Milano-Sanremo: uma das obras-primas de Morgagni

Davide NevesMarço 19, 20214min0

Milano-Sanremo: uma das obras-primas de Morgagni

Davide NevesMarço 19, 20214min0
O primeiro monumento do ano, a clássica que muitos querem ganhar, mas nem todos o conseguem fazer. Caros leitores, vamos até Sanremo?

No ano de 1906, Tullo Morgagni, jornalista milanês, propôs ao diretor da Gazzetta dello Sport, Eugenio Costamagna, a ideia de organizar uma corrida de bicicletas entre Milão e Sanremo no mesmo dia. A 14 de abril de 1907, 286 quilómetros foram percorridos por 33 ciclistas e a linha da meta cortada por Lucien Breton, o primeiro vencedor desta prova (apenas 14 terminaram). A velocidade média? 26 km/h. Morgagni, que já tinha criado a Volta a Lombardia (Il Lombardia) em 1905, fica assim eternizado por ter criado dois dos monumentos do ciclismo. Um ano mais tarde, lembrou-se de outra prova, ainda mais ousada que as duas anteriores, uma volta que percorresse toda a Itália. Costamagna, assoberbado pelo sucesso que a Gazzetta obteve com a Il Lombardia e a Milano-Sanremo, decidiu apoiar a ideia e em 1909, corria-se pela primeira vez o Giro d’Italia, vencida pelo italiano Luigi Ganna (sem aparente parentesco com o atual campeão do mundo de contrarrelógio, Filippo Ganna).

Amanhã, dia 20, parte para a estrada a 112ª edição desta verdadeira obra-prima. 299 quilómetros, mais 13 que a primeira edição, 175 ciclistas, 25 equipas, os dois atuais campeões do mundo de estrada, o ainda campeão olímpico Greg van Avermaet, e os atuais extraterrestres da modalidade, Wout van Aert e Mathieu van der Poel, entre muitos outros. Abre o apetite, não?

O (longo) percurso e o sempre aguardado Poggio

O famoso Poggio, com paisagens magníficas, sempre temido pelo pelotão.
Foto: Tim de Waele

Mantendo a tradição, o percurso faz-se na costa da região da Ligúria, com os regressos do Capo Mele, do Capo Cerva e do Capo Berta depois de um interregno de um ano. Teremos também a subida ao Colle di Giovo, 5 quilómetros com pendente média de 3.9%. Mas os corações começam a agitar-se, as posições no sofá em casa ajustam-se, os olhos fixam-se com toda a atenção quando a marca dos últimos 25 quilómetros chega, com as subidas ao Cipressa e ao Poggio. O Cipressa com 5.7 quilómetros e pendente média de 4.2%, o famoso Poggio, onde muitas vezes tudo se decide, com os habituais 4 quilómetros em pendente média de 3.7%, com a descida final por vezes decisivas.

Os favoritos

Os três favoritos, sempre atentos uns aos outros.

Depois da semana frenética a que assistimos no Tirreno-Adriático, Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix) e Wout van Aert (Jumbo-Visma) darão certamente que falar. A rivalidade entre os dois já é antiga, e ultimamente juntamos mais um nome às disputas entre os dois, com o vencedor da edição de 2019, o campeão do mundo Julian Alaphillippe (Deceunick-Quick Step). Estes três serão, na opinião do FairPlay, os mais que prováveis favoritos à vitória em Sanremo.

Dividindo a lista de candidatos ao top-10 entre punchers/all-rounders e sprinters, encontramos na startlist de amanhã uma série notável de candidatos. Michal Kwiatkowski lidera a INEOS-Grenadiers em busca de repetir a vitória de 2017, rodeado pelo campeão do mundo de ITT Filippo Ganna, Luke Rowe, Dylan van Baarle ou Thomas Pidcock. O campeão olímpico Greg van Avermaet (AG2R Citroen) procura melhorar o 5º lugar de 2016. Na Bahrain temos Matej Mohoric, e ainda Maximilian Schachmann (Bora-Hangrohe), Alberto Bettiol (EF Education-Nippo), o sempre combativo Alessandro de Marchi (Israel-Start Up-Nation), Phillippe Gilbert e Tim Wellens (Lotto-Soudal), Romain Bardet (DSM), Vincenzo Nibali e Jasper Stuyven (Trek-Segafredo).

Na lista dos sprinters, 10 equipas saltam à atenção. A Bahrain-Victorius com Sonny Colbrelli, a Cofidis conta com Elia Viviani e Christophe Laporte (com a presença do líder Guillaume Martin também), Arnaud Démare (Groupama-FDJ) ou os italianos Giacomo Nizzolo (Team Qhubeka-Assos) e Nicolò Bonifazio (Direct Energie).

Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) também estará presente pela 11ª vez neste monumento. Depois de dois segundos lugares, será desta que o eslovaco vence? Este ano irá partilhar a liderança com o sensacional Pascal Ackermann. A UAE-Team Emirates aposta em três sprinters, com Alexander Kristoff, Fernando Gaviria e Matteo Trentin, a Lotto Soudal tem Caleb Ewan e o veterano John Degenkolb, Michael Matthews lidera a Bike Exchange e o aparentemente renascido Nacer Bouhanni lidera a Arkéa-Samsic, com o apoio de Warren Barguil ou Daniel McLay.

 

 


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS