A inesquecível geração de Ouro do futebol argelino
Taça das Nações Africanas 1980 & 1982
No inico da década de oitenta, estava a despertar uma geração futebolística argelina de grande talento, e foi na CAN 80 que a Argélia mostrou ao mundo as bases daquilo que iriam fazer até ao final da década. Na qualificação eliminaram a seleção vizinha e rival da Líbia e carimbaram o passaporte para a Nigéria para jogar a fase final do torneio africano. A última presença dos “Verdes” numa Taça das Nações Africanas havia sido em 1968. A seleção da Argélia comandada dentro das quatro linhas pelo lendário defesa central Mahmoud Guendouz e orientada pelo técnico jugoslavo Zdravko Rajkov, venceu o grupo com relativa facilidade, fruta das vitórias sobre a Guiné e Marrocos e um empate com o Gana no jogo inaugural. Nas meias finais ultrapassaram o Egito após 120 de minutos de futebol e a felicidade na lotaria dos penaltis sorriu aos argelinos. Na final acabaram por cair e vergados a uma derrota pesade por 3-0 contra a Nigéria que era também a anfitriã do torneio.
Foi também no ano de 1980 que a Argélia participou pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, os argelinos venceram a Síria, perderam contra a Alemanha Oriental e empataram com a Espanha sub-23 e avançaram para a fase seguinte, mas foram eliminados pela Jugoslávia após uma derrota por 3-0.
No início de 1982, os argelinos Salah Assad e Rabah Madjer mostravam toda a sua qualidade, estes dois jovens atacantes com 23 e 22 anos respetivamente conduziram a equipa até ás meias final da CAN 82. Ambos foram eleitos para a XI ideal do torneio.
Campeonato do Mundo de 1982
Na ultima fase da qualificação a Argélia teve de enfrentar a Nigéria, esta foi uma grande oportunidade para fazer a vingança da pesada derrota da final da CAN do ano anterior. Os argelinos desta vez mostraram superioridade face às “Super Águias” e venceram os dois jogos, no primeiro uma vitória por 2-0 no mesmo estádio onde havia jogado a final, e a vitória caseira por 2-1 garantiu a primeira presença da Argélia no Campeonato do Mundo. O médio ofensivo, Lakhdar Belloumi foi a principal figura do feito da Argélia, neste mesmo ano de 1981 foi eleito pela France Football como o melhor jogador africano.
No jogo de estreia a Argélia causou um terramoto futebolístico em Gijon com repercussão em todo o mundo quando derrotou a poderosa Alemanha Ocidental por 2-1 com golos de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi, apesar do mau início os alemães chegaram à final do Mundial 82. No segundo jogo contra a Áustria tudo correu mal após uma primeira parte de grande desperdício em Oviedo, no segundo tempo, o cinismo austríaco acabou por levar a melhor com dois golos no contra golpe sem resposta da Argélia, mas na última rodada os argelinos ainda iriam sentir o cinismo europeu de forma ainda mais dolorosa.
Infelizmente para a história desta edição do Campeonato do Mundo não foi ficou apenas a grande qualidade dos futebolistas argelino e da vitória de Itália de Paolo Rossi sobre o super Brasil. Mas também houve uma página negra escrita pelo falta de espírito desportivo das equipas da Áustria e da Alemanha Ocidental. Esta atitude de desprezo pela competição desportiva teve tanta repercussão que até fez a própria FIFA alterar o regulamento para evitar que o “crime” se voltasse a repetir.
Agora vamos a história, no dia 24 de Junho a Argélia conseguiu uma vitória sofrida diante do Chile por 3-2 após estar a vencer ao intervalo por 3-0. Ao contrário de os dias de hoje no Mundial 82 os últimos jogos não eram jogados à mesma hora e assim os argelinos tiveram que esperar pelo resultado da Alemanha Ocidental e Áustria que só se ia jogar no dia seguinte. Dos resultados possíveis um dos poucos que não podia acontecer era uma vitória austríaca pela margem mínima, e foi mesmo isso que aconteceu.
Este partida infame de futebol ficou conhecida para toda a eternidade com a “Vergonha de Gijon”, aos dez minutos Hrubesch marcou o golo da Áustria e desde então foi assinado um pacto de não agressão entre alemães e austríacos. Após o jogo choveram criticas de todo o lado, inclusive dentro da Alemanha. A revista Kicker Sportmagazin recusou-se a avaliar o jogo ou os jogadores: Nós não podemos dar estrelas para qualquer participante, porque não houve jogo de futebol em Gijón. Sob o título “Eles não sabem o que causaram”. Já no estádio onde este “crime” aconteceu o público estava incrédulo com o que estava a acontecer e no segundo tempo gritou palavras contra os dois conjuntos: “Vergonha” e “Argélia”.
Apesar de tudo o mundo ficou a conhecer talentos como Rabah Madjer que no ano seguinte deixou o futebol da argelino para jogar no Racing Club de Paris (que mais tarde iria ficar conhecido como o Matra Racing), mas o destino final de Madjer acabou por ser o futebol português e o FC Porto, para além das três provas internacionais (Taça dos Campeões Europeus, Taça Intercontinental, Supertaça Europeia), venceu também três campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e duas Supertaças.
Taça das Nações Africanas 1990
Na CAN 1986, tudo correu mal e a Argélia acabou eliminada após duas derrotas e um empate e foi afastada ainda na fase de grupos. No México, no Campeonato do Mundo de 1986, os argelinos não conseguiram passar a primeira fase, o grupo era formado pela Irlanda do Norte (1-1), pelo Brasil (1-0) e pelo Espanha (3-0). O único jogador a marcar golos no Mundial 86 foi Djamel Zidane. Depois desta participação a Argélia só voltou a marcar presença num Campeonato do Mundo vinte e oito anos mais tarde, em 2014 no Brasil, e esta desta feita os argelinos conseguiram passar a fase de grupos e venderam cara a derrota nos oitavos de final contra a Alemanha que mais tarde havia de celebrar a quarta vitória no Mundial.
Foi no ano de 1990 que chegou finalmente a grande conquista internacional da seleção nacional da Argélia. A edição da CAN 90 foi organizada pela primeira e única vez em território argelino. No jogo inaugural aplicou uma derrota pesada por 5-1 contra a Nigéria de Rachidi Yekini, as outras duas equipas do grupo eram a Costa do Marfim (3-0) e o Egito (2-0). Nas meias-finais, venceu o Senegal por 2-1 com golos de Djamel Menad e Djamel Amani. Com o “ Stade du 5-Juillet-1962” absolutamente lotado, estavam nas bancadas cerca de 100 mil espetadores para a assistir à final diante da Nigéria. Ao minuto 38, Sherif Oudjani (filho da lenda do Lens, Ahmed Oudjani) marcou o único e decisivo golo na final, esta vitória permitiu aos argelinos realizar a vingança plena da derrota na CAN perdida há 10 anos atrás contra o mesmo adversário.
Os principais prémios individuais foram para dois jogadores argelinos com ligações ao futebol português. Rabah Madjer uma das figuras do “FC Porto Campeão Europeu de 1987” venceu o prémio de melhor jogador da CAN, e Djamel Menad que após a CAN 90 passou pelo nosso campeonato para representar o Famalicão e o Belenenses foi o melhor marcador da prova com quatro golos.