Grand Prix Portugal 2023: sucesso(s) em tempos de definição
Enquanto decorre o processo eleitoral para a eleição do Presidente e Direção da Federação Portuguesa de Judo, o mês de janeiro de 2023 fica marcado na modalidade por um arranque, a todo o gás, com diversas competições internas e com o Grand Prix de Portugal, prova do circuito mundial que, pelo segundo ano consecutivo, visitou a cidade de Almada.
Grand Prix Portugal 2023
Pelo segundo ano consecutivo, o circuito mundial da federação internacional de judo-FIJ, arrancou no nosso país. Com a janela de qualificação olímpica a decorrer, esta etapa ganhou especial relevância, e o número recorde de atletas, 544 a representar um total de 81 países, foi a prova cabal da importância desta etapa.
A competição decorreu no Complexo Municipal dos Desportos da Cidade de Almada que, apesar dos seus 30 anos e dimensão aquém do expectável para um evento deste nível, conseguiu acolher esta autêntica multidão, no tapete e nas bancadas. Foram três dias de judo de altíssimo nível e com mais uma grande prestação da equipa portuguesa.
Portugal contou com a participação de 39 judocas, beneficiando do facto de ser permitido ao país anfitrião inscrever até 4 atletas por categoria de peso.
No que respeita à participação masculina tivemos a ausência de peso do bicampeão do mundo Jorge Fonseca, devida a lesão. Os restantes judocas tiveram uma prestação muito apagada, claramente aquém das expectativas. Não tivemos nenhum atleta a chegar aos quartos-de-final do quadro, momento crítico que permite aspirar a lutar pelas medalhas. Destaco o regresso, depois de um longo período de ausência, por razões do domínio público, de Célio Dias, que se superou, claramente inspirado pelo apoio do público da cidade onde cresceu. Célio esteve muito perto de alcançar os quartos-de-final da categoria dos 100Kg, caindo na terceira ronda depois de duas emotivas vitórias.
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No que respeita à prestação feminina, a história foi diferente. Apesar da ausência de Telma Monteiro, por lesão, as judocas portuguesas estiveram em grande destaque.
Catarina Costa defendia o título dos 48Kg, brilhantemente conquistado em 2022, mas acabou por ser surpreendida na meia-final, num longo combate de mais de 11 minutos, frete à Uzbeque Tynbayeva. Na luta pelo bronze, seria novamente derrotada, nos instantes finais dos 4 minutos regulamentares, frente à espanhola Mireia Lapuerta, terminado na 5ª posição.
Rochele Nunes esteve muito pragmática e determinada, com um percurso muito consistente e muito apoiada pelo público. Acabou derrotada, por imobilização, na final, depois de marcar waza-ari, frente à cabeça de série da competição, a sul-coreana Hayun Kim. Rochele conquistou a medalha de prata e desta vez, e bem, não pediu desculpa, pois deu tudo e nós sabemos que sim! Rochele conquistou a medalha de prata da categoria dos +78Kg.
Bárbara Timo esteve imperial e provou, se é que alguém ainda tinha dúvidas, que o bronze no campeonato do mundo de Tachkent, ou no mundial de Tóquio de 2019 ainda na categoria dos 70Kg, não foram obra do acaso. Um trajeto imaculado, onde foi evidente que as suas adversárias estavam mais preocupadas em evitar a derrota do que em derrotar a judoca portuguesa, ficando a convicção de que podemos contar com esta fantástica judoca para, novamente, nos presenciar com uma grande prestação nos campeonatos do mundo, que decorrerão já em maio na capital do Catar, Doha. Bárbara conquistou o ouro da categoria dos 63Kg.
Patrícia Sampaio! Depois de dois anos marcados por um calvário de lesões, Patrícia Sampaio está de volta, merecendo o “prémio” (da minha responsabilidade) de prestação desta competição! A capacidade de superação e resiliência desta atleta é fenomenal e foi evidente, desde que entrou em ação, na manhã do dia 29 de janeiro, que estava ali para chegar ao lugar mais alto do pódio! Assistimos a um percurso muito consistente no decorrer da prova, e a final foi um bom exemplo, quando entrou com muita determinação e acabou por derrotar a ucraniana Yelyzaveta Lytvynenko, fundamental para que acabasse de ouro ao peito!! Patrícia Sampaio conquistou o ouro da categoria -78Kg.
Em modo de rescaldo, Portugal, com duas medalhas de ouro, uma de prata e um quinto lugar, termina a sua prestação na segunda posição do “medalheiro”, logo atrás da Coreia do Sul, superando o 3.º lugar de 2022. Notável! Para terminar, destaco a fantástica organização, elogiada pela exigente FIJ. Fica a dúvida se em 2024 voltaremos a ter Grand Prix em Almada, ou se a opção será por uma infraestrutura que permita mais público nas bancadas.
2023
O ano de 2023 será um ano desafiante para o judo português. Temos por diante um calendário muito ambicioso, com um Grande Prix, um campeonato da europa de cadetes, um campeonato do mundo de juniores e várias provas do circuito europeu, para além de um calendário interno completo, agora que a crise pandémica parece estar resolvida. No entanto, o processo eleitoral em curso para a Direção da FPJ, devido à destituição de Jorge Fernandes e da respetiva equipa diretiva, provoca grande perturbação, já que, apesar da provável vitória de Jorge Fernandes, que conta com o voto da maioria dos delegados, o Instituto Português do Desporto e Juventude-IPDJ, continua a lançar o caos e a confusão, sem definir uma posição clara e objetiva sobre este processo eleitoral.
Por exemplo, como detalhei no último artigo, um parecer do IPDJ, solicitado por duas associações, mencionava, à luz do Regime Jurídico das Federações Desportivas, a necessidade de o processo eleitoral ter de contemplar a eleição dos demais órgãos da Federação. A mais recente informação é que afinal não será necessário, e que o processo eleitoral poderá decorrer, no dia 19 de fevereiro, sem qualquer tipo de constrangimentos, elegendo somente o presidente e a direção… será que é mesmo assim? Ou vamos ter mais surpresas?
No entanto, Jorge Fernandes terá oposição neste processo eleitoral! O professor José Cachada, embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto, lidera uma lista onde, na minha opinião, o elemento mais forte acaba por ser o candidato a vice-presidente, Pedro Caravana. Pedro é um judoca com um enorme currículo desportivo, duas vezes olímpico e medalhado em campeonatos da europa, tendo, inclusive, feito parte da equipa técnica da FPJ. O currículo profissional é igualmente muito relevante, com diversos cargos de destaque. Também considero de salientar a lista de notáveis que fazem parte da comissão de honra, com muito nomes sonantes do desporto português.
Creio que esta lista apenas está a tentar “sentir o pulso” e, caso não surjam mais surpresas, será muito provavelmente derrotada. A data entre a destituição e o novo processo eleitoral (cerca de dois meses) não permite aspirar a grandes resultados. Faz falta oportunidade para um debate sério, a apresentação do programa, saber a visão e os objetivos, e creio que não há tempo útil para esta discussão junto dos delegados. Sem dúvida, o verdadeiro objetivo não será dirigir a FPJ no ano e meio que falta até ao processo eleitoral de 2024, mas sim entrar para o próximo ciclo olímpico.