimo dia Deus descansou, mas não foi ao sétimo ano que a equipa masculina do Sporting descansou de ganhar a 1ª divisão. Do aguardado duelo com o Benfica aos destaques paralelos da competição, contamos a história dos campeonatos de 2018.
Rivalidade declarada
Todos os prognósticos apontavam para que esta edição da 1ª divisão tivesse dois fortes candidatos ao título. Os hexacampeões Sporting e os vice-campeões Benfica, com o FC Porto à espreita de qualquer deslize dos adversários. Os 400 livres vieram mostrar que os prognósticos estavam certos e que os campeonatos prometiam uma boa dose de imprevisibilidade. Concluída a primeira prova, o Sporting com Juan Tolosa (2º) e Tiago Costa (7º) seguia com os mesmos pontos que o Benfica com Miguel Nascimento (4º) e Filipe Santo (5º).
Mas enquanto os rivais da segunda circular se mediam, o júnior do Sporting de Braga, José Paulo Lopes, começava a dar os primeiros passos em direcção a ser o MVP individual da competição. Venceu os 400 livres com novo recorde nacional júnior-18 anos e mínimo para os Europeus de Juniores, com o tempo de 3:57.18.
Voltando aos candidatos ao título, a segunda prova – 50 mariposa – não veio prestar grandes esclarecimentos sobre que equipa era mais favorita. O Benfica venceu por intermédio de Luiz Pereira, mas o Sporting fez mais pontos com Alexis Santos a ser 2º e Igor Mogne a ser 4º. Com Guilherme Dias no 8º lugar, os sportinguistas conseguiam apenas mais 2 pontos que os encarnados. Destaque para o nadador do Famalicão, Pedro Fernandes, que foi 3º classificado, deixando perceber desde logo que o Fama tinha argumentos para fazer uns campeonatos bem melhores que os da época passada (foi último na 1ª divisão em 2016/2017).
Todos os Santos ajudam
Ao fim de duas provas tudo estava praticamente como no início, mas os 100 costas vieram começar a clarificar melhor as coisas. Francisco Santos teve um fim-de-semana bastante inspirado e pela primeira vez na carreira baixou dos 57 segundos aos 100 costas. Fez 56.78, passando a ser o 9º português a baixar dos 57”. Contudo a vitória na prova foi para o Porto e para Juan Segura, que venceu em 56.16. Mas no somatório dos pontos foi mesmo o Sporting o melhor na prova, com João Vital a classificar-se no 4º lugar, totalizando a equipa do Sporting 44 pontos, mais 16 do que os que o Benfica fez com João Correia e Rafael Aires.
Depois de Francisco, entrou em acção outro Santos, neste caso Alexis na sua melhor prova, os 200 estilos. Depois de ter sido segundo classificado nos 50 mariposa, nos 200 estilos não deu hipótese e venceu com o tempo de 2:00.51, tempo que constitui mínimo de acesso aos Campeonatos da Europa de Absolutos. No segundo lugar chegou José Paulo Lopes, conseguindo obter o seu segundo mínimo para os Europeus de Juniores e desta vez também para os Jogos Olímpicos da Juventude, com a marca de 2:03.66, mas não foi o único júnior em prova a conseguir os mínimos, nem foi o único nadador do Braga. O seu colega de equipa, Jorge Silva, também se apurou para as duas competições nadando em 2:06.92. A jovem dupla fez com que o Braga fosse a equipa mais pontuada dos 200 estilos com 41 pontos.
O Sporting ganhou mais 8 pontos ao Benfica nesta prova e foi com uma margem tranquila para a primeira estafeta, os 4×100 metros livres.
Quarteto fantástico
O Sporting foi tranquilo para os 4×100 livres mas nem por isso tirou o pé do acelerador. A primeira estafeta da competição previa-se bastante equilibrada entre os dois candidatos. Do lado do Sporting Alexis Santos e Igor Mogne, já muito experientes a nadar esta distância e esta estafeta, tinham a companhia do costista Francisco Santos e sénior de primeiro ano Tiago Costa. Do lado do Benfica, Miguel Nascimento e Luiz Pereira eram os nadadores com melhores recordes pessoais em 100 livres e juntavam-se a Guilherme Dias e David Leiria.
Os sportinguistas constituíram uma equipa muito equilibrada, com os quatro nadadores a nadar no segundo 51 e isso foi determinante para a vitória e para o resultado final de 3:25.77, novo recorde nacional sénior. Do lado do Benfica, destaque para Guilherme Dias que pela primeira vez nadou 100 livres abaixo de 51 segundos, mesmo em estafeta.
