O que esperar do Celta de Carlos Carvalhal?
Carlos Carvalhal foi apresentado como treinador do Celta de Vigo no dia dois de novembro de 2022 sucedendo ao argentino Eduardo Coudet. Depois de uma curta experiência ao serviço do Al Wahda dos Emirados Árabes Unidos, o treinador procura em terras galegas cimentar o bom futebol praticado em Vila do Conde e em Braga. Ao serviço dos galegos, Carvalhal conta com uma derrota logo na sua estreia por 1-2 frente à surpresa da La Liga Osasuna, um empate a zero em casa do Rayo Vallecano e uma vitória em tons de goleada por 1-6 ao modesto AD Algar Surmenor das divisões inferiores para a Taça do Rei. A questão que se coloca é: o que esperar deste Celta daqui para a frente?
Apesar do pouco tempo de treino, e do facto de aquando da chegada de Carlos Carvalhal ao Celta estarmos em contagem decrescente para o Mundial 2022 e numa série muito regular de jogos, foi possível desde logo observar as diferenças face a Coudet e perceber aquilo que o português quer para esta equipa. Ao contrário do que acontecia com o argentino que montava a equipa num 4x1x3x2 à procura de sistemáticos movimentos de rotura e de ataque à profundidade, o português trouxe uma nova forma de ver e de abordar o jogo, e isso ficou bem visível logo nos primeiros três jogos.
À semelhança do que acontecia em Vila do Conde e em Braga, Carvalhal trouxe para a Galiza o seu tradicional 3x4x2x1 priorizando a posse de bola, um futebol apoiado e à procura dos espaços entrelinhas para então depois soltar nos dois alas que jogam sempre muito abertos. A grande característica deste sistema de Carvalhal tem a ver com o posicionamento de um dos três centrais, que neste caso será executado pelo ex-jogador do Barcelona Óscar Mingueza: durante o processo ofensivo será central pela direita e durante o processo defensivo irá atuar como lateral direito, tal como acontecia com Matheus Reis no Rio Ave, permitindo assim a Nuno Santos fazer todo o corredor, e no Braga com Sequeira que libertava Galeno de tarefas mais defensivas.
O Celta de Vigo ocupa atualmente a 17ª posição da LaLiga com três vitórias, três empates e oito derrotas em 14 partidas realizadas, sendo que apenas duas foram com o português no banco. O grande desafio de Carvalhal passa por incutir o espírito de vitórias dentro do balneário e ao mesmo tempo ressuscitar o público dos Balaídos que nas últimas partidas tem estado um pouco distante da equipa face aos maus resultados.
Devido à paragem de um mês para o campeonato do mundo, Carvalhal teve a oportunidade de fazer uma “pré-epoca” com a equipa, trabalhar e cimentar os seus processos e ideias de jogo para que, cada vez mais, a equipa esteja conectada e ligada com as ideias do treinador. Outra boa noticia para o técnico teve a ver com o facto de durante a paragem ter particamente todo o plantel à sua disposição (apenas o norte americano Luca de la Torre e o ganês Joseph Aidoo estiveram no mundial), o que certamente facilitou a assimilação do processo.
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? @carloscarvalha2 analiza el partido ante el @BrentfordFC de este martes en Londres
— RC Celta (@RCCelta) December 12, 2022
Como será este Celta daqui para a frente?
Partindo inicialmente duma estrutura de 3x4x2x1, esta equipa do Celta será elástica do ponto de vista tático e com capacidade para interpretar os vários momentos do jogo. Na baliza, Marchesin deverá continuar a ser indiscutível, aliás, o próprio Carvalhal já admitiu que o guarda-redes ex-Porto é de “classe mundial”; o trio de centrais será composto por Unai Nunez à esquerda, Joseph Aidoo ao meio e Mingueza à direita com a dupla função que já acima foi referida; no corredor esquerdo jogará o espanhol Javi Galan, trata-se de um ala veloz com muita propensão ofensiva, contudo com algumas limitações do ponto de vista defensivo e Cervi nesse aspeto pode ser também uma opção; do lado direito talvez esteja a maior dúvida neste momento, a condição física do veterano Hugo Mallo não oferece 100% de garantias, Kevin Vasquez não agrada e Carles Perez não convence, contudo a opção deverá recair mesmo sobre este último devido à sua capacidade de drible e de cruzamento.
