Sousa Cintra e Sporting CP: tem sido um regresso positivo do presidente?
Sousa Cintra tem realizado diversos negócios, mas, entre vendas, regressos e aquisições e alguns reveses, o restabelecimento da normalidade, mesmo num ambiente e conjuntura desfavorável tem sido até agora a sua actividade mais lucrativa.
O presidente da SAD em exercício voltou ao Sporting CP exibindo os mesmos jeitos e defeitos que já lhe conhecíamos, mas a soma de todos os factores tem sido positiva e a necessária neste momento.
Claro que há quem não goste e goze com o estilo ou falta dele, mas não será preciso uma dose muito grande de memofante para recordar momentos tão ou mais embaraçosos ainda muito recentes.
Se é verdade que na comunicação e em tudo na vida “dois maus não fazem um bom”, saúda-se que Sousa Cintra tenha centrado o seu discurso no desanuviamento interno, não valorizando as vozes de natural discordância dos que não se revêm na sua actuação.
AQUISIÇÕES
Até agora conhece-se apenas o nome de Nani, contratado sem custos na aquisição do passe. Um regresso assinalável, uma vez que o extremo será importante num balneário que perdeu muitas das referências recentes.
Uma aquisição cujas dúvidas se centram na motivação e na condição física, levando a questionar se a aposta não devia estar a ser feita num jogador mais jovem e em busca de afirmação.
Mas se Nani estiver bem do ponto de vista físico e quiser voltar a revelar a ambição de desempenhar novamente o papel de protagonista, quiçá com olhos na selecção, sem dúvida que justificará a aposta. A sua qualidade continua elevada para as necessidades do nosso campeonato.
Neste capítulo os dossiers nas rubricas “regressos” e “vendas” continuam a ser um importante óbice ao ataque ao mercado para posições há muito identificadas como carências. Aí, as posições “6”, “8” e “9” são as que requerem maior urgência. O regresso de Bas Dost, por exemplo, é insuficiente e o que há disponível neste momento para o lugar no plantel é incapaz de assegurar o que é necessário para a ambição de campeão. O emperrar de uma solução de qualidade para o lugar “6” ameaça também comprometer os horizontes da equipa.
Lembras que Viviano, Raphinha, Bruno Gaspar e Marcelo foram reforços ultimados na era de Bruno de Carvalho.
REGRESSOS
Claramente o melhor trabalho de Sousa Cintra, num dossier que requeria especial sensibilidade e habilidade negocial. Ter conseguido “reaver” os dois jogadores mais importantes dos que haviam rescindindo – William e Rui Patrício eram obviamente alvos impossíveis – significa de uma penada só importantes “reforços” quer do ponto de vista da qualidade do plantel, reforço da ambição e da estabilidade financeira da SAD.
Bas Dost e Bruno Fernandes são dos melhores jogadores da nossa Liga, fazendo parte do lote restrito daqueles que despertam a cobiça lá fora. O segundo em particular, cuja idade permite augurar um futuro brilhante. Um regresso que é também simultaneamente de reforço do balneário, onde ambos têm voz preponderante
Battaglia parece fazer jus ao nome e tornou-se num problema complexo. Há já vários dias que é dado como resolvido e o seu contrário, ao que parece os interesses do empresário e o do jogador não coincidem.
O falhanço da contratação de Rafael Leão, pelo valor e potencial, seria um regresso importante num plantel que deverá ser o que menos incorpora jogadores da formação dos últimos muitos anos.
Pelo silêncio e pela movimentação do seu empresário estamos perante um caso de claro oportunismo com os interesses do jogador a ficarem para segundo plano.
Como é que um jogador com este potencial “prefere” andar nas bocas do mundo por um processo deste teor ao invés de ser um nome comum à generalidade dos olheiros que avidamente procuram novos talentos no Europeu sub-19 é um daqueles casos que só se percebe quando olhamos para o futebol apenas como um negócio.
Na na na na na na na… ⚡️ pic.twitter.com/1D3yRjVYke
— Sporting Clube de Portugal (@Sporting_CP) July 21, 2018
VENDAS
A mais recente, a de Piccini, não poderia deixar de ser envolta em polémica. Para isso concorrem diversos factores, que vão desde razões secundárias, que nada têm a ver com o negócio em si mesmo, mas antes sim contaminadas pelo momento em que o clube vive.
Acontece que o sucesso deste negócio ficou condenado à partida pelo facto de o clube ter anunciado a aquisição de Bruno Gaspar, perfazendo três laterais para preencher dois lugares. A noção de excedente e necessidade de vender é um factor que o mercado não perdoa na hora de fazer o preço.
Não foi por isso uma venda espectacular, mas mais do dobro do valor que custou há um ano, pelo que está longe de ser um saldo. Acresce ainda o facto de que o clube de Valência fez valer a cedência de no encontro de verbas final.
A mesma sensação relativamente ao negócio de William. Não foi o melhor dos negócios mas talvez só mesmo Sousa Cintra para conseguir vender o que não é dele. Talvez os mais distraídos não levem isso em linha de conta mas essa é a situação real dos jogadores que rescindiram. Por isso Gelson foi apresentado sem grandes delongas pelo Atlético de Madrid, já em posse do seu certificado internacional.
Aqueles que acreditaram em promessas de amanhãs radiosos cheios de indemnizações chorudas garantidas talvez tenham percebido melhor que afinal isso não é assim tão linear, como a recente decisão da CAP dos processos de Patrício e, pasme-se (!), de Podence revela.
No caso de William, o acordo com o Bétis, longe de ser entusiasmante, é a ilustração do trabalho de contenção de danos que a recuperação dos passes significa. Neste âmbito, dos jogadores da casa que saíram, assinala-se o cuidado de William em ver o Sporting ressarcido e o descuido de Patrício, Gélson e Podence. Um capitão de tantos anos nunca se deveria esquecer que a sua questão não era propriamente com o clube mas com alguns dos seus representantes.
Um saldo bastante positivo para um presidente que está em gestão e que já noticiou o facto de não continuar no Sporting CP, não equacionando sequer ir a eleições em Setembro.