Papel de um tutor no desporto: desafios e recompensas
Futsal, este desporto que tanto gostamos, que apaixona e faz com que queiramos ver jogos e mais jogos, está em crescimento e a aumentar de praticantes de dia para dia, época para época. Estamos muito ligados ao futsal de topo, ao futsal que se vê na televisão, dos lances que são partilhados na rede, assistimos aos jogos dos playoffs, taças, Champions, seleções, Portugal a conquistar tudo e todos, mas quem suporta o treinador de formação, o treinador que treina os iniciantes da modalidade? O treinador que tem o dever de cativar a/o atleta para que aquela descoberta seja algo que a fascina de tal forma que já não olhe para mais nenhum desporto? A pessoa que consegue em primeira mão começar a perceber se tem verdadeiros diamantes para trabalhar, as “Carolinas Rochas” ou “Zickys” do nosso futsal?
Com este mediatismo todo, por vezes esquecemo-nos do futsal de base, do treinador da formação, da iniciação, e no panorama nacional, em que o triangulo está invertido, o treinador acabado de tirar o nível I e muitas vezes tem a primeira experiência como treinador nos escalões de formação, no escalão de base – entrada e descobrimento da modalidade.
E quem os acompanha? Quem os guia? Onde vão tirar dúvidas? Qual é o papel do tutor do treinador de futsal?
Sim passa muito pelo gosto pessoal e a procura de soluções, ainda hoje “perco” muito tempo a tentar perceber situações, procuro muito o conhecimento em pessoas nas quais revejo qualidade e valores que acho que têm de estar presentes para ser treinador desta modalidade. Mas o treinador que inicia a sua viagem necessita (obrigatoriamente) de um tutor de estágio.
E, na minha opinião, ser tutor de uma treinadora ou de um treinador de futsal é de uma responsabilidade enorme. Irei sê-lo na próxima época, mais uma experiência nova, saindo um pouco da zona de conforto, que como gosto de dizer, é quando crescemos e evoluímos enquanto pessoa e neste caso enquanto treinadores.
Acredito que a partilha de ideias é o caminho correto para evoluirmos, e assim sendo, a tutoria vai ser algo que me vai dar gosto, partilhar ideias, pontos de vista com os treinadores estagiários que irei ter, perceber as suas dúvidas, o que não estão a conseguir fazer e com isso, percebê-los, e até tentar encaminhá-los para o caminho correto para que eles, no início do trajeto deles.
Para mim existem imensas dificuldades quando se começa a treinar, da minha experiência e de conversar com colegas meus treinadores, posso dividir por alguns tópicos:
– Conhecimento técnico e tático: O futsal é um desporto com um leque de capacidades e estratégias únicas. Como treinador senti que quando iniciei, tinha de ter um profundo conhecimento do jogo e estar a par das novas tendências e novidades;
– Desenvolvimento da/o atleta: Cada pessoa é diferente, e cada atleta tem debilidades e forças diferentes. Senti que era necessário adaptar-me a cada pessoa para conseguir encontrar um ponto de ligação para que seja mais fácil ensinar o jogo de futsal;
– Gestão de expectativas, do treinador e das/os atletas: O futsal pode ser altamente competitivo, e pode haver pressão de resultados, perceber o contexto onde estamos inseridos e onde podemos e queremos chegar é muito importante na base da carreira como treinador de futsal. Podemos não ter os recursos todos necessários e temos de aprender a improvisar;
– Comunicação e motivação: Apesar de no início da carreira termos a motivação toda, por vezes temos de a resfriar, perceber mais uma vez o contexto onde estamos inseridos e trabalhar muito bem a nossa comunicação, o como falar e para que público falar, será igual comunicar para atletas já formados, ou para crianças? Pode não parecer e temos de ter tudo isso em conta, assim como a linguagem do treinador, convém que seja sempre a mesma, e não ir alterando a mesma durante a época;
– Tempo: Treinar ocupa-nos todo o tempo extra que temos. Saber gerir o mesmo da melhor forma é fulcral para que consigamos pensar, planear, executar treinos e depois estarmos bem preparados para o jogo, é necessário ser-se organizado e disciplinado para atingir este fim.
Mas por outro lado, temos o que é a recompensa, mais à frente poderei voltar a este tema para perceber se o que escrevo agora faz sentido no futuro, mas acredito que seja imensamente recompensador, a evolução pessoal e partilha – através do que escrevi acima, acredito que a partilhar de ideias e experiências irá fazer com que tanto eu (tutor) como o treinador (estagiário) saia valorizado e com mais competências da experiência. Esta partilha irá criar laços que podem ser prolongados após o estágio, continuar com a partilha e troca de ideias.
Ser treinador é muito mais do que planear treinos e berrar quando as coisas correm mal, o impacto que podemos ter na vida de um treinador que inicia o seu trajeto pela primeira vez, ajustado à realidade em que estamos inseridos deve e será um prémio enorme e também creio que a paixão e amor pelo jogo saia ainda mais solidificado, ver como o estagiário evoluiu desde os primeiros treinos aos treinos finais assim como a postura do mesmo durante do jogo, como se relaciona com os seus atletas é fundamental para fazer com que o futsal cresça e solidifique e cada vez mais, os treinadores da formação, estejam capazes de fazer com que as nossas meninas e meninos “consigam fazer bem as coisas simples”.
Espero estar à altura do desafio, em breve saberemos!