Espanha – Haverá luz ao fundo do túnel?
Em Portugal começámos a despedida da geração de Sérgio Paulinho, Rui Costa, Tiago Machado, Nélson Oliveira e restante companhia, com saudosismo, mas com esperança e maravilhados com a geração de João Almeida, Ruben Guerreiro, dos gémeos Rui e Ivo Oliveira, André Carvalho e muitos outros que estão na linha de produção. Vivemos, a par das grandes nações do ciclismo, uma excelente era no ciclismo, onde a geração que entra consegue superar feitos das gerações passadas.
Neste momento de euforia entre adeptos em que cada prova parece histórica e faz com que os adeptos esperem ansiosamente pela próxima corrida para poderem experienciar novos feitos por parte dos ciclista, há uma nação em especial que não vê na sua linha de sucessão quem os equipare aos seus rivais.
Espanha é uma nação cheia de história no ciclismo de estrada. Sendo um dos países organizadores de Grandes Voltas, tem, principalmente, uma grande tradição nas provas por etapas de 1 semana, com quase todas as suas comunidades a organizar uma prova desse género.
Sendo provas de categoria World Tour a Volta à Catalunha e a Volta ao País Basco, têm ainda grande expressão no calendário internacional a Volta à Comunidade Valenciana e a Volta à Andaluzia, tradicionalmente utilizadas no arranca da temporada como preparação para as provas mais importantes da primavera e verão.
Como bons patriotas que são, os espanhois têm uma longa tradição de dominar e vencer as suas provas, aproveitando para rivalizar com as atenções que por esta altura transitam entre as clássicas do norte de Itália para as clássicas da Flandres, provas onde os espanhois têm dificuldade em impor-se como nação vencedora.
O último nome que vingou nas clássicas de inverno em Itália foi o de Óscar Freire, com 3 vitórias na Milão-Sanremo, enquanto Alejandro Valverde se impôs como rei e senhor das clássicas da primavera nas Ardenas, com 4 Liege-Bastogne-Liege e 5 La Flèche Wallone. Por outro lado, nomes como o Alberto Contador, Joaquim Rodriguez, Samuel Sanchez e Alejandro Valverde dominavam as várias provas por etapas que se realizavam em Itália, França e principalmente em Espanha.
Por norma o fim do Inverno e a Primavera era uma altura de satisfação para os adeptos espanhóis, que encontravam assim razões para sorrir face ao domínio de outras nações nas clássicas do empedrado.
Mas nomes como os citados já seguiram o seu caminho à muito tempo – à excepção do eterno Valverde – e a Espanha tem tido dificuldade para encontrar sucessores a nomes que garantiram grandes voltas, campeonatos do mundo, monumentos, clássicas, provas por etapas, classificações de gerais e inúmeras etapas. No limite, pode mesmo arriscar-se afirmar que Espanha é uma nação que passa despercebida actualmente.
Não olhando à temporada atípica de 2020, com motivos óbvios que podem justificar a falta de resultados por parte dos espanhóis, já em 2019 se notou uma grande quebra de resultados, com a vitória de Ion Izaguirre na Volta ao País Basco a figurar como única nesta fase da temporada. Em 2021, o melhor que conseguiram até ao momento foi o 3º lugar de Mikel Landa, no Tirreno Adriático, e o 3º lugar de Ion Izaguirre, no Paris-Nice. Valverde, Ion Izaguirre, Pello Bilbao, Omar Fraile, Mikel Landa e essa geração já acima dos 30 anos, vão garantido alguns resultados de ressalva, mas longe de assustar os homens que dominam o ciclismo actualmente. Tendo por base que estes nomes não irão durar para sempre, falta a esta nação histórica do ciclismo nomes sub-25 com capacidade de se impor no World Tour e garantir aos adeptos espanhois um futuro risonho.
Nomes como o de Enric Mas ou Marc Soler, com 26 e 27 anos respectivamente, parece não têm aquela veia atacante dos seus antecessores e nunca se conseguiram afirmar como candidatos à vitória inquestionáveis. Não sendo a falta de vitórias o que mais choca, mas sim a falta de presença por parte da juventude espanhola. As esperanças de Espanha estão depositadas nos jovens que conseguiram estar no escalão máximo do ciclismo em 2021.
Javier Romo fez a sua formação no triatlo, após vencer o título de campeão nacional sub-23 em 2020, foi contratado pela Astana – Premier Tech até 2023. Recentemente esteve em evidência na Settimana Internazionale Coppi e Bartali, sendo 5º na geral e 2º na quarta etapa. Com 22 anos, poderá ser uma boa hipótese para lutar pela classificação geral em provas por etapas, aproventado a resistência característica dos triatletas.
O que mais impressiona até ao momento em Carlos Rodriguez é o facto de ter sido contratado pela Ineos ainda com 18 anos. Já se sabe que para esta equipa fazer esta aposta é porque garantidamente este ciclista tem as suas qualidades. Bom contra-relogista, poderá fazer a sua evolução como homem de clássicas e de trabalho ou tentar evoluir as suas capacidades na luta por provas de etapas. Com apenas 20 anos tem um longo caminho pela frente até apresentar resultados de outra dimensão.
Iñigo Elosegui é a aposta da equipa da casa, Movistar Team, na categoria sub-23. Homem apontado como um caça etapas ou para provas de 1 dia, no entanto face a concorrência actual, terá de fazer uma grande evolução para estar entre os melhores.
Vindo da equipa de formação do próprio Alberto Contador para a Trek – Segafredo, Juan Pedro Lopez parecia o nome ideal para garantir resultados no que às 3 semanas diz respeito. Até ao momento o jovem ainda não conseguiu dar o salto e estar entre os melhores da sua geração e todos sabemos que bem que anda essa geração aos 23 anos.
18 anos apenas tem Juan Ayuso. Ainda a correr pela Team Colpack Ballan até 31 de Julho, passará depois a fazer parte da UAE – Team Emirates e garantiu contrate até 2025 ao lado de Tadej Pogaçar. E isto quer dizer muito. Recentemente na Settimana Internazionale Coppi e Bartali andou entre os melhores finalizando em 17º. O campeão nacional de juniores espanhol parece o nome mais forte da lista de actuais jovens promessas espanholas, mas à imagem dos restantes ainda está muito longe do topo.
Na era de Tadej Pogaçar, João Almeida, Egan Bernal, Renco Evenpoel, Alexander Vlazov, Thomas Pidcock, Pavel Sivakov, a sensação para os espanhois é semelhante à de ver a luz ao fundo do túnel. Só o futuro dirá se o ciclismo espanhol continuará a brilhar no ínicio de cada temporada, ou se teremos de esperar algum tempo até voltarmos a ver grandes campeões em Espanha.