O que esperar do novo 3x4x3 de Ruben Amorim no Sporting?
Com os principais campeonatos parados um pouco por todo o Mundo, com especial destaque para os campeonatos do Velho Continente, e numa altura em que paira no ar a dúvida sobre quando se vão retomar estes mesmos campeonatos, esperando que seja mesmo possível retomar e jogar as competições até ao fim, começa a ser obrigatório falar do que podemos esperar no regresso das competições em Portugal.
Em especial para o Sporting, que investiu 10 milhões de euros num treinador que realizou apenas 1 jogo (bastante atípico), antes da paragem que se verifica nas competições.
Como disse o presidente Frederico Varandas na apresentação do novo técnico, esta é uma contratação para a próxima temporada, com um dado curioso: Rúben Amorim é mais que treinador é o homem escolhido para liderar o projeto.
Este facto mostra uma enorme mudança entre o paradigma até aqui idealizado com Beto a ser o Team Manager e Hugo Viana a ser o responsável pelo futebol leonino, com Viana a perder poder com a chegada de Rúben Amorim e de um possível diretor desportivo.
No fundo Varandas parece querer fazer de Rúben Amorim aquilo que Jorge Jesus foi nas equipas que comandou desde que chegou ao Benfica.
Ora uma coisa que é clara acerca do novo técnico é que vai querer implementar em definitivo o 3x4x3 no Sporting. Algo que Keizer e Silas tentaram mas sempre com grande insucesso, nomeadamente por dois motivos: Falta de jogadores com as características necessárias e falta de dinâmica no modelo.
É importante perceber quais os segredos por trás do 3x4x3 que é uma tática que bem utilizada pode dar o equilíbrio necessário a defender com uma linha de 5, mas também um elevado número de atletas em processo ofensivo.
Em primeiro lugar a capacidade física da equipa tem que melhorar bastante. O Sporting é uma equipa que “rebenta” muito cedo nas partidas, mostrando claras debilidades físicas em muitos jogadores do plantel, algo que “mata” uma equipa num 3x4x3, nomeadamente se os laterais não tiverem capacidade para aguentar o seu corredor inteiro durante os 90 minutos. A prova disso é que nenhum dos laterais titulares finalizou a partida com o Aves.
Outro ponto determinante nesta dinâmica é a escolha dos centrais da equipa. Quando se joga com 3 passa a ser obrigatório ter 5 centrais preparados para assumir a equipa principal, sendo que 3/4 deles tem que ter uma característica muito específica: têm que ser centrais velozes.
A velocidade é um fator tão determinante que levou Keizer a receber Ilori em janeiro de 2019, uma vez que é um dos centrais mais rápidos que o Sporting podia contratar (recorde de velocidade na academia ainda lhe pertence).
Com os laterais mais subidos e com a necessidade de dar largura em momento de construção os centrais ficam com uma área de ação bastante superior para atuar e terão que estar preparados para “dobrar” os laterais nos momentos em que estes não consigam recuperar a tempo. A juntar a isto e como ficam encarregues da construção, todos os centrais necessitam de ter uma capacidade acima da média na construção do jogo e na qualidade do passe.
Na frente de ataque desengane-se quem acha que os 3 da frente funcionam como os 3 da frente num 4x3x3. Se num 4x3x3 a ideia passa por criar triangulações médio-ala-lateral para ganhar espaço e colocar na área onde aparecem, pelo menos, o avançado-médio-extremo, num 3x4x3 isto não pode acontecer.
Por uma razão muito simples que é a falta de médios. Nesta tática a ideia é subir os dois laterais para que sejam os extremos e juntar os 3 da frente para posições mais centrais. No caso leonino parece claro que Vietto se junta a Sporar e Plata ou Camacho ficam como jogadores móveis para explorar a posição “10”. No Braga era Trincão ou Wilson Eduardo o homem que se juntava a Paulinho ou Rui Fonte com Horta a ser o “joker” da equipa.
Aos médios é pedido algo completamente diferente. É mais ao menos claro que um dos médios continua a ser o médio mais defensivo e de “destruição” com Battaglia a assumir o papel que era de Palhinha no SC Braga. Ao segundo médio é pedido que tenha boa capacidade de transporte para “queimar linhas”, muito ao estilo de Wendel, e ao mesmo tempo para ser o jogador que se encontra à entrada da área para finalizar de longe como Novais e Fransérgio no Braga, não sendo tão habitual a sua entrada para zonas dentro da grande área. É super importante que os médios não tenham medo de travar jogadas logo à nascença em zonas “não perigosas” onde podem permitir a reorganização da equipa sem serem admoestados.
Para Silas e Keizer isto não funcionou porque estas dinâmicas não eram compreendidas pelos jogadores. Este é um modelo que exige uma enorme inteligência tática e uma grande preparação física, por essa mesma razão apenas vimos grandes equipas e grandes jogadores a utilizarem este sistema na perfeição, como o Barça de Cruijff ou o Chelsea de Conte e que exige características muito específicas como as de Victor Moses que passou de essencial como lateral direito no Chelsea para dispensável quando o sistema foi alterado.
Para funcionar Rúben vai precisar de muitos reforços e não é estranho o interesse em homens do Braga como Esgaio e Sequeira, porque neste Sporting os laterais, para lá de Acuna, não parecem capazes fisica e taticamente de realizarem as suas funções.
Outro fator curioso é que quando Neto parecia claramente à frente de Ilori na luta por um lugar no plantel do próximo ano, os papéis parecem ter-se invertido e o internacional português pode mesmo ser dispensado ao não apresentar a velocidade ou a capacidade de marcação necessárias para qualquer umas das posições mais recuadas.