Os Black Stars: um sonho ganês de Kwame Nkrumah
THE BLACK STARS… OU DE COMO ÁFRICA FOI DOMINADA PELO GANA EM 60
A partir do final da II Guerra Mundial, em 1945, e a progressiva conquista da independência das colónias africanas sob domínio dos países europeus ao longo das décadas seguintes, o nacionalismo africano foi encontrando voz em políticos e teóricos como: Kwame Nkrumah no Gana, Julius Nyerere na Tanzânia e Agostinho Neto em Angola.
Visto até então como um desporto das elites colonizadoras, o futebol foi uma das peças fundamentais na formação e aglutinação dos novos estados-nação. A história do futebol africano e ganês teve em Kwame Nkrumah um dos seus principais precursores. A seguir à independência do Gana da dominação britânica em 1957, o presidente ganês, tornou-se num dos principais pontas-de-lança e porta-vozes da causa independentista africana e do pan-africanismo. Em 1966, encabeçou o boicote das selecções africanas ao Mundial em Inglaterra e teve um papel crucial no desenvolvimento da Taça dos Campeões Africanos.
A nível interno, o líder ganês, também operou uma verdadeira revolução neste desporto. O futebol ganhou lugar de destaque na sua governação. Em 1957, numa manobra propagandística e mediática, que viria a ser também utilizada por outros governantes africanos nos anos seguintes, convidou a então estrela mundial dos anos 50 a visitar este país, o “Mago do Drible”, Stanley Mathews. A vedeta britânica foi recebida em Accra por uma apoteótica multidão de 80.000 pessoas. A partir do ano seguinte, em 1958, um conjunto de treinadores estrangeiros foi chamado a dirigir a selecção ganesa, George Ansley (1958), e Andreas Djolberg e Josef Ember (1959-1963).
A partir de 1963, os Black Stars – alcunha da selecção ganesa dada em homenagem à companhia de navegação fundada por Marcus Garvey, o intelectual afro-americano dos inícios do século XX, que preconizava o regresso de todos os africanos a África – dirigidos por Charles Kumi Gyanfi, ganharam a Taça das Nações Africanas nos anos de 1963 e 1965, bem como participaram nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964.
Todo este projecto ganhou ainda maior relevância na figura da equipa dos Real Republikans, fundados no inicio da década de 60, com o intuito de tornar este país numa potência do futebol mundial. Inspirados pelos feitos do Real Madrid na Europa, o princípio desta superequipa era reunir os dois melhores jogadores de cada equipa local. Dez desses jogadores eram a espinha dorsal da selecção nacional, conjunto que maravilhou o continente africano com o seu futebol.
Em 1962, Nkruma conseguiu trazer o todo poderoso Real Madrid ao Accra Sports Stadium para jogar contra os Black Stars. A equipa merengue vinha de cinco títulos europeus consecutivos e apresentou-se na capital ganesa sem condescendências: Alfredo Di Stefano e Ferenc Puskas, bem como, inúmeros titulares da selecção espanhola estavam em Accra para ganhar. O resultado foi disputado até ao fim, sendo que a equipa sub-sahariana esteve a ganhar quase até ao término do jogo. A partida ficou empatada 3-3.
Apesar dos relevantes sucessos futebolísticos, a deriva de entusiasmo nacionalista catapultada pelos feitos internacionais dos Black Stars foi efémera. Os Real Republikans tornaram as competições internas desleais. Despojados dos seus melhores jogadores, em 1965, as outras equipas boicotaram a liga ganesa.
O sonho de Kwayne N’Kruma terminou um ano depois. O malogro das suas politicas internas bem como a instabilidade que se fez sentir neste continente durante a década de 60 levaram a um golpe de estado em 1966. Os Real Republikans acabaram desmantelados e o futebol ganês entrou numa espiral de recessão.
O onze que alinhou contra o Real Madrid: Dodoo Ankrah; Frank Crentsil, E.O Oblitey, Ben Acheampong, Addo Odametey; Kofi Pare, Osei Kofi, Wilberforce Mfum, Mohammed Salisu; Edward Acquah, Edward Aggrey Fynn