Joe Louis, o “Bombardeiro Negro” que desafiou Hitler
O ano de 1937 é um ano que podemos recordar de forma trágica…
Em 26 de abril, as forças nazi-fascistas bombardeiam a localidade de Gernika, no País Basco. A legião Condor – oriunda da Alemanha Nazi – aliada ao Corpo Truppe Volontaire – um corpo militar composto por soldados da Itália Fascista -, facilitam a vida a falangistas e franquistas arrasando a cidade, ficando esta a mercê das forças fascistas que a invadiriam nos dias seguintes.
Estala, nesse ano, o conflito Sino-Japonês, sendo o motivo principal a anexação por parte do Império Japonês – liderado por Hirohito e aliado das Forças do Eixo (Alemanha Nazi e Itália Fascista) – da zona da Manchúria, regista-se o Massacre de Nanquim em que são assassinados mais de 300 mil civis chineses.
Na Palestina estava em curso a “Grande Revolta Árabe” (1936-1939), na qual palestinianos se revoltavam contra as autoridades coloniais britânicas. Os palestinianos realizaram várias formas de luta, desde greves a sabotagem às autoridades. Como resposta o exército britânico e a Força de Polícia Palestina – não se deixem enganar pelo nome, pois era composta por britânicos – reprimiram brutalmente a população. Cifras atuais (britânicas) estimam que cerca de 2000 árabes foram mortos “em combate”, 108 enforcados pelas autoridades e 961 “por atividades terroristas”.
Mas desportivamente falando, um outro “Bombardeiro” ficou famoso nesse ano: Joe Louis, o “Bombardeiro de Detroit”. Oriundo de um família pobre da zona rural do Alabama, a família de Louis mudou-se para Detroit para fugir ao crescente número de atentados terroristas por parte do Ku Klux Klan que se registava no sul dos estados unidos no pós-I Guerra Mundial. Trabalhava juntamente com a sua família na fabrica da Ford de Detroit, tendo todos sofrido graves carências económicas com a Crise de 1929. Essas dificuldades levaram a que Joe Louis se aproximasse de atividades criminosas, mas também dos clubes de Boxe. Ai descobre o seu talento e uma forma de superar as dificuldades económicas.
Em 1936, Joe Louis sofre a sua primeira derrota como profissional, frente ao alemão Max Schmelling – esta vitória fez as delícias de Hitler, que a usou como propaganda para mostrar a superioridade a “Raça Ariana” frente a uma “Raça Menor”. Mas Louis não desanimou e continuou a melhorar o seu Boxe e em 1937, frente a J. J. “Cinderella Man” Braddock torna-se Campeão Mundial de Pesos Pesados. Após a conquista, Joe Louis afirma: “Eu não quero ser chamado de campeão até derrotar Max Schmelling!”.
Max Schmelling o desafia pelo título e Joe Louis aceita. O combate agendou-se para Junho de 1938 em Nova York, Joe Louis sabia que a luta valia mais do que um mero título: “Eu sabia que tinha que vencê-lo. Tinha as minhas razões pessoais e a “minha gente” dependia de mim e desta vitória”. O “Bombardeiro de Detroit” arrasa o alemão, Schmelling perde por K.O. e toda o Harlem, Detroit, toda a população anti-nazista celebra e rejubila a vitória de Louis.
Mais tarde, em 1942, Louis alistou-se no exército racialmente segregado dos Estados Unidos da América. Quando questionado por um jornalista sobre isso, Joe Louis respondeu : “Existem muitas coisas que estão erradas nos Estados Unidos, mas certamente não será alguém como o Hitler a resolvê-las”.
Esta vitória, num ano de expansão das doutrinas nazi-fascistas, de massacres de populações marginalizadas – desde negros no sul dos EUA, a Chineses na Manchúria, Judeus na Europa, Palestinianos no seu próprio país – foi sem dúvida mais do que uma conquista desportiva, mas um símbolo de resistência, esperança e luta.