O Porto foi terceiro, como já era de prever, e no quarto lugar chegou o CNAC, com Mário Pereira a mostrar que ia ser nestes nacionais o nadador determinante que foi há alguns anos.
Protagonismo a meio da tabela
No final da primeira sessão o Sporting comandava com 28 pontos de avanço sobre o Benfica, mas o título estava longe de estar entregue, até porque na primeira prova da 2ª sessão, os 200 mariposa, o Benfica apresentava uma forte dupla, composta por Luiz Pereira e pelo júnior Tiago Cordeiro. Tiago foi mesmo o grande destaque da prova ao apurar-se para os Europeus de Juniores e para os Jogos Olímpicos da Juventude com o tempo de 2:03.03, que lhe valeu o 3º lugar. Luiz foi 6º e o Benfica foi a equipa mais pontuada, mas por pouco, já que João Vital foi 2º classificado e Pedro Pinotes 8º.
A vitória foi para Nuno Quintanilha, o nadador que representou Portugal nesta prova nos últimos Europeus, aqui a vencer com autoridade em 2:00.82.
Nas provas de bruços nem os nadadores do Sporting nem os do Benfica eram candidatos à vitória, mas a dupla sportinguista, Miguel Cruchinho/António Mendes, saiu-se melhor que a dupla benfiquista constituída pelo juvenil-B Ricardo Pereira e pelo júnior Daniel Catalão.
Mais um grande resultado para o CNAC, com a vitória de Tomás Veloso e uma prova para o Porto se aproximar dos rivais com o 2º lugar de Alexandre Amorim e o 4º lugar de Jaime Morote. Os Belenenses tiveram uma excelente sequência de provas que os retirou da zona de despromoção onde militavam no final da primeira sessão para o meio da tabela no final da segunda. Francisco Quintas foi 3º nos 100 bruços.
Bis de Igor em 10 minutos
Continuamos a destacar a carreira d’Os Belenenses e a sua fantástica segunda sessão dos nacionais de clubes. Bruno Ramos foi o 2º classificado numa prova de 200 livres onde alinhavam nomes como Miguel Nascimento, Oskitz Aguilar, Tiago Costa ou José Carvalho. Só não superou Igor Mogne que ofereceu a 3ª vitória ao Sporting nadando muito perto do seu recorde pessoal.
10 minutos depois voltou à piscina com a equipa de 4×100 estilos do Sporting para bater o recorde nacional absoluto. Francisco Santos voltou a nadar abaixo de 57 segundos o percurso de costas e melhorou o seu RP para 56.64, Alexis Santos foi a meia surpresa na técnica de bruços. Só lhe faltava mesmo nadar este percurso nesta estafeta em campeonatos da 1ª divisão e Alexis mostrou que está cada vez melhor a bruços. Fez 1:02.55 e foi o mais rápido na piscina. Igor Mogne nadou os 100 mariposa em 55.48 e Tiago Costa, que também tinha nadado 10 minutos antes os 200 livres, cumpriu o seu percurso em 51.43, fechando a estafeta no tempo de 3:46.10, superando o tempo da Amadora que era recorde nacional absoluto desde 2012.
Com estas duas vitórias consecutivas, o título já começava a ficar definido. O Sporting foi para o segundo dia de competições com 55 pontos de avanço e iniciava a segunda jornada com aquela que era a prova onde tinha mais garantias: os 1500 metros livres.
Com uma dupla composta por Guilherme Pina e Juan Tolosa, fazer a dobradinha era um feito com uma probabilidade elevada.
E assim foi, apenas não foi pela ordem esperada. Juan superou Guilherme, mas o pleno foi alcançado para os verde e brancos. No terceiro lugar chegou José Paulo Lopes que também estava numa missão de fazer mínimos para os Europeus de Juniores em todas as provas que nadasse. Aqui ainda fez melhor: nadou uma prova e fez três mínimos de uma assentada – mínimo para os Europeus de Juniores aos 1500 com o tempo de 15:46.10 e na passagem aos 800 com 8:15.54, que também deu mínimo para os Jogos Olímpicos da Juventude (a prova dos 1500 metros livres não faz parte do calendário dos JOJ). O Benfica tinha uma boa dupla, mas ambos os nadadores não conseguiram produzir o que melhor sabem fazer. Filipe Santo foi 5º e João Machado foi 15º.
