Andebol de Praia – um desporto em ascensão em Portugal

Ana CarvalhoAgosto 28, 20238min0

Andebol de Praia – um desporto em ascensão em Portugal

Ana CarvalhoAgosto 28, 20238min0
Ana Carvalho continua na sua explicação do porquê o andebol de praia merece destaque e qual é o seu crescimento

Voltamos a debruçar-nos na vertente do andebol de Verão, o andebol de praia! A nova época de pavilhão está já aí ao virar da esquina, mas o andebol de praia ainda tem alguns capítulos até fechar a atual época.

Relembrando algumas regras anteriormente faladas que tornam esta modalidade tão interessante, como os golos espetaculares em aérea ou pirueta. Mas não são só as regras ofensivas que distinguem este desporto. Importa também referir que o campo é bem mais pequeno que o campo normal de andebol de pavilhão. As medidas oficiais são de um campo de 27m por 12m, sendo a área de jogo 15m, enquanto área do guarda-redes tem 6m de comprimento.

A cada equipa é atribuída uma linha de jogo, que se mantém durante toda a partida e a zona de substituição é toda a linha da área de jogo. Desta forma um jogador pode sair rapidamente após ganhar a posse de bola, e entrar um outro jogador na zona de ataque, aumentando a possibilidade de ataques rápidos.

A forma de disputa do jogo é também bem distinta do andebol de pavilhão, já que o jogo é constituído por duas partes independentes de 10 minutos. Cada parte tem um resultado independente, o que faz com que ambas as equipas possam vencer uma parte, terminando o jogo formal empatado. Como um jogo de andebol de praia não pode terminar empatado, o desempate efetua-se pela realização de uma serie obrigatória de shoot outs, partindo depois para o sistema de morte súbita, caso o resultado se mantenha empatado. Os shoot outs são contra-ataques diretos onde a bola não pode nunca tocar o chão, desde o momento que sai da mão do atacante, até ao momento que recebe de volta do guarda-redes.

Tal como referimos anteriormente, existem jogadores com camisola diferente do restante da equipa que tanto podem ser o jogador especialista como o guarda-redes. Só pode estar um jogador de equipamento diferente dentro de campo, o que faz com que sempre que a equipa esteja no ataque, o guarda-redes saia da sua posição para dar lugar a um jogador ofensivo.

Assim que termina o ataque, este jogador especialista sai rapidamente para que o guarda-redes possa voltar a entrar. O andebol de praia é um jogo de 4 contra 4, mas com esta presença do jogador especialista, que tanto pode ser ofensivo como guarda-redes, o jogo joga-se sempre em desigualdade numérica: estando no ataque, a equipa ofensiva tem sempre 3 atacantes e um especialista; já na defesa, teremos 3 defesas apenas, sendo que o quarto elemento está na baliza.

Se fizermos o transfere para o andebol de pavilhão, esta é uma excelente forma de ensinar os mais novos a trabalhar a tomada de decisão ofensiva, já que os obriga a procurar sempre o jogador em melhor posição para finalizar. Na defesa, o facto de estarem em inferioridade, obriga-os a trabalhar no corte de trajetórias, a inteligência tática defensiva e o posicionamento perante o oponente, já que aliado à inferioridade numérica defensiva, no andebol de praia não é permitido o contacto, de forma a proteger a integridade física dos jogadores quando em momentos de jogo espetacular.

Claramente a melhor forma de aprender e de se apaixonarem pela modalidade é verem por vocês alguns jogos, e nada melhor que espreitarem as nossas seleções que tão bem representam a modalidade. Este foi um verão em cheio para as seleções seniores e jovens da modalidade, que começou bem cedo com o campeonato europeu na modalidade realizado na Nazaré em Maio último.

As excelentes participações de ambas as seleções (4º classificados em ambos os géneros) levaram ao apuramento para várias outras competições, tal como os jogos Europeus que se realizaram em Junho na Polónia, tendo-se classificado em 4º e 6º lugar, masculino e feminino respetivamente, os jogos do Mediterrâneo (no género feminino), que se irão realizar já em Setembro (7 a 14) e ainda o Mundial da modalidade que se realizará em 2024 na R. F. da China.  As seleções jovens de sub17 estiveram também presentes no europeu da modalidade em Junho passado na Turquia, obtendo a 8ª e 9ª posições, no feminino e masculino respetivamente.

Mas para existirem seleções de sucesso precisamos dos clubes que trabalham os jogadores a época toda, e este ano os grandes vencedores do Portugal Beach Tour foram as equipas dos GRD Leça – Love Tiles no feminino e a Escola de Formação de Espinho – Os Tigres Unlok Energy no masculino. Ambas as equipas revalidaram os títulos conquistados no ano anterior, com a equipa feminina de Leça a fazê-lo pela sexta vez, enquanto os EFE Os Tigres festejaram o tricampeonato. O pódio feminino ficou concluído com Nazaré BHT em segundo lugar e na terceira posição a equipa Escola de Formação de Espinho – Os Tigres Unlok Energy. No masculino os GRD Leça Spar terminaram o tour com os mesmos pontos que os vencedores, mas pelos critérios de desempate ficaram com a segunda posição. Em terceiro ficou mais uma equipa do Porto, os Vegetas BHC. Pelo segundo ano consecutivo que o pódio masculino foi igual.

Para os campeões e vice-campeões nacionais a época de praia ainda não terminou, pois garantiram lugar na Liga dos Campões que se realiza no final de Outubro em Porto Santo, Madeira, pelo segundo ano consecutivo.

Muitas são as figuras do andebol de praia nacional, mas a figura deste ano é claramente o jogador da Escola de Formação de Espinho- Os Tigres Unlok Energy, Gabriel Conceição, ou não fosse a própria EHF a conceder-lhe esse título.

Gabriel Conceição, um jogador que desde muito cedo se destacou no andebol de praia, sendo ainda muito jovem conseguiu o feito de vencer o prémio de Jogador do Ano do andebol de praia pelas mãos da Federação Europeia de Andebol, numa cerimónia onde foram condecorados os melhores dos melhores no andebol de indoor e de praia da época 2022/2023. O jogador dos EFE Os Tigres juntou este prémio ao título de MVP do Europeu realizado em Portugal. Um feito inédito que nos deve orgulhar enquanto país e enquanto comunidade do andebol de praia.

Agora que a modalidade está prestes a entrar no calendário olímpico, e com tanta qualidade e talento nacionais, e tantos feitos em seleções e clubes, será importante aumentar o investimento real no andebol de praia que sobrevive apenas de mecenas e pequenos patrocinadores e da boa vontade dos intervenientes.

Precisamos de investidores e também de mais formas destes investidores terem retorno, tal como transmissões televisas e informação do público através das redes sociais e comunicação social generalista. O andebol de praia é claramente uma modalidade em crescimento e em breve todos se apaixonarão por esta vertente.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS