Talento em Leiria: o reerguer de um bicho-papão
Quem, como eu, cresceu a ver o futebol português, sabe que há equipas que nos marcam pela sua história e carisma. Equipas que enchiam estádios e faziam a vida negra aos três grandes. Leixões, Salgueiros, Beira-Mar, Estrela da Amadora (que regressou este ano à elite) e, claro, a equipa que me inspira a escrever esta crónica: a União de Leiria.
Este clube viveu momentos dramáticos nas divisões secundárias do nosso futebol, depois de uma crise financeira em 2012 que quase o levou à extinção. Não obstante, soube renascer das cinzas e unir-se à sua gente.
Desde que entrou na Liga 3, em 21/22, o clube percebeu que precisava do apoio dos adeptos para alcançar os seus objetivos. Transformar o seu estádio numa fortaleza era essencial, e isto tornou-se uma realidade. É impressionante ver as bancadas cheias de leirienses nos dias de jogo — de encher de inveja muitos clubes de primeira divisão.
Os bilhetes são oferecidos a todos os que queiram assistir ao jogo, havendo festas e concertos em jogos especiais para atrair e fidelizar o público no Estádio Magalhães Pessoa. Com números recorde em dois anos seguidos em termos de assistência, a União de Leiria voltou aos campeonatos profissionais nesta época e não quer ficar por aqui.
Em nível de gestão, o clube mantém as portas abertas a quem queira acompanhar os jogos em casa, além de ter inaugurado o seu museu no final do mês de agosto e ainda contar com uma playzone para os mais novos se entreterem antes dos jogos.
Já no plano desportivo, fez um enorme esforço financeiro para manter a maioria dos jogadores que subiram o clube à Liga 2, como Vasco Oliveira, Jordan van der Gaag, Jair Silva e Afonso Valente. Além destes nomes, a UD Leiria ainda se reforçou com qualidade: num misto de experiência e juventude, o plantel conta com vários jogadores de primeira divisão portuguesa, como Pawel Kieszek, Marco Baixinho, Tiago Ferreira, Bura, Pedro Empis, Diogo Amado, Leandro Silva, Arsénio e Bryan Róchez.
Trata-se de um plantel bastante talentoso e com muita capacidade ofensiva. Tal “filosofia” vem da época passada — muito graças ao seu treinador Vasco Botelho, que está no clube desde 2022 e que conseguiu a conquista do campeonato no seu primeiro ano em Leiria. Vasco é um jovem treinador que sabe trabalhar e moldar os jovens que tem à sua disposição. Aliado a isso, gosta de ver as suas equipas a marcar golos nem que para isso tenha que sofrer alguns também.
Na opinião de quem já viu muitos jogos na segundona portuguesa, é uma aposta arriscada ter esse espírito, visto que se trata de uma liga muito exigente fisicamente e que conta com vários clubes experientes nestas lides de concorrer por um palco maior.
Pelos três jogos que vi em Leiria neste início de temporada, percebe-se que esta equipa é capaz de proporcionar momentos muito bons, graças à criatividade de Arsénio, à magia de Van der Gaag e ao virtuosismo de Jair. Por outro lado, a falta de astúcia, aliada a uma certa lentidão dos veteranos na defesa, deixa este elenco vulnerável demais às equipas mais fechadas e experientes desta divisão.
O meu desejo é que o futebol bonito e alegre triunfe o máximo possível, afinal esta cidade e o Magalhães Pessoa merecem esta atmosfera emocionante, para manter o ânimo que há dois anos acompanha este clube e que alimenta o sonho de voltar aos palcos nos quais já o vimos.