Alexis, o velocista
O Sporting não quis ganhar o heptacampeonato de qualquer maneira. Quis mostrar que é de facto uma equipa versátil com soluções para todas as provas. Por isso, depois de fazer a pontuação máxima na prova mais longa do programa, venceu também a prova mais curta do programa, ou seja, os 50 metros livres, prova onde Alexis Santos alinhou na pista 8 e bateu primeiro na parede com o tempo de 23.15.
Veio outra prova de bruços (os 200 metros) e as equipas protagonistas voltaram a mudar, mas o protagonista maior foi o mesmo que na prova de 100: Tomás Veloso, que venceu também os 200 metros com Hugo Pon do Algés e Rafael Simões do Braga no seu encalço. Um parêntesis para referir o excelente campeonato da equipa masculina do Algés que no final da primeira jornada estava no pódio à frente do Porto.
Porém, a segunda jornada foi mais favorável ao Porto do que ao Algés, uma vez que tinha Juan Segura a nadar duas provas no período da manhã. Nos 50 livres foi 2º classificado e nos 50 costas foi 1º, trocando de posições com Alexis Santos. Também nos 50 costas o Sporting foi a equipa mais pontuada com Francisco Santos a ocupar a terceira posição.
O Benfica respondeu logo de seguida, nos 100 mariposa, com Luiz Pereira a ocupar o primeiro lugar e Miguel Nascimento o terceiro. Entre os dois ficou Nuno Quintanilha.
Vitalidade na obtenção do mínimo
A sessão da tarde da segunda jornada começou como a primeira: com a vitória do Sporting. João Vital não esperou por ninguém e dominou os 400 estilos de ponta a ponta. O nadador do Sporting já tinha feito um tempo muito próximo dos 4:23.04 requeridos para aceder aos Europeus de Glasgow, durante o Meeting Internacional de Lisboa. Desta feita nadou bem abaixo desse tempo com uma fantástica marca de 4:18.46 que faz dele o terceiro melhor português de todos os tempos e o actual quarto melhor nadador europeu da temporada.
Na mesma prova continuava a desenrolar-se a saga de José Paulo Lopes. Mais um mínimo para os Europeus de Juniores com 4:25.30, que curiosamente também fazem dele o quarto melhor europeu da temporada, mas nos escalões sub-18.
Seguiu-se mais uma prova de 100 metros e mais uma vez o Benfica a levar a melhor. Miguel Nascimento, que não se apresentou nas melhores condições de saúde nestes campeonatos, conseguiu, ainda assim, vencer os 100 livres. Guilherme Dias voltou a ter um excelente desempenho e terminou na 3ª posição, com Juan Segura a voltar a fazer muitos pontos para o Porto com o seu 2º lugar.
Mais uma vez, a uma boa prova do Benfica, o Sporting respondeu com uma prova ainda melhor. Segunda dobradinha para o Sporting, desta vez nos 200 costas. Francisco Santos teve uns campeonatos de sonho e renovou todos os seus recordes pessoais na técnica de costas. Marcou 2:01.98. Apenas 40 minutos depois de nadar a desgastante prova de 400 estilos, João Vital voltou para nadar a desgastante prova de 200 costas e foi segundo classificado.
Tomás Veloso não conseguiu fazer o pleno das provas de bruços, e de facto os 50 metros eram a prova menos ao seu jeito. Foi terceiro com Francisco Quintas a vencer no tempo de 29.03 e o portista Alexandre Amorim a ser segundo classificado a apenas 3 centésimos do nadador d’Os Belenenses.
O regresso do quarteto fantástico
À entrada da última prova, já tudo estava decidido, quer no topo da tabela, quer nas restantes posições. A única incógnita nos 4×200 metros livres era se o Sporting – actual recordista nacional absoluto – venceria com ou sem recorde.
Os eleitos para nadar a estafeta foram os quatro suspeitos do costume: Tiago Costa, Igor Mogne, Francisco Santos e Alexis Santos. Tiago e Igor começaram em ritmo de recorde. 1:52.50 para Costa e 1:51.08 para Mogne. Francisco tinha nadado há pouco tempo os 200 costas e ressentiu-se disso não conseguindo nadar no seu melhor. Fez 1:55.37. Alexis foi o único na piscina a nadar abaixo de 1:50. Fez 1:49.15 para um tempo final da estafeta de 7:28.10, perto do recorde nacional de 7:27.46, mas insuficiente.
