Fumo branco nas eleições da Federação Portuguesa de Judo
A eleição para o órgão de Presidente da Federação Portuguesa de Judo-FPJ, decorreu no passado dia 29 de abril. Sem surpresas, Joaquim Sérgio Pina, Vice-Presidente da Direção liderada por Jorge Fernandes, venceu. A surpresa acabou por ser o número de votos que a lista liderada por José Mário Cachada obteve. Joaquim Sérgio Pina contou com 35 votos, num universo de 57, derrotando José Cachada, que somou 21 votos, tendo ainda sido contabilizado 1 voto em branco.
O que esperar de Sérgio Pina?
Na verdade, não espero grandes mudanças relativamente ao modelo e linha de gestão de Jorge Fernandes. Sérgio Pina é o que podemos chamar de “herói acidental”, que uma sucessão de escândalos guindou a candidato, e vencedor quase garantido, para assegurar o termo do mandato de 2020-2024.
Sérgio Pina terá de liderar a FPJ durante, aproximadamente, um ano e meio. No que respeita aos resultados desportivos, terá o enorme desafio para continuar o legado de Jorge Fernandes. Recordo que é o presidente na história da FPJ com o melhor e mais consistente conjunto de resultados. No que respeita à gestão da FPJ propriamente dita, o legado será também desafiante. Com um passivo financeiro, alegadamente, a bater todos os recordes, será necessária alguma contenção e “arrumar a casa” com determinação, para evitar o descalabro de entrar em bancarrota, o que teria um impacto desastroso, para não dizer calamitoso, no Judo Português.
A equipa agora liderada por Sérgio Pina será a mesma que estava em funções no mandato cessante. Fica a dúvida se Jorge Fernandes manterá alguma influência na estratégia e gestão da FPJ, apesar de formalmente afastado, pois tem um grande ascendente e proximidade com muitos dos elementos dos atuais órgãos da FPJ. Fica também a incerteza quanto a Jorge Fernandes poder ser candidato ao mandato 2024-2028.
Tenho de destacar a prestação de José Cachada neste processo eleitoral pois ao conquistar 21 votos num universo de delegados, que no último processo eleitoral deu uma vitória expressiva e arrebatadora a Jorge Fernandes. Não podemos esquecer que foram exatamente os mesmos delegados, já que não ocorreu processo para eleição de novos delegados, que voltaram a votar neste processo eleitoral. Não sei se esses 21 votos refletem, além de algumas conhecidas dissidências, o desagrado, e, provavelmente, alguma revolta, de ver o Judo Português em destaque pelas piores razões, sendo o voto em José Cachada um sinal protesto, ou se correspondem a delegados que realmente acreditam no projeto de José Cachada, muito ambicioso e que prometia ser revolucionário. Como reiteradamente tenho escrito, creio que o elemento mais forte da lista de José Mário Cachada era o candidato a Vice-Presidente, Pedro Caravana, que com este sinal evidente de uma crescente vontade de mudança, poderá dar o passo de se assumir como candidato ao cargo de presidente nas próximas eleições.
Campeonatos do Mundo de Doha
Dia 7 de Maio arrancam, na capital do Catar, Doha, os Campeonatos do Mundo de judo de 2023. A ambiciosa estratégia do Catar em organizar grandes eventos desportivos, com natural destaque para o Campeonato do Mundo de Futebol, que decorreu no final de 2022, tem sido alvo de duras críticas, especialmente pelas reiteradas violações dos direitos humanos no País, a falta de dignidade com que os trabalhadores são tratados, alguns sujeitos a situações de autêntica escravatura, e o incumprimento das mais básicas normas e recomendações ambientais. A falta de liberdade de expressão e de imprensa também têm sido alvo de duras críticas. Não basta construir e organizar eventos desportivos de excelência e com projeção global para tentar ocultar a realidade deste País, propagando uma imagem adulterada e falsa de um país que está longe de ser uma referência ou um exemplo! O dinheiro não compra tudo… embora, comprovadamente, dê muito jeito… .
Este mundial ficará também marcado pela polémica em torno da decisão da Federação Internacional de Judo-FIJ em permitir a participação de atletas russos e bielorussos, sob bandeira neutra, e que, alegadamente, não terão tido posições públicas a favor da guerra que assola a Ucrânia há mais de um ano. A Ucrânia protestou e já informou que irá boicotar estes campeonatos do mundo. Sempre fui defensor de que o desporto deverá ser imune a estas polémicas. Apesar de compreender a posição da equipa ucraniana, creio que o desporto deve ser um veículo para aproximar mulheres e homens e, em circunstância alguma, os dividir ou afastar. Isolar é claramente a pior estratégia, que acentua divergências e extremismos.
Polémicas à parte, a participação portuguesa será alvo de um artigo em que irei apresentar todos os judocas portugueses presentes nestes campeonatos do munto, bem como, irei partilhar as minhas expectativas sobre a prestação da equipa portuguesa.