Apesar de ser esquerdino, Perez sente-se confortável a jogar sobre a direita; no meio-campo deve jogar o peruano Renato Tapia como médio mais defensivo e a promessa espanhola Gabi Veiga como médio ofensivo. Embora no papel surjam lado a lado, Tapia terá comportamentos de número seis e Veiga de oito/dez. Fran Beltran também pode ser opção para a posição seis, mas o peruano parte à frente na hierarquia por ter uma grande capacidade de passe e de construção de jogo, aliando a isso boa capacidade de pressão sobre o portador da bola. Gabi Veiga é indiscutível e é talvez o jogador mais entusiasmante deste plantel. Com apenas 20 anos demonstra uma maturidade fora do comum, assume o jogo como poucos, dita os tempos e ritmos de jogo, acelera, finta, assiste e tem uma boa relação com a baliza.
É claramente um faz tudo em campo e sem dúvida que ainda vamos ouvir falar muito dele; os dois homens atrás do ponta de lança serão o capitão e grande referência ao longo dos anos Iago Aspas e ainda o jogador emprestado pelo Sevilla Óscar Rodríguez. O capitão Aspas é um jogador com uma grande capacidade de decisão no último terço do terreno, seja a finalizar ou a assistir, a prova disso são os 14 golos e 15 assistências na época 20/21. Mesmo não tendo a disponibilidade física de outrora continua a ser imprescindível, visto que a qualquer momento pode decidir o jogo.
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— RC Celta (@RCCelta) December 8, 2022
Por outro lado, Óscar Rodríguez é um jogador mesmo ao gosto de Carlos Carvalhal. Muito forte a jogar entrelinhas e em espaços curtos, bom a transportar e a levar o jogo para a frente, tem ainda uma receção quase sempre orientada para a sua próxima ação. Necessita de melhorar a sua relação com a baliza se almejar outros voos para a sua carreira, pois tudo o resto está lá; como referência atacante jogará o português Gonçalo Paciência.
Todos sabemos das qualidades de Paciência, contudo o mesmo necessita de provar que está preparado para outros palcos. As experiências na Alemanha ao serviço do Eintracht de Frankfurt e do Schalke 04 foram muito marcadas por lesões e o português procura na Galiza uma segunda oportunidade para a sua carreira. Apesar de tudo isto, Paciência continua a ser um jogador muito forte fisicamente e a jogar de costas para a baliza, é evoluído tecnicamente e será importante na maneira como joga em apoios e espera pela chegada dos médios ou dos segundos avançados.
Espera-se deste Celta de Vigo e destes jogadores maturidade tática, mas acima de tudo espera-se bom futebol e qualidade de jogo como é apanágio nas equipas de Carlos Carvalhal. As soluções são mais que muitas e os jogadores têm a capacidade de jogar em diversas posições tornando assim mais imprevisível o jogo da equipa. Gabi Veiga pode jogar como segundo avançado para além de médio centro, Óscar Rordíguez pode jogar também como médio centro, Aspas pode jogar como única referência ofensiva, Cervi pode jogar tanto nos três da frente como no corredor esquerdo ou Carlez Perez que pode também desempenhar a função de segundo avançado. Enfim, existe toda uma diversidade tática que pode ser explorada por Carvalhal de modo a ter soluções e a tornar cada vez mais a equipa imprevisível e com a tal “elasticidade tática”.
O Celta de Vigo volta a entrar em campo no próximo dia 22 frente ao Gernika para a Taça do Rei. Já o regresso à La Liga está marcado para dia 30 de dezembro e logo com um teste de fogo frente ao Sevilla, onde já esperamos ser possível ver uma equipa à imagem do português Carlos Carvalhal.
El Rey del Norte se llama Iago Aspas Juncal. pic.twitter.com/QZpMA7c8Ac
— RC Celta (@RCCelta) December 13, 2022