O Benfica chegou no segundo lugar e o CNAC fez mais uma excelente estafeta, chegando no terceiro lugar.
José Paulo Lopes não conseguiu despedir-se dos nacionais sem mais um mínimo para os Europeus de Juniores. Abriu a estafeta do Braga em 1:53.29 e terminou a competição com um recorde nacional júnior-18 anos, seis mínimos para os Europeus de Juniores e dois mínimos para os Jogos Olímpicos da Juventude.
Para a posteridade fica o inédito heptacampeonato para o Sporting que somou 713 pontos, vencendo 9 em 19 provas.
A classificação final masculina ficou assim ordenada:
As contas da bisca
No lançamento dos nacionais de clubes da 1ª divisão o Fair Play fez o prognóstico para cada uma das 12 equipas presentes. Vejamos quão certeiros foram os palpites:
No que respeita aos prognósticos, acertámos no top-5 e de facto a diferença pontual entre os 5 primeiros evidencia que era um prognóstico fácil. Antecipávamos, sim, que o Benfica terminasse mais próximo do Sporting e que o Porto ficasse mais próximo do Benfica.
Depois do top-5, Os Belenenses foi o clube em evidência pela positiva. Os rapazes do clube do Restelo conseguiram a mesma classificação das raparigas. Como referimos na altura da antevisão, a equipa d’Os Belenenses estava muito dependente da forma do seu trio composto por Quintas, Quintanilha e Ramos e eles estiveram em grande nível conseguindo 6 posições de pódio (só SCP, SLB e FCP conseguiram mais).
O Fama desceu uma posição face aos nossos prognósticos mas não foi porque a prestação dos seus nadadores tivesse sido pior do que o esperado, foi mais por via da superação da equipa do CFB.
O CNAC foi, para nós, a grande surpresa. Apontávamos a equipa de Coimbra aos lugares de descida o que seria, à partida, pouco compreensível, uma vez que era a equipa 4ª classificada do ano passado e tem nadadores internacionais como Tomás Veloso e Mário Pereira, mas as perdas na equipa numa edição onde a profundidade dos plantéis é fundamental e ainda o facto de Mário Pereira não competir com regularidade há algum tempo levava-nos a crer que a manutenção ia ser muito difícil para a equipa que estava a jogar em casa. Nada mais errado. Mário Pereira esteve sublime nas suas novas tarefas de sprinter e há ainda a destacar a excelente progressão do júnior Lucas Bastos que foi fundamental na classificação final da equipa. Para além, obviamente, do nadador que mais pontos deu à equipa, Tomás Veloso, mas dele já se esperava que assim fosse.
Excelente desempenho também do Colégio de Monte Maior. Tínhamos indicado que a equipa de Loures se ia classificar no 10º lugar mas que do 8º ao 10º seria tudo muito apertado. O CIMM com uma equipa homogénea e com um juvenil capaz de fazer pontos como gente grande (Diogo Costa), acabou por ficar uma posição acima da nossa perspectiva. É apenas uma posição mas muda tudo, já que é o 10º dava descida e o 9º dá permanência.
Pior sorte teve o Estrelas São João de Brito. No ano passado terceiro classificado, este ano também foi terceiro, mas a contar do fim. Não é justo comparar esta equipa do ESJB com a do ano passado, já que mudou praticamente toda. A equipa deste ano do Estrelas tinha potencial para mais, mas o nadador de maior valia – Oskitz Aguilar – acabou por estar longe do melhor que sabe fazer (e o melhor que sabe fazer é mesmo muito bom) e o Estrelas ressentiu-se. Esta foi a equipa mais prejudicada pelo novo modelo dos nacionais, uma vez que era a equipa com o plantel mais curto em competição.
Os Galitos de Aveiro também se ressentiram do estado de forma do seu melhor nadador, Diogo Carvalho. Mas, de qualquer forma, se Diogo vencesse as suas quatro provas, só acrescentaria mais 19 pontos às contas do CGA, o que se manteria insuficiente para a manutenção.
Finalmente a SFUAP encontrou as dificuldades que antevíramos. O ponto fraco da SFUAP acaba por ser também uma oportunidade, isto é, a equipa da Cova da Piedade apresentou a equipa mais jovem em competição. A inexperiência foi um ponto fraco na 1ª divisão mas é uma oportunidade para a evolução da equipa que a pode levar a regressar rapidamente à 1ª.
O ESJB, o CGA e a SFUAP trocam assim de divisão com Fluvial Vilacondense, Fluvial Portuense e Leixões