Crossfit no precipio do seu fim?

Tiago OliveiraJunho 8, 20205min0

Crossfit no precipio do seu fim?

Tiago OliveiraJunho 8, 20205min0
Greg Glassman proferiu um discurso manchado pelo racismo e preconceito, o que poderá condenar o Crossfit a um fim abrupto enquanto marca. Há volta a dar para uma modalidade que se mostrava diversificada?

São 10 horas da manhã do dia 8 de Junho de 2020. Passaram 14 dias desde que George Floyd morreu asfixiado por um polícia em Minneapolis. Foi mais um rastilho de inúmeras manifestações contra a violência policial, o racismo, a xenofobia e a descriminação sob a hashtag #BlacklivesMatter. E foi também o rastilho para que a CrossFit possa ter acabado.

Mas estou a escrever este texto antes de ser publicado, por isso, o futuro apenas pode ser previsto.

Para a Europa parece estranho que uma marca ou uma empresa se pronuncie sobre questões públicas. Mas não nos EUA. Nos EUA marcas e empresas podem fazer doações para campanhas políticas, e por aí se percebe que «têm uma voz». E se formos à génese, uma marca pretende sempre transmitir um conjunto de valores para chegar ao seu público alvo. Alías, uma marca não é mais que um conjunto de emoções que nos fazem apegar às mesmas.

No dia 25 de maio o mundo viveu e presenciou – uma vez mais – um ato de violência policial contra um cidadão negro. A razão: alegadamente uma nota falsa. A consequência: morreu asfixiado na rua com um joelho sobre o seu pescoço.  Alguém escreveu – ou disse – e com razão, isto sempre existiu, mas agora foi filmado. Mas que isso não sirva de desculpa nos momentos subsequentes.

A Comunidade do Fitness no geral, e do CrossFit em particular, é tão diversa quanto pode ser o gosto pela prática desportiva. Não interessa se somos brancos, pretos, amarelos, castanhos, às bolinhas amarelas ou verdes, todos agachamos, todos nos penduramos na barra e 1 quilo é 1 quilo às costas de qualquer um. E esta diversidade ficou expetante para saber o que a CrossFit diria após aquele ato de violência policial.

Contudo… nada disseram.

É preciso voltar umas semanas atrás e ver tudo em perspetiva que culminou nesta posição:

  1. Os CrossFit Games anunciaram que os Games se iriam realizar no famoso Ranch em Aromas. Alguém comentou que parecia que não se preocupavam com a saúde dos atletas. A conta oficial dos CrossFit Games responde com «keep on coming», algo como só tens isso a dizer?!
  2. A CEO da Unbroken Designs, marca que nasce no seio da comunidade da CrossFit, fez comentários racistas contra mexicanos. Do lado da CrossFit HQ só houve silêncio.
  3. Floyd Georg morre devido a violência Policial. Com o mundo em consternação, a CrossFit HQ nada diz;
  4. Noah Ohlsen desde o início é uma das vozes contra a descriminação e a apela a que se fale e haja manifestações contra o ódio: #standUp;
  5. Sexta-feira, dia 5 de julho de 2020, uma conversa privada entre os atletas de CrossFit Chandler Smith, Travis Williams, Jessica Griffin, entrou outros, é tornada pública onde aquela última utiliza a palavra «nigger» e com Travis Williams a insinuar que se Chandler, negro, se sentia ofendido era um «pussy». Resultado, Jessica apagou a sua conta e Travis fez um pedido de desculpas público. CrossFit HQ em silêncio;

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É questionável se a CrossFit HQ tinha de se pronunciar. Como se fez a ressalva, enquanto na Europa é normal o silêncio de empresas, não nos EUA. E não com uma CrossFit HQ tão audível em questões de saúde pública, luta contra a obesidade, luta contra a indústria alimentar, luta contra as farmacêuticas, luta com meio mundo, mas fica em silêncio quando o assunto é racial! Fica em silêncio quando a sua força assenta numa comunidade que não tem cor, não tem género, não tem preferência, tem apenas esforço empenho e superação.

Mas a CrossFit não ficou em silêncio. A CrossFit HQ é propriedade de duas pessoas, sendo que uma, em quase exclusividade, é Greg Glassman. A CrossFit HQ não está cotada em bolsa. Não tem accionistas no sentido que lhe conhecemos. Não tem um Conselho de Adminsitração no sentido que lhe conhecemos. Tem um dono, ponto. E esse dono confunde-se com a CrossFit HQ.

Tanto que as decisões de mudar os Games foi dele. A decisão de mudar a orientação da empresa foi dele. Sem obedecer a qualquer regra, decide e escolhe. Pelo que, quando fala, é a empresa que fala. E no dia 6 de julho Greg, em resposta à Health Metrics and Evaluation at the University of Washington que disse que o racismo era uma questão de saúde pública, disse que era o Floyd-19.

Comentário infeliz ou de índole racista? E isto no mesmo dia em que a tal conversa entre os atletas atrás referidos caiu na internet. Enquanto o mundo do Fitness tentava decidir o que fazer com estes comentários, uma dona de uma Box afiliada enviou um e-mail a manifestar a sua intenção de se desfiliar. Greg, pessoalmente, responde com insultos.

O rastilho estava aceso. Fósforos, gasolina juntado a ódio, racismo, não tolerância, tudo se libertou na noite de domingo dia 7 de julho de 2020. São imensos para nomear todos os atletas que condenaram as palavras de Gred e/ou da CrossFit HQ. Muitos afastaram-se. Alguns recusaram-se a participar nos Games em Agosto. A lista de Boxes que se querem desfiliar não tem fim. Julie Foucher enviou um e-mail a despedir-se do Staff da HQ. Pat Sherwood, um dos nomes mais antigos e de extrema credibilidade que ainda trabalha (?) na HQ desfiliou a sua box também. Mat Chan, Chris Spealer, outros históricos a distanciaram-se. A Rogue fez um post onde «apela» que Greg se afasta.

Mas, não será tarde demais?


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