Oscar Piastri: um rookie diferenciado?
(Este artigo sobre Oscar Piastri foi escrito antes da corrida de dia 30 de julho na Bélgica)
“I understand that, without my agreement, Alpine F1 have put out a press release late this afternoon that I am driving for them next year. This is wrong and I have not signed a contract with Alpine for 2023. I will not be driving for Alpine next year”.
Fã ou não de F1, muitos se lembram do impacto que este tweet de Oscar Piastri teve nas redes sociais há já quase 1 ano. Foi motivo de troça por toda a internet e a equipa de Otmar Szafnauer (à data) saiu mal na fotografia. A novela terminou com o australiano a substituir o compatriota Daniel Ricciardo e a formar, com Lando Norris (McLaren), a dupla de pilotos mais jovem da grelha.
Não por acaso, a vinda de Piastri para a F1 veio de mãos dadas com uma imensa expectativa. Afinal, havia sido campeão da Fórmula Renault Eurocup (2019), da F3 (2020) e da F2 (2021) enquanto rookie, algo apenas conseguido por Leclerc (Ferrari) e Russell (Mercedes), também vistos como promessas dos desportos motorizados num passado recente.
Logan Sargent (Williams) e Nyck de Vries (ex-Alpha Tauri) fariam com ele a estreia na F1 no circuito de Bahrain. Sargeant e de Vries terminariam em 12.º e 14.º lugar respetivamente, mas Oscar seria obrigado a abandonar a corrida após 17 voltas por suspeita de uma falha na caixa de velocidades do MCL60. Foi um começo inglório, não haja dúvidas. Tudo fazia parecer que a equipa laranja teria ainda um longo caminho a percorrer até encontrar um ponto ótimo que lhes permitisse voltar à fiabilidade e competitividade de 2021.
Depois de uma tímida aparição em 8.º no Grande Prémio da Austrália e de oscilar entre os lugares de meio da tabela, tudo melhorou substancialmente com a implementação de um ambicioso pacote de upgrades, o qual tomou por base de desenvolvimento as mudanças feitas no fundo do carro em Baku no início do mês de abril. Este pacote foi primeiro introduzido no monolugar de Norris aquando da corrida no Red Bull Ring, impactando imediata e positivamente a sua prestação nesse fim-de-semana. Para uma leitura mais aprofundada desta matéria, recomendo o artigo “McLaren introduces in Austria the biggest update package of 2023” da Race Analysis.
Os upgrades chegaram a Piastri em Silverstone, conseguindo alcançar o 3.º lugar na qualificação e o 4.º no domingo. Foi igualmente bem-sucedido em Hungaroring – partiu do 2.º lugar na corrida e terminou em 5º. Contudo, apesar de um excelente arranque e de ter chegado a lutar por estar no pódio, Andrea Stella (chefe de equipa) referiu à imprensa que os danos no carro provocaram um desgaste extra dos pneus e seriam os culpados por ter perdido ritmo na corrida. Inclusivamente, o próprio piloto, desconhecendo tais danos, julgou ter sido por uma má gestão própria dos mesmos a razão pela qual isso teria ocorrido. Uma coisa é certa: a McLaren passou a ter um dos carros mais rápidos do campeonato.
Contra o esperado inicialmente, compete lado a lado com a Mercedes, passando a ocupar o lugar de destaque que a Aston Martin detinha até ao Grande Prémio do Canadá. É nestes pequenos detalhes que a beleza da F1 mais se evidencia. Para lá da adrenalina das batalhas em pista que nos deixam colados ao ecrã, das paragens em tempo recorde para trocar pneus e das estratégias engenhosas, existe um trabalho de bastidores feito para desenvolver constantemente os carros dentro dos limites permitidos pelos regulamentos. Aí está a chave principal para uma temporada de sucesso e que por vezes é esquecido pelo mais comum dos espectadores por chegar a ser excessivamente técnico.
Antes de partir para uma merecida pausa de verão, a F1 visita a Bélgica. Ir este país é sinónimo de corrida em Spa-Francorchamps, um dos mais entusiasmantes – ou desnecessários, consoante a perspetiva meterológica – do calendário. A corrida deste fim-de-semana tem a particularidade de incluir o novo formato de sprint conhecido este ano, no qual se definiu que os respetivos resultados deixariam de definir a grelha de partida para domingo. Passando a basear-se nos resultados da qualificação para o efeito, o sprint tornou-se num pequeno acontecimento praticamente desligado do grande evento que é o Grande Prémio. Era evidente que a McLaren aproveitaria o pico de forma em que se encontra para acabar em grande estilo a primeira parte da temporada. Com o que ninguém contava, é que Piastri obtivesse resultados excecionais: uma diferença de apenas 0.011s para Verstappen (Red Bull) no sprint shootout e um 2.º lugar no sprint em si. Numa altura de absoluto domínio de Max Verstappen, ficou fácil torcer por Oscar Piastri. Estaríamos a ser desonestos, especialmente no plano desportivo, se disséssemos que não adoramos a típica história hollywoodesca do underdog que desafia o adversário invencível e triunfa.
Mesmo hoje partindo do 5.º lugar – ou, tal como disse o próprio, do 6.º pois não bastará mais do que a primeira curva para perder a posição para o bicampeão – o jovem piloto australiano deixa-nos com uma boa impressão quanto ao seu futuro, merecendo os elogios rasgados à sua consistência (elemento essencialíssimo para quem quer suceder na F1) aliada a um imenso talento demonstrado nas mais variadas categorias, arriscando-me a afirmar que esta talvez seja uma das melhores estreias nesta competição dos últimos anos.
Do ponto de vista da equipa, poderá ser benéfico trazer alguma rivalidade saudável – ninguém precisa de uma disputa como a de Rosberg e Hamilton em 2016 – obrigando Piastri a corresponder aos níveis já demonstrados por Norris, fazendo com que este último se esforce em dobro para não ser facilmente superado pelo colega.