O novo 6 à moda de Turim

Tomás da CunhaOutubro 10, 20173min0

O novo 6 à moda de Turim

Tomás da CunhaOutubro 10, 20173min0
Rodrigo Bentancur pode ser a solução que Allegri procura.

Depois de três scudettos conquistados, Allegri tem em mãos o maior desafio interno desde que é treinador da Juventus. O Nápoles nunca pareceu tão próximo de derrubar a hegemonia da Vecchia Signora e o técnico campeão precisa de encontrar soluções que permitam ultrapassar a saída de Bonucci e as lesões constantes dos homens do meio campo.

Apesar de os resultados não serem anormais, o nível exibicional do emblema de Turim não tem sido particularmente convincente. Além da perda de qualidade na saída de bola desde trás, a equipa tem sentido dificuldades de criação no último terço e só o soberbo início de época de Dybala (a caminho do melhor registo da carreira) tem servido para mascarar a quebra colectiva.

Com os problemas identificados, cabe a Allegri a responsabilidade de devolver à sua Juve a consistência de outros tempos. Antes de mais, urge corrigir o défice de capacidade na construção a partir de zonas recuadas. Sem Bonucci, referência em campo e líder espiritual, os campeões perderam o central mais dotado do ponto de vista técnico e nenhum dos outros se aproxima da qualidade com bola do actual jogador do AC Milan. Nos últimos encontros, e após várias exibições menos boas de Rugani, a aposta tem recaído em Chiellini e Benatia, ambos competentes mas sem a criatividade necessária para provocar desequilíbrios. Mattia Caldara, que acabou por ficar na Atalanta, está destinado a ser o sucessor natural de Bonucci.

Mais à frente, não deixa de ser surpreendente a rápida afirmação de Rodrigo Bentancur. Devido às lesões prolongadas de Marchisio e Khedira e a alguma instabilidade física de Miralem Pjanic, Allegri viu-se obrigado a lançar o uruguaio às feras (a estreia como titular aconteceu em Camp Nou, num contexto altamente complicado) e ganhou uma opção de categoria para o duplo pivô. Aos 20 anos, e ainda com uma enorme margem de progressão, o ex-Boca Juniors está na fase ideal para ser moldado.

Bentancur poderá ser o que Allegri quiser. Tem características técnicas e físicas excepcionais, faltando-lhe apenas um maior conhecimento táctico e uma atitude competitiva mais adequada ao alto nível (parece algo displicente em certos momentos), dois aspectos em que já se nota alguma evolução.

O uruguaio, que tem feito dupla com Matuidi, assume o papel de pensador em terrenos mais recuados, podendo estar quase sempre de frente para o jogo. Estas funções protegem-no da tendência para transportar em demasia (mais notória quando joga como interior), porventura um dos seus principais defeitos. Dá menos toques na bola, toma melhores decisões e evita as correrias que nada acrescentam. Sem surpresa, a chegada à Europa vai permitir que se torne um futebolista mais maduro.

A nova geração charrua está repleta de jogadores tecnicistas, que se afastam bastante do perfil de “guerreiro” a que estamos habituados. Bentancur, como Federico Valverde, é um médio muito forte em posse e oferece muitas possibilidades à sua equipa. Mais recuado ou como interior, a elegância das suas acções com bola não deixa dúvidas. É sobretudo no momento defensivo que o jovem terá de provar que é capaz de agarrar a titularidade num dos melhores clubes do mundo, especialmente quando Allegri tiver mais opções. Por enquanto não é possível afirmar de forma definitiva que tem o rigor posicional e a agressividade necessária para cumprir em termos tácticos.

Nos últimos anos, a Juventus não tem dispensado a presença de um médio com capacidade de construção a partir de zonas recuadas. Bentancur não é Pirlo, Marchisio ou Pjanic, mas tem um potencial tremendo e a rapidez com que se afirmou num dos melhores clubes do mundo fala por si.


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