Destituição e o processo para recuperar o judo português em 2023
Jorge Fernandes foi oficialmente destituído, em vésperas de um ano com enorme importância, no que respeita ao reconhecimento e consagração do papel de Portugal no judo mundial. Está a decorrer a qualificação olímpica para os jogos de Paris 2024, estão confirmados, à data, o Grand Prix de Almada (prova do circuito mundial), o campeonato da europa de cadetes, o campeonato do mundo de juniores e 3 provas do circuito europeu, com estágios incluídos, e fica a pergunta, terá uma direção destituída capacidade de assegurar a realização destas provas? Qual o impacto reputacional e financeiro caso a FPJ se veja forçada a cancelar estas competições?
Destituído
A Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), que decorreu no dia 19 de dezembro, deliberou a destituição do atual o Presidente e respetiva Direção da FPJ. Jorge Fernandes, que partilhou a sua expectativa de que um novo processo eleitoral, para eleição de uma nova direção e presidente, decorresse durante Fevereiro de 2023, foi surpreendido com a informação do Instituto Português da Juventude (IPDJ), que clarificou, à luz do Regime Jurídico das Federações Desportivas, que “a destituição implica que se proceda à eleição dos demais órgãos da Federação: a) Assembleia geral; b) Presidente; c) Direção; d) Conselho fiscal; e) Conselho de disciplina; f) Conselho de justiça; g) Conselho de arbitragem” e, assim sendo, só após serem eleitos os referidos delegados que compõem a Assembleia Geral, se poderá proceder à eleição dos restantes órgãos federativos. Ao contrário da expectativa de Jorge Fernandes, o processo eleitoral poderá levar muitos meses e as consequências, para além de imprevisíveis, terão, irremediavelmente, impacto no funcionamento da FPJ.
E será que Jorge Fernandes tem condições para se recandidatar? Tenho sérias dúvidas… . Pergunto porque o processo que levou à destituição do Presidente e Direção da FPJ, nada tem apenas a ver com as auditorias financeiras, investigações e outros processos que surgiram como consequência da carta aberta do grupo de atletas do projeto olímpico, liderado por Telma Monteiro.
A ser verdade tudo o que foi partilhado, corremos o risco de, quase em simultâneo com a mais que provável reeleição e tomada de posse de Jorge Fernandes, pois continua a ter um confortável e alargado número de apoiantes, acabarmos por ter um novo processo e destituição. Apesar dos resultados, históricos, que o judo sob a liderança federativa de Jorge Fernandes alcançou, o Presidente destituído não está nas boas graças dos decisores e estará a ser alvo de um rigoroso escrutínio.
Porém, é minha convicção, que Jorge Fernandes é o principal responsável pelo incidente, dada a maneira displicente, com algum facilitismo e falta de rigor à mistura, como, por vezes, liderou a FPJ, e que resultaram no processo de inquérito do IPDJ, em que acabou por ser identificado um conjunto de ilegalidades incompatíveis com o cargo que desempenhava.
Jorge Fernandes destituído da Federação de Judo quase por unanimidade dos delegados https://t.co/vIuphCzwq5 #JorgeFernandes #judo
— O MINHO (@ominhopt) December 18, 2022
Grand Slam de Tóquio e MASTERS 2022
As derradeiras etapas do ano de 2022, no que respeita ao circuito mundial, visitaram Tóquio, onde decorreu o Grand Slam, entre os dias 2 e 3 de dezembro, e Jerusalém, com a derradeira e sempre épica etapa Masters. A etapa que reúne os melhores 36 judocas de cada categoria de peso, sem restrições ou cotas por países: São os melhores dos melhores!
O grande destaque vai para Catarina Costa, que regressou aos pódios, com uma brilhante prestação em Jerusalém. Terminou de bronze ao peito e deu uma cabal demonstração da sua qualidade e determinação! Depois de um período em que os resultados teimavam em não aparecer, onde eram visíveis algumas dificuldades em contrariar as estratégias das suas adversárias, que a estudaram ao detalhe, foi possível observar no Masters uma versão de Catarina mais pragmática, versátil e que praticamente não cometeu erros. Parabéns, Catarina!
ONO
O mês de dezembro de 2022 fica marcado pelo anúncio da retirada do supercampeão japonês ONO Shoei. Não há muito que falte escrever sobre este fantástico atleta, para mim, o melhor e mais completo judoca dos últimos anos!
Várias vezes campeão do mundo, bicampeão olímpico, muitas medalhas no circuito mundial… e uma qualidade técnica, versatilidade e postura irrepreensíveis. Uma das lendas desta modalidade! Apesar da enorme qualidade dos judocas oriundos do japão, ONO claramente fazia a diferença, tinha um estatuto de invencível e era evidente que não havia adversários à sua altura na disputadíssima categoria dos 73Kg. Ficam os grandes momentos com que fomos presenteados. Domo Arigato ONO!
2022 num ápice
2022 voltou a marcar a história do judo português, com um conjunto de resultados de relevo, o regresso de um calendário interno completo e com eventos que ficaram marcados pela enorme competitividade e emoção. Um destaque para as competições de equipas, que ficaram na memória pelo ambiente fantástico no tapete e nas bancadas. Internacionalmente, o judo português conquistou mais de 60 medalhas! Notável!
Destaco como o maior momento do judo português, em 2022, a grande prestação de Barbara Timo nos Campeonatos do Mundo de Tachkent. Uma medalha de bronze com sabor a ouro! Foi a segunda medalha em campeonatos do mundo para a judoca do Sport Lisboa e Benfica, que em 2019 tinha conquistados a prata, nos mundiais de Tóquio.
Pela negativa, não pode deixar de salientar-se a deprimente sequência de eventos que levou à destituição do Presidente da FPJ e a carta aberta do grupo de atletas do projeto olímpico, que promete desenvolvimentos no ano de 2023. O judo português atravessa um momento desafiante… que poderá acabar com um enorme retrocesso, em resultados, em dimensão… e reputação…
Judoca Bárbara Timo conquista bronze no Grand Slam de Antália – https://t.co/L7zWCiSrQ5 @mundoatualpt #FPJ #BarbaraTimo #Bronze #Judo
— MundoAtual (@mundoatualpt) April 2, 2022