Futsal feminino em Portugal: Como melhorar o status quo?

Miguel OliveiraAbril 23, 20237min0

Futsal feminino em Portugal: Como melhorar o status quo?

Miguel OliveiraAbril 23, 20237min0
Miguel Oliveira olha para a situação do futsal feminino português e que práticas podem ajudar a mudar o status quo da modalidade

Como podemos olhar para o que está a ser bem feito e adaptar à nossa realidade? Como melhorar o que já está a ser feito? Existem sempre muitas dificuldades em atribuir razões ou soluções para a promoção do desporto no feminino, em particular no caso do futsal feminino, as dificuldades são ainda maiores, estando ‘reféns’ do futebol feminino, esse sim em franca expansão e crescimento (e ainda bem). No futsal feminino a história não é bem assim.

Existe um pouco a ideia que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem de resolver os problemas todos existentes no mundo do futsal feminino, e a verdade, na minha opinião, não é bem assim. Há obvias lacunas que a FPF tem relativamente à promoção e divulgação do futsal feminino em Portugal (veja-se a federação vizinha), mas de longe é a única culpada. Os outros intervenientes do futsal feminino, os clubes, também não fazem muito para promover a modalidade.

Se existem clubes que acham que as jogadoras vão aparecer às portas do clube sem nada fazer, estão enganados. É preciso um trabalho profundo de divulgação e recrutamento para conseguir navegar neste deserto.

Todos eles têm limitações monetárias, e não são clubes exclusivos de futsal feminino, pelo menos boa parte deles, de qualquer forma, na minha opinião, pouco fazem para divulgar o mesmo. Poucos clubes fazem a transmissão dos jogos, poucos clubes têm redes sociais ativas e num mundo altamente tecnológico e que as redes são o grande foco da juventude, não ter uma rede social ativa, clara e atrativa é um tiro no pé.

Esta interação, público – clube é algo que falta bastante na cultura desportiva portuguesa, e os clubes que o fazem, na minha opinião, estão mais próximos do sucesso, pois são mais conhecidos, são mais abertos para a comunidade e a angariação de jogadoras torna-se mais eficaz e este tem de ser o grande objetivo dos clubes, angariação de jogadoras, sem isso é impossível manter a máquina a andar. Sem jogadoras não há competição, há que saber agarrá-las e convencê-las para o futsal.

A FPF tem uma quota parte neste possível desinteresse das raparigas no futsal, e exemplo disso foi quando existiu o primeiro Euro em Gondomar.

Eu achava que a FPF (e os clubes) ia aproveitar o facto de termos sido vice-campeãs para fazer uma forte campanha ao futsal feminino, achei que iam conseguir um sponsor para a Liga, que iriam criar divulgações das equipas e outras dinâmicas para promover a modalidade. Eram coisas simples de serem feitas, mas que traziam novidade e uma ideia de que estavam atentos à promoção do futsal feminino, davam a conhecer a modalidade, as protagonistas e os clubes.

Mas nada foi feito, aliás, regrediu-se porque até as apresentações das equipas da 1ª divisão deixou de ser feita.

Podemos ver o exemplo vizinho, a Espanha, tricampeã europeia, com um campeonato muito competitivo quer seja pelo tamanho da população, assim como a maneira como o país olha para o desporto, que é de forma diferente da nossa, mas creio que estão a fazer bem esta divulgação.

A Real Federación Española de Futbol (RFEF) faz cobertura extensiva de vários momentos do futsal feminino espanhol, e não só à seleção A. Ainda a semana passada, a RFEF disponibilizou pelo Youtube a transmissão do jogo frente a Portugal

E utilizaram a rede social Twitter de uma forma assertiva, positiva e a divulgar a modalidade. Inclusive esta semana, divulgaram os Jogos Universitários Espanhóis e transmitiram a final feminina através da mesma plataforma.

Tratando ambos os géneros por igual como podemos observar no Twitter:

Mas a RFEF faz mais coisas bem, tem um resumo da jornada que é verdadeiramente informativo:

Também não deixam para trás a 2ª divisão feminina:

Outra divulgação que a RFEF faz é disponibilizar todos os jogos das jornadas através do seu website e também estão no Youtube dedicado a isso:

E se falarmos com treinadores, dirigentes, jogadoras espanholas, provavelmente acharão que mais poderia estar a ser feito!

E em Portugal, o mesmo não podia estar a ser feito, ou há um total desinteresse de um produto que não lhes interessa?

Fica aqui a última noticia/publicação da FPF relativamente ao futsal feminino:

Criar um website atrativo e conciso sobre a informação do futsal feminino, agora com sponsor. Criar dinâmicas entre clubes ou FPF – clubes para que os ajudem a perceber as lacunas que tem e como podem a curto/médio prazo ultrapassá-las, ajudar na criação de uma plataforma em que os jovens estão habituados (Youtube, Twitch) para que os clubes possam fazer um live stream ou partilhar os seus jogos.

Na minha opinião, outro dos problemas, por exemplo, é enquanto os clubes olharem para a certificação como uma checklist que é necessário para competir em determinado patamar não vão evoluir, assim como a certificação não é a chave de tudo, mas no mínimo os clubes têm de saber de onde vieram, onde estão e para onde vão – plano estratégico e uma série de documentos que na minha ótica são muito importantes na vida geral do clube e da forma como o clube olha para a modalidade, por exemplo, o documento orientador técnico. Nesse documento, ter um caminho para onde o clube quer andar a nível de treino, desde o treinador dos traquinas até ao dos seniores, o fio condutor tem de ser o mesmo, as mesmas palavras, os mesmos conceitos, óbvio, adaptado a cada escalão, faixa etária e género! Assim como o dossier de treino, saber como o clube organiza os treinos, como são avaliadas as atletas, etc.

Tudo faz com que o clube esteja melhor e mais bem preparado para o futuro, mas se continuam a olhar de lado, só como algo que tem de ter para atingir o estrelato (classificação da certificação é feita através de estrelas, em que 5 estrelas o máximo).

Os BONS exemplos são para serem copiados e melhorados, adaptados à realidade e conforme a pré-disposição das pessoas envolvidas, creio que não há é muita vontade para ‘perder tempo’ a fazer as coisas. E salvo algumas exceções, os clubes andam a navegar à espera de um timoneiro que consiga organizar tudo isto e ainda treine normalmente o escalão máximo do clube, voltamos aos tempos dos descobrimentos e temos de esperar que melhores tempos virão.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS