“Underrated” ou simplesmente “esquecíveis”? – Dimitar Berbatov
O FairPlay pauta-se pelo fomento da discussão e troca de ideias de forma saudável. É com este espírito que incluímos na nossa rubrica o lendário avançado Búlgaro, Dimitar Berbatov. Muitos afirmarão que o avançado gozou de uma carreira invejável e que chegou ao seu potencial máximo. Concordando com o primeiro ponto, a discordância com o segundo ponto não poderá ser, para este autor, maior.
Nascido em Blagoevgrad em 1981, um jovem Berbatov começou a despontar no CSKA Sofia, numa fase em que as grandes estrelas búlgaras, como Stoichkov, Kostadinov e Balakov se encontravam na fase descendente das suas carreiras. Nascido num país a sarar da Dissolução da União Soviética em 1991, cedo se viu envolvido em conflitos, nomeadamente num rapto por Georgi Iliev, mafiosi búlgaro, com vista à sua contratação “coagida” (situação que foi solucionada por outro mafioso, dono do CSKA Sofia, Iliya Pavlov). É neste tumulto que Berbatov se desenvolve e começa a sua carreira futebolística, que duraria apenas 2 anos e meio no seu País Natal, de onde se transferiria para o Bayer Leverkusen.
É em Leverkusen que o seu futebol se aprimora e onde faz parte de uma grande equipa que viria a disputar a final da Liga dos Campeões em 2001/02 (perdida para o Real Madrid “Galático”). Permaneceria em Leverkusen até 2006, com épocas muito produtivas e que deram razão a quem o havia contratado. Em 2006 muda-se para terras de Sua Majestade, para um Tottenham que buscava começar a ombrear com os ditos “grandes”. Com 46 golos em duas épocas, a sua transferência para o Manchester United foi inevitável e os 38M€ (uma pechincha nos dias de hoje) cedo se provaram bem empregues.
Mas se Berbatov chegou a jogar por um super-United, em que medida é que poderá ser “underrated”? Um dos problemas das super-equipas é que são exímias em deixar esquecidos alguns dos seus intervenientes mais diferenciados por força do vedetismo. Berbatov chega a um United que contava com Rooney, Ronaldo e Tévez apenas para a frente de ataque. O búlgaro seria, sem dúvida, a wild-card numa equipa campeã da Europa.
Para além disso, Berbatov apresentava um problema: era muito “parado”. Um clássico Falso 9, Berbatov fazia a bola correr, em vez de correr atrás dela. Num clube com Cristiano Ronaldo, Rooney, Nani e Tévez como concorrência, esta característica não seria a mais vistosa no futebol frenético de Alex Ferguson. É aqui que entra o problema de Berbatov: o seu futebol estava desfasado, tanto temporalmente, como em termos de equipa, do paradigma à altura. O futebol ainda não se havia transformado no jogo de posse, procura entre-linhas e paciência que é hoje. A visão de jogo, inteligência e classe com que Berbatov tratava a bola fazia lembrar um Bergkamp, jogadores que foram sempre relegados para segundo plano em detrimento de outras estrelas da equipa (no caso de Bergkamp foi a clara ascensão de Henry que o ofuscou).
Os 56 golos marcados em 4 épocas no clube de Manchester auxiliaram na conquista de 2 campeonatos, mas acaba por sair de forma bastante discreta para o Fulham, onde passaria uma época e meia antes de se transferir para o Mónaco. A sua carreira terminaria em 2018 no Kerala Blasters da Índia, após 1 ano sem clube.
Pela Seleção marcou 48 golos em 78 jogos, marca impressionante na Europa com uma Seleção de 2ª ou até 3ª linha. Berbatov apresentava todas as características que fazem com que os fãs amem Firmino, Jonas, Totti, e muitos outros “falsos lentos”. No entanto, a História do Futebol reservou-lhe um lugar pequeno. Berbatov não era o melhor marcador, o mais rápido, o melhor cabeceador, o mais forte. Mas pensava à frente de todos e a sua classe permeava cada toque na “redondinha”.