Como Pressionar no Futebol? As Lições de Guardiola e Klopp
É quase unânime dizer que no atual momento do futebol inglês, quando nos cingimos aos últimos 4 anos, que o Manchester City de Guardiola e o Liverpool de Klopp são as duas melhores equipas por terras de Sua Majestade e as principais candidatas nas casas de apostas ao título da Premier League.
Com dois planteis absolutamente luxuosos e dispendiosos e com dois dos maiores técnicos mundiais no banco, estas equipas tem todos os ingredientes necessários para apresentarem futebol de elevadíssima qualidade, e felizmente para nós admiradores da modalidade é exatamente isso que recebemos.
Apesar de tudo, o futebol apresentado pelo alemão é bastante diferente do apresentado pelo espanhol, este aspeto leva os confrontos para um novo lado para lá da simples luta pelo título, ou batalhas individuais… é uma batalha de sistemas e ideologias de jogo.
Um dos aspetos em que os técnicos mais divergem é na maneira como fazem a sua pressão, um dos momentos chave que define o jogo de futebol.
Pressão de Guardiola (Manchester City)
Guardiola é um técnico influenciado pela filosofia de Cruijff, e começou a sua carreira a aplicar a famosa regra dos 6 segundos, que significa recuperar a posse de bola em 6 segundos. Está é uma ideia que cria um enorme desgaste nos jogadores e que de certa maneira desequilibra a equipa defensivamente caso o adversário a consiga ultrapassar, algo que pode acontecer frente a outras equipas de topo.
Isto levou Pep a adaptar-se no City e a usar um sistema mais seguro e menos intenso, cuja ideia base é obrigar o adversário a “jogar mal” e que permita construir desde trás.
Quando se tenta desenhar o esquema de Guardiola é com isto que se parece. O jogador adversário tem a bola, mas todas as suas linhas de passe estão fechadas com uma marcação direta e que se vai afunilando sobre o portador da bola. Perante esta situação o defesa é obrigado a procurar a referência ofensiva e colocar uma bola longa, sendo que aqui Guardiola espera que um defesa central ganhe a bola, fruto da sua maior qualidade técnica, e que o Manchester City possa construir desde trás como mais gosta.
Os jogadores também são escolhidos a pensar nesta filosofia. De Bruyne, Gundogan ou David Silva não são jogadores explosivos ou muito intensos, são jogadores que privilegiam a bola no chão e a qualidade no passe e que se sentem confortáveis a jogar com marcação em cima deles, algo que acontece frequentemente porque os jogadores adversários estão em cima dos do Manchester City quando estes recuperam a bola, uma vez que os jogadores do City já os estavam a marcar anteriormente.
Pressão de Klopp (Liverpool)
Jurgne Klopp tem uma filosofia diferente da de Guardiola. Com uma pressão forte e em cima do adversário a ideia passa por recuperar a bola o mais adiantado possível para depois utilizar a velocidade e capacidade atlética da equipa para realizar ataques venenosos e em superioridade.
Ao contrário de Pep, Klopp não dá mais importância à consistência defensiva, deixando muitas vezes os defesas em inferioridade númerica, para poder ganhar em números na pressão ofensiva.
Com um hexágono (a azul) a fechar todas as linhas de passe e com Firmino a deambular entre uma marcação ao central ou ao médio mais recuado (a preto), o portador da bola entra numa espécie de armadilha em que parece que pode jogar num dos seus médios (a vermelho). E é aqui que entra a vertente mais física do jogo do Liverpool. Com a capacidade atlética de Henderson, Wijnaldum e Fabinho, os médios, percebendo que o defesa vai cair na armadilha, antecipam-se ao médio adversário, recuperando a bola já no meio campo ofensivo, criando contra-ataques quase sempre letais.
Com as flechas Mané e Salah, o Liverpool consegue depois de recuperar a bola utilizar o espaço entre o central e o lateral para criar uma situação de 3×2 absolutamente letal.
Este sistema depois torna-se muito mais móvel em situações onde o extremo feche o central e liberte o lateral, mas o princípio é sempre o mesmo: Criar uma “falsa” linha de passe e ser mais rápido quer fisicamente quer mentalmente para conseguir recuperar a bola.
Mais uma vez e tal como o seu colega de profissão, Klopp precisou de escolher “a dedo” os jogadores que queria para implementar este sistema de jogo, numa tarefa demorada.
As diferenças entre Guardiola e Klopp.
Como já foi falado e é fácil de perceber estes sistemas são bem diferentes. Por um lado Pep não quer que o seu adversário possa construir jogo e quer obrigá-lo a jogar longo na frente, onde acredita que com Laporte ou Stones acabará por ser mais forte, tendo em Éderson o seu aliado para as bolas nas costas, por outro temos Klopp que quer o adversário a construir mas controlando a maneira como essa construção é feita dando uma “falsa sensação de autonomia” e atacando em antecipação no momento em que o passe é feito.
Resumidamente, Klopp pressiona para recuperar a bola alto e finalizar em contra-ataque enquanto que Guardiola pressiona para ganhar a posse de bola e poder construir desde trás.
Enquanto que Klopp com o seu modelo remata mais e cria mais chances por jogo, Guardiola condiciona o jogo do adversário não deixando que eles troquem a bola pelo chão, fazendo com que os adversários acabem os jogos com muitos poucos passes curtos.
Outra grande diferença é a compensação. O modelo de Guardiola está mais preparado para uma eventual perda de bola porque não sobe os seus dois laterais (Walker forma uma linha de 3 atrás), ao passo que o do Liverpool ao chamar os seus laterais para a frente pode deixar os centrais em inferioridade algumas vezes, um risco que Klopp toma fruto da confiança que tem na sua linha defensiva onde Van Djik é quase intransponível no drible.
E o leitor? De qual dos modelos gosta mais? Encontra mais vantagens e desvantagens?