O esporte e o poder da superação
A mudança
Não faz muito tempo, eu, Renan, vim morar em Lisboa. Vindo do Brasil, São Paulo, passei a vida inteira em uma grande metrópole, onde desde os meus 18 anos (estou com 32), me locomovi para todos os lados de carro.
Chegando em Lisboa, me adaptei à cidade e passei a me locomover via transporte-público. Estou adorando, a cidade é linda e, pelo menos para mim, o transporte funciona.
Mudar, de corpo e alma
Além da beleza natural e da história da cidade contada a cada esquina, reparei no número de pessoas invisuais que se ”aventuram” pela cidade diariamente. Todos vivendo a vida, dia-a-dia, assim como eu.
O invisual tem dificuldades para realizar algumas atividades, pois quase nada é apropriado para eles e a tecnologia está presente apenas nas melhores cidades do mundo em desenvolvimento humano.
O lutador Ronald Dlamini, campeão meio-médio de MMA sul-africano em 2009, é um exemplo de homem que usou os problemas que a vida nos traz para fazer história. Mamba Negra, como é chamado desde o seu início no MMA em alusão a uma das cobras mais ágeis e mortais do mundo, teve seu destino mudado em 2012.
Após voltar de uma luta na Nova Zelândia, na qual se saiu vitorioso, ele começou a sentir dores na cabeça. Diagnosticado com meningite, ficou internado e em coma por 10 dias em um hospital e, ao acordar, estava totalmente cego. Em relatos, Mamba diz que perdeu a cabeça, perdeu a identidade, perdeu o foco, brigou com Deus e chorava muito.
Completamente perdido na vida, foi atrás de estudos e buscou cursar uma faculdade, mas com o passar do tempo ficou nítido que ele tinha vindo ao mundo para ajudar os outros. A vida para as pessoas que sofrem dessa deficiência não é fácil. Estudos dizem que elas se tornam mais frágeis à violência urbana, furtos, assaltos e até estupros. Lamentável.
A volta por cima
Após perceber isso, Ronald entendeu que seu destino era ensinar pessoas que tinham a mesma deficiência que ele e, de quebra, aprender com elas a desfrutar de um novo estilo de vida. O, então professor, começou a ensinar os invisuais as técnicas do MMA, além da auto defesa, competitividade e boa forma. As práticas esportivas deram novos ares tanto ao mais novo professor, como para seus alunos.
Hoje situado em Durban, cidade no Sul da África, Mamba refinou outras técnicas para o seu próprio desenvolvimento como o tato, a audição e o faro. Em entrevistas, ele diz que sabe exatamente quanto pesa o seu oponente apenas com o poder do toque e sabe muito bem o nível de cansaço dos seus rivais apenas pelo barulho da respiração. Com essas novas habilidades, nosso campeão Sul-Africano vai disseminando seu conhecimento das lutas e dos desafios que vieram com elas para outras pessoas que, muitas vezes, nem sequer pensaram em fazer algum esporte.
Espero que, com isso, novos professores como Ronald aparecam, inclusive em Portugal, país onde dados do Instituto Nacional de Estatística apontam uma existência de cerca de 160 mil pessoas com a deficiência visual.
One comment
Claudio Tesolin
Março 21, 2018 at 1:12 am
Parabéns pela matéria. Um grande exemplo de superação.