Judo: competitividade precisa-se!
Com o circuito mundial ao rubro, estamos na fase crítica do período de qualificação para Paris 2024, e apesar dos resultados conquistados, não só no circuito, mas também nos Campeonatos da Europa, o judo “interno” não têm tido o destaque que assistimos em tempos, especialmente pela pouca competitividade, tornando evidente que há sinais preocupantes e que exigem uma reflexão…
Campeonatos Nacionais de equipas 2023
O multiusos de Odivelas recebeu, no final de outubro, os campeonatos nacionais de equipas/clubes. Se por um lado a competição masculina prometia alguma emoção, apesar de hegemonia da equipa do Sporting, por outro não era claro se teríamos competição feminina, pelo facto do reduzido número de inscrições, mais exatamente, só duas equipas…
Das duas equipas femininas inscritas, uma acabou por desistir e cancelar a participação, ficando a equipa do Sport Algés e Dafundo-SAD sozinha na corrida para o título. Estranha, ou “inovadora”, pelo menos no judo, foi a decisão de atribuir o título à equipa feminina do SAD, apesar de não ter sido disputado um único combate. Se temos assistido a este tipo de procedimento em outras modalidades de combate, talvez mais viradas para o negócio e marketing, o que justifica que ninguém venha de mãos a abanar de um campeonato, no judo é algo inédito, ou raramente visto e que sinceramente não faz sentido e é desprestigiante.
O mérito e qualidade da equipa feminina do SAD é inquestionável. Uma equipa com muita juventude, talento e qualidade, prova que se está a trabalhar muito bem neste clube. Na minha opinião, tirando a equipa feminina do Sport Lisboa e Benfica-SLB, na máxima força, é a melhor equipa feminina da atualidade.
A competição masculina foi emocionante, bem disputada, e o Sporting acabou por ser o justo vencedor, apesar de a competição só ter contado com 9 equipas. O Sporting contou com a presença dos seus melhores atletas, com destaque para os atletas internacionais Jorge Fonseca e João Fernando, que deram um toque de qualidade a esta competição. Na final, o Sporting derrotou a jovem equipa do SAD e conquistou o 6.º título consecutivo. Na terceira posição ficaram as equipas da Associação Académica de Coimbra e da Universidade Lusófona.
Campeonatos Nacionais de individuais 2023
Tal como no campeonato nacional de equipas, a competição individual, que decorreu a meio de novembro, teve lugar no multiusos de Odivelas, novamente a sede do judo nacional…
A competição individual ficou marcada pela fraca participação, na minha opinião preocupante, com diversas categorias a contarem com a presença de… 2 atletas?! Em tempos, e já tive oportunidade de escrever sobre esta realidade, os campeonatos nacionais eram uma empolgante, emocionante e disputada competição. Eram os prestigiados e empolgantes Campeonatos Nacionais onde todos queriam participar!
Em jeito de balanço, o Benfica acabou no topo do quadro de medalhas, com três títulos e um bronze, seguido do SAD com dois títulos, uma prata e 3 bronzes. Parabéns aos medalhados!
Para terminar destaco a iniciativa da Federação Portuguesa de judo-FPJ, de organizar em simultâneo com esta que é a mais importante prova do calendário nacional, os campeonatos nacionais de judo adaptado e paralímpico. A inclusão é fundamental e a FPJ está a dar o devido destaque a esta realidade.
“Lá fora”
Nas competições realizadas no estrangeiro, Portugal voltou a registar resultados bastante positivos. Nos campeonatos da europa do escalão sub 23, que decorreram em Potsdam, na Alemanha, o grande destaque foi Tais Pina, que conquistou o bronze da categoria dos 70Kg e o 5.º lugar de Raquel Brito nos 48Kg. Curiosamente, ou não, duas atletas do SAD!
No que respeita ao circuito mundial, a derradeira etapa visitou Tóquio e decorreu no início do mês de dezembro. Mais de 500 judocas, a representarem um total de 84 países, lutaram pela glória de conquistar uma medalha nesta emblemática, e lendária, etapa! Portugal apresentou uma equipa com muita juventude, a maior parte estreantes a este nível, e logo em Tóquio! É importante que se dê inicio ao processo de renovação, que os jogos de Los Angeles 2028, estão aí à porta!
O destaque vai para Catarina Costa, a judoca da Associação Académica de Coimbra, que voltou a dar uma cabal demostração de que está num excelente momento. Depois da prata nos campeonatos da europa de Montpellier, repetindo o resultado dos europeus de 2022, assistimos, novamente, a uma prestação de muita qualidade, assertiva, resiliente e “letal” quando era preciso! Catarina tem legitimas aspirações a melhorar o resultado dos últimos jogos olímpicos, onde terminou, recordo, num honroso 5.º lugar, mesmo à porta das medalhas.
Também destaco Bárbara Timo, que terminou na 5.ª posição dos 63Kg. Ainda que sendo um bom resultado, no entanto, foi evidente alguma desconcentração em momentos cruciais e, por isso, deixando fugir a merecida medalha. Bárbara tem muita qualidade, é uma judoca completa, e terá de limar estas arestas. Apesar de já não ser uma “jovem”, constatando-se cada vez mais que o fator “idade” é subjetivo e não reflete a realidade, é evidente que tem potencial para chegar ainda mais longe e lutar por um pódio olímpico. Bárbara já conta no seu currículo com duas medalhas em campeonatos do mundo, uma prata na cat. dos 70 Kg do mundiais de Tóquio de 2019, e um bronze já na cat. dos 63Kg, nos mundiais de Tachkent de 2022.
Para terminar, ficam os votos de Boas Festas para todos e a esperança que a prenda no sapatinho, seja a confirmação que Portugal recebe a primeira etapa do circuito mundial de 2024….