CrossFit Regionals: a Europa dividida em dois e o que significa para nós?
Todas as modalidades têm o seu apogeu, o momento dos momentos. No CrossFit a seleção do “Fittest on Earth” começa da forma mais inclusiva possível com a participação de centenas de milhares de CrossFitters a nível Internacional na sua primeira fase de apuramento para participar no “Open”.
O Open, a partir dos 14 anos, é aberto a qualquer pessoa que pratica a modalidade, seja qual for o seu nível, e pode ser feito conforme prescrito ou de forma adaptada para quem não consegue ainda executar os movimentos que estão previstos. São 5 fins de semana, 5 WODs e um derradeiro objectivo para os atletas de topo: chegar à segunda fase de apuramento: os “Regionals”. 3 dias de provas presenciais na Região onde se treina a modalidade. Nesses Regionais serão apurados os 5 melhores atletas para participar na Grande Final nos Estados Unidos… os CrossFit Games.
De uma competição que começou com centenas de milhares de pessoas passámos para os 40 atletas femininos e masculinos, 40 equipas, 80 adolescentes e 240 Masters com maior capacidade do mundo . Os Games são no mínimo um espectáculo de força, tenacidade, capacidade e uma demonstração da extraordinária resiliência do ser humano. Qualquer desporto pode ser integrado e os atletas estão preparados para o inesperado. Mas para chegar aqui é preciso ter oportunidade de lutar por uma das 5 primeiras posições no Regional. Como se costuma dizer:
“You don’t know how good you have to be to Suck at the CrossFit Games”
Em 2017 a CrossFit International dividia o mundo em 17 “Regiões”: 10 nos Estados Unidos (North East, Mid Atlantic, South East, Central East, North Central, South Central, North West, South West, Northern California e Southern California) e 7 “Regiões” internacionais (Canada West, Canada East, Latin America, Asia, Africa, Australia e a nossa região, Europe).
O apuramento para o Regional dependia da posição do atleta no ranking do Open da Região onde se insere. A posição em que ficava em cada desafio levava a uma média final e determinava se a pessoa tinha ou não possibilidade de participar no seu “Regional”.
O numero de atletas apurado para a competição Regional variava de 10 a 30, sendo 20 em cada região dos Estados Unidos e 30 para a Australia e Europa. Mesmo assim, apesar da Europa ter mais “spots” de qualificação no Regional a verdade é que a disparidade para o número de atletas a participar no Open nesta Região especifica tornava a Europa indiscutivelmente numa das regiões mais difíceis de apuramento para os Regionais, tornando a missão dos atletas portugueses a competir por esta região extraordinariamente complicada.
O exemplo prático da participação feminina da Região Europa no Open face ao resto do mundo permite ter uma noção mais clara do que se está a dizer:
Região | Numero de Atletas Femininas a participar no Open |
---|---|
Africa | 3,900 |
Asia | 3,300 |
Australia | 10,650 |
Canada East | 6,350 |
Canada West | 3,600 |
Central East | 9,900 |
Europe | 21,750 |
South America | 12,650 |
Mid Atlantic | 11,350 |
North Central | 12,100 |
North East | 14,400 |
NorCal | 5,250 |
Northwest | 6,550 |
South Central | 12,450 |
South East | 11,300 |
SoCal | 6,250 |
South West | 8,100 |
De forma directa é de imediato evidente a disparidade do número de atletas a participar: Existem mais de 21000 mulheres a participar no Open na Região da Europa, claramente mais que em qualquer outra Região do mundo, contudo apenas 30 atletas vão poder participar no Regional e no final apenas 5 estarão presentes nos Games propriamente ditos.
Neste sentido, se o objetivo dos CrossFit Games é determinar o/a “Fittest on Earth” é crucial existir menor disparidade na distribuição proporcional de vagas vs. atletas a participar de modo a garantir que os CrossFitters de maior talento estão de facto sequer a chegar às provas Regionais.
Existe já mais de um caso de atletas portugueses que teriam tido oportunidade de participar no Regional com os seus resultados se estivessem integrados em qualquer outra região do mundo que não a Europa. Ou seja que não se coloca aqui uma questão de disparidade de talento (até porque a Europa tem estado presente frequentemente no pódio dos Games), mas sim efectivamente uma questão quantitativa de distribuição de atletas.
Uma solução seria utilizar o ranking mundial como sistema de apuramento (o ranking existe, mas na realidade em termos efectivos ainda não foi utilizado como forma de apuramento) ou então alterar a distribuição regional e de atletas. E foi isso que Dave Castro, director dos CrossFit Games, optou por fazer para a Edição de 2018.
A informação partilhada foi ainda muito limitada contudo sabemos ao certo que a Região Europa será dividida em 2 regiões distintas (Northern Europe como uma Região e Southern Europe, Middle East e Africa como outra).
Teremos no geral uma distribuição mais internacional de atletas com a América do Norte a garantir 25 lugares nos CrossFit Games em vez de 30 e o resto do mundo com 15 lugares em vez de 10. A Zona da América Latina passa a ser uma Região própria e na América do Norte juntam-se as Regiões de Canada, Canada West e California, o que acaba por criar uma maior dificuldade de apuramento nessas zonas.
A divisão da Europa é sem duvida uma forma de aproximação dos atletas Lusos aos Regionais de CrossFit, contudo, mesmo com as zonas de Norte e Sul em competições distintas, a ida dos nossos atletas não é tão evidente como possa inicialmente parecer.
Sem dúvida que a concorrência nórdica fica de parte, contudo Espanha, França e os países de leste continuam a ocupar muitos lugares na tabela de qualificação e se analisarmos os resultados de 2017 mesmo com a divisão prevista para o próximo ano a nossa presença não seria garantida seja no quadro masculino, seja no feminino.
Contudo, não existem dúvidas que a evolução dos atletas portugueses tem sido notória de ano para ano com presenças cada vez mais fortes em competições internacionais e 2018 promete ser um ano de revelações no CrossFit nacional. Até porque, com a possibilidade de apuramento tão próxima, será difícil os nossos atletas de topo não apostarem tudo na Competição que define o “Fittest on Earth”.