Seleção Nacional feminina: as dores necessárias do crescimento

Cristiana PinaAbril 18, 20235min0

Seleção Nacional feminina: as dores necessárias do crescimento

Cristiana PinaAbril 18, 20235min0
Empate frente ao País de Gales e um desaire ante o Japão, foram os dois resultados finais da selecção nacional feminina na preparação para o Mundial

O último estágio da seleção nacional feminina, antes da convocatória para o inédito mundial na Austrália e Nova Zelândia, trouxe à seleção portuguesa vários desafios e várias posturas táticas. Se os resultados à partida não são positivos já que Portugal perdeu por 3×1 frente ao Japão, no primeiro particular, e empatou no jogo seguinte (1-1) frente ao País de Gales; as sensações em campo podem-se considerar positivas. Em primeiro lugar, Francisco Neto utilizou 24 das 25 jogadoras convocadas, e depois iniciou os dois confrontos particulares, com dois onzes titulares diferentes, algo que prova a qualidade do plantel à disposição do selecionador, mas também um voto de confiança a demonstrar que todas as jogadoras contam.

Formação frente ao Japão: Inês Pereira – Ana Borges- Carole Costa – Ana Seiça- Joana Marchão – Dolores Silva – Andreia Jacinto – Tatiana Pinto – Ana Capeta- Diana Silva – Jéssica Silva

Frente ao Japão, Portugal apresentou duas versões de si mesmo: uma até ao golo apontado por Ana Capeta, mas que fica na retina pela excelente jogada coletiva de contra-ataque, realizado em menos de 14 segundos. O “filme” começa com Ana Seiça a lançar uma bola longa à procura de Jéssica Silva, que combina com Diana Silva, e que termina com Ana Capeta a finalizar. Uma jogada deliciosa entre o ataque português com passes curtos, e uma leitura e abordagem fantástica das três avançadas. Uma jogada que demonstra a evolução das jogadoras portuguesas, e da capacidade tática que Portugal tem aprimorado ao longo dos anos.

Um golo que curiosamente baralhou Portugal no jogo, pois a partir daqui, Portugal cometeu alguns erros não forçados, e algumas leituras de jogo erráticas. Nesse jogo para além de Ana Seiça, que para mim foi a melhor em campo: uma verdadeira bombeira de serviço, que operou vários cortes decisivos na área portuguesa, e que demonstrou que tem capacidade total para se assumir como titular no campeonato do mundo; também Inês Pereira demonstrou que pode ser uma opção de qualidade na baliza, decisiva e com várias defesas importantes, a guarda-redes do Servette demonstrou ao selecionador que pode voltar a confiar-lhe a titularidade em breve. Num jogo em que Diana Silva jogou como uma “espécie de dez” com Jéssica e Ana Capeta a jogar como avançadas, Portugal demonstrou qualidade no ataque a espaços.

Várias jogadoras que não são habituais titulares, demonstraram que têm qualidade para o ser, e por isso prometem ser boas dores de cabeça para Francisco Neto. Um bom teste frente à seleção nipónica (10ª no ranking FIFA), e que visou preparar um estilo de jogo parecido ao que Portugal vai encontrar no mundial frente aos Estados Unidos e Países Baixos.

Formação frente ao País de Gales: Patrícia Morais – Catarina Amado- Sílvia Rebelo – Diana Gomes- Lúcia Alves-Fátima Pinto- Ana Rute- Francisca Nazareth-Andreia Norton-Carolina Mendes – Telma Encarnação

A seleção portuguesa partiu para este jogo como favorita, e transmitiu-o em campo, mesmo com um onze bastante diferente do habitual; recordo que Francisco Neto promoveu 11 alterações para este jogo em comparação com a alineação apresentada frente ao Japão, e por isso as jogadoras demoraram um pouco a encontrar-se no jogo. Portugal era na teoria favorito, no entanto esbarrou na postura física aplicada pela seleção galesa.
O País de Gales é uma seleção que se faz valer da sua componente física, algo que melindrou um pouca a seleção nacional feminina, mais técnica e menos intensa. Apesar disso as melhores oportunidades do jogo foram para a equipa nacional, que ficou a dever a si própria um resultado melhor. O golo português surgiu ao minuto 50 com uma excelente jogada individual de Telma Encarnação, que aos poucos está a demonstrar a sua qualidade na elite nacional.

O golo do País de Gales surgiu de uma bola parada, por Rachel Rowe. As bolas paradas são há muito o calcanhar de Aquiles da seleção portuguesa, e este jogo demonstrou que a equipa continua a sofrer com esses momentos. Um problema que Francisco Neto precisa de solucionar, porque é um momento crucial do jogo que uma equipa que quer chegar ao topo tem de aprender a contornar.

Mesmo que à primeira vista estes resultados possam parecer mais negativos do que o esperado, diria que foram testes necessários para demonstrar a todos que apesar da evolução fantástica do futebol feminino nacional, Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer. Que é necessário dar-se cada vez mais condições a estas jogadoras, e abrir espaços competitivos para a nova geração que está a crescer. De Kika Nazareth à Andreia Jacinto, da Telma Encarnação à Ana Seiça, todas elas já demonstraram que fazem parte do presente e do futuro brilhante que a seleção nacional feminina tem pela frente.


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