A vida para além dos extraterrestres!
Uma era de luxo…. é isso mesmo. É luxuoso poder assistir a tanta qualidade em cima da bicicleta no período que vivemos. Mathieu Van der Poel, Wout Van Aert, Julian Alaphilippe, Tadej Pogacar, Primoz Roglic, Sam Bennet e uma restante lista de corredores que, com a sua enorme qualidade e vontade de ganhar, colecionam dia memoráveis para os adeptos do ciclismo.
No entanto, há no pelotão internacional quem não viva os seus melhores dias e que por mais que tente não consegue recuperar um espaço que era seu nesta altura da temporada. Movistar Team, Bora – hansgrohe e AG2R Citroën Team passam por momentos que não podendo ser considerados de “agonia”, para lá podem caminhar.
No campo das clássicas a grande desilusão até ao momento será mesmo a a Bora – hansgrohe. Tudo certo que ainda a procissão vai no adro, mas com Peter Sagan fora de competição até ao Tirreno Adriático, a equipa tem passado ao lado das provas importantes de um dia e tem como melhor prestação o 7º lugar de Nils Politt, na Kuurne – Bruxeles – Kuurne. Não é só a inexistência de lugares de maior destaque que assusta nesta equipa, mas sim a falta de presença e atitude nas corridas. Basicamente têm passado despercebidos entre o pelotão. Para acentuar esta situação, a equipa tem perdido a luta directa pelas chegadas ao sprint, com Pascal Ackermann a ter como melhor resultado da época, até agora, um 3º lugar na 5ª etapa do Paris-Nice, perdendo grande parte dos sprints para o ex-ciclista da equipa Sam Bennet. Só mesmo a boa prestação de Maximilian Schachmann no Paris-Nice salva um início de época vazio e apático de uma equipa que na época passada, na mesma altura, tinha vários top 3 em provas por etapas e clássicas. Mais do que isso, era uma das equipas que comandava o pelotão mostrando uma grande vontade de vencer. A equipa tem outras valências além do tri-campeão mundial Peter Sagan para a época de clássicas, com nomes como o Daniel Oss, Nils Politt, Lukas Pöstlberger a terem qualidade para mostrar serviço nesta fase menos boa do seu líder.
Ao contrário da Bora – hansgrohe, não se pode dizer que a AG2R Citröen Team fosse uma das dominadoras do arranque da temporada, ou da época de clássicas. Certo é que, com as saídas de Roamin Bardet, Pierre Latour, Alexis Vuillermoz, Alxandre Geniez – homens apontados às provas por etapas e à alta montanha- e com a entrada de nomes como o de Greg Van Avarmaet, Bob Jungels, Michael Schär, Marc Sarreau, entre outros, existiu uma aposta clara no bloco das clássicas. A equipa até entrou bem com a vitória de Aurélien Paret-Peintre na Grand Prix Cycliste la Marseillaise, mas passou ao lado do fim de semana de abertura, com o 8º lugar de Avarmaet na Kuurne – Bruxeles – Kuurne a ser o resultado de referência entre as clássicas de maior dimensão decorridas até ao momento. Longe de poder importunar os dominadores da temporada, não se vê a espírito de uma equipa que investiu tanto nesta fase da época e que apresentava sempre uma postura lutadora, apesar de ter Oliver Naesen como o único de nome de maior referência entre os tubarões das clássicas. Terão de encontrar o seu espaço e mostrar outra atitude que, mesmo com a ausência de vitórias, justifique a aposta feita. Andar na roda e fechar Top 10 não vai ser razão suficiente para abandonar a luta pelas grande voltas e focar tudo nesta fase da temporada.
Não tanto no campo das clássicas, mas mais no campo das provas por etapas, encontra-se na Movistar Team, talvez, a maior desilusão da temporada até ao momento. Todos sabemos que Alejandro Valverde já não é o que era, mas uma equipa que dominava o pelotão nas provas de uma semana andar completamente desaparecida no pelotão é no mínimo lamentável. Tudo isso piora se pensarmos que essa equipa é a Movistar, que venceu, garantiu etapas e lugares de pódio em quase todas as provas de início de temporada dos últimos anos. Mais alarmante se torna quando percebemos que a equipa ainda não conseguiu fechar, em nenhum tipo de competição, um Top 5, nesta temporada. Os líderes da equipa em provas por etapas ainda mal competiram, é certo, mas isso não pode ser desculpa quando os seus rivais directos andam por aí a rebentar com o mundo do ciclismo etapa após etapa. Neste início de época salvaguarda-se a boa atitude mostrada pelo jovem gigante Matteo Jorgenson, que tudo tem dado para se manter junto dos melhores montanha a cima. De resto, ninguém deu por Enric Mas no Tour de la Provence, assim como não se tem visto Marc Soler no Tirreno Adriático, ou Valverde no UAE Tour ou na Strade Bianche. A equipa afunda enquanto aguarda o regresso de Miguel Angél López à Europa, na esperança que possa dar uma nova alma à equipa. Não se percebe como uma das melhores equipas do mundo nos últimos anos se conforma com uma atitude de equipa de segunda linha.
Num rumo completamente contrário, Van der Poel triturou a Strade Bianche, numa dimensão semelhante Primoz Roglic vai fazendo o mesmo no Paris-Nice. No Tirreno Adriático a luta pela vitória na geral está ao rubro, mas é Pogacar quem tem a vantagem sobre toda a concorrência, numa corrida que está melhor de dia para dia. Entre Alaphilippe, Van der Poel, Van Aert, Pogacar e tantos, mas tantos, nomes que têm atacado a corrida desde o primeiro dia, parece que ninguém quer ficar atrás de ninguém e que todos querem ser melhores do que eles próprios.
O ciclismo só teria a ganhar se as equipas que o Fair Play aqui identifica conseguissem recuperar a sua veia vencedora.