O caso Palhinha e a “guerra” entre a verdade e a mentira
Não creio que de melhor forma poderia introduzir esta rubrica, acima de tudo pela similitudes do popular ditado com a profissão do interveniente principal. Expliquemos, antes de mais. Completam-se, no dia em que redijo este escrito, 14 dias desde que estalou a polémica, essencialmente de teor disciplinar, em redor do jogador do Sporting João Palhinha.
Situando os leitores, Palhinha foi jogar ao Estádio do Bessa, para a 15º jornada da Liga, “tapado” com 4 cartões amarelos cujos, para aqueles não tão a par da competição, limitam o jogador a não poder levar mais nenhum cartão, sob pena de preencher o limite de 5 cartões amarelos que impedem o contributo daquele no próximo jogo do campeonato. Jogo esse que, no caso da turma de Alvalade, revestia tamanha importância pois iria defrontar o rival Benfica, e onde uma vitória catapultaria os pupilos de Amorim para uma distância de 9 pontos sobre os encarnados na tabela classificativa.
Como estará ao alcance do mais “astuto”, João Palhinha acabou mesmo por ser admoestado com a quinta cartolina amarela, mesmo tendo sido especificamente poupado por Rubén Amorim, e em campo há cerca de cinco minutos, num jogo bastante bem controlado disciplinarmente por Fábio Veríssimo até tal momento. O Sporting acaba por vencer a partida confortavelmente, porém o sabor “amargo” deixado por tal decisão, impele a direção do clube verde e branco para os tribunais portugueses. É neste exato momento que se inicia uma autêntica mixórdia judicial, que se vem perpetuando até hoje.
Não confortados com o veredicto do árbitro Fábio Veríssimo, o Sporting recorre ao Conselho de Disciplina, órgão da Federação Portuguesa de Futebol responsável pela regulamentação disciplinar própria à Liga Portuguesa, com o objetivo de “salvar” Palhinha para o dérbi. Como tem sido política no seio deste órgão administrativo, nomeadamente com a presidência de Cláudia Santos, mesmo que os árbitros venham posteriormente a admitir (legalmente, refira-se) eventuais erros ou falhas disciplinares cometidas no calor dos 90 minutos, a decisão que estes tenham tomado nas quatro linhas prevalece-lhes.
Toda esta temática levaria a um campo de debate onde não nos podemos colocar, pela extensão que traria ao artigo, e que, apenas a título de curiosidade, vem fugindo à política adotada pelos prévio Presidentes do órgão em questão.
Assim, entendido o modus operandi de Cláudia Santos e da sua equipa, o desfecho da providência requerida pelo Sporting foi naturalmente improcedente, com o órgão social a decidir-se pela manutenção da suspensão do jogador João Palhinha, relegando-o assim do dérbi.
Contudo, e insistindo na justiça portuguesa, o Sporting decidiu apresentar um recurso, da decisão última do CD, num Tribunal superior – neste caso o Central Administrativo do Sul – e a entidade acabou por suspender a eficácia do castigo imposto a João Palhinha.
Com a rapidez e eficácia que caracteriza o nosso sistema judiciário, o clube de Alvalade é notificado deste juízo a cerca de seis horas do início da partida, impedindo o atleta de participar devidamente no estágio da equipa, e obrigando Ruben Amorim a uma decisão delicada que poderia ser, em tudo, comprometedora no seio do seu plantel: ou optava por colocar Palhinha à última da hora, relegando o jogador que treinou toda a semana na posição do médio, para o banco (Matheus Nunes) ou manteria Matheus e João Mário no meio-campo da equipa e, assim, abdicaria de um dos principais jogadores do campeonato e da sua equipa, como tem vindo a ser João Palhinha. A decisão do treinador acabou por ser, digamos, a mais proveitosa.
Passados alguns dias, já após a realização do jogo, a batalha estende-se até à plataforma administrativa máxima de decisão – o Supremo Tribunal de Justiça – com o Conselho de Disciplina da FPF a colocar em questão a decisão do Tribunal Central Administrativo do Sul a “favor” do Sporting, perante um infundado pedido, e citamos: “numa alegação genérica sobre a inconstitucionalidade do sancionamento em processo sumário, alegadamente por não se garantir o exercício do direito de defesa”.
Por um lado questionamo-nos se todo este imbróglio judicial favorece o futebol português e todas as polémicas em que infelizmente, se envolve com frequência quase diária. Noutro espetro, acreditamos que apenas com desmedida insistência estará a chave na busca de uma “verdade desportiva” que em tantos momentos foge em Portugal, e que urge por aparecer e extinguir inúmeros fogos causados por tantos intervenientes.
Caso Palhinha, explicado de forma simples para que todos entendam:
1º O jogador foi sancionado com um jogo de suspensão, no âmbito de um processo sumário pelo conselho de disciplina da FPF.
2º Dessa decisão o Sporting recorreu para o pleno do Conselho de Disciplina (CD)
— João Castro | 1906 (@castrojr76) February 3, 2021