O que há para saber do primeiro jogo oficial do Sporting em 2020/2021?
José Duarte, autor do A Norte de Alvalade, deixa a sua perspectiiva do primeiro jogo oficial do Sporting Clube de Portugal nesta época… uma análise concreta aos eventos passados dentro de campo, mas também aos factores extra-futebol que podiam ter prejudicado largamente o arranque da época europeia.
Ficou bem claro, pela exibição ante os escoceses, que o hiato imposto na preparação da equipa produziu efeitos nefastos, como dificilmente não ocorreria nas circunstâncias de todos conhecidas. Além da amputação forçada de jogadores de quem se espera preponderância no esquema de Amorim, a equipa não evoluiu na consolidação das rotinas tão necessárias, não adquiriu o ritmo imprescindível que apenas a competição proporciona. Isto num plantel que exibe lacunas que não se sabe ainda se virão a ser preenchidas.
Vale a verdade que neste jogo em particular o Sporting soube reagir às suas próprias debilidades, às adversidades que lhe couberem em sorte, bem como contrariar o seu adversário, fazendo uso de inteligência e uma dose elevada de pragmatismo. Marcando cedo, o Sporting levou o jogo para onde lhe dava mais jeito, fazendo uso e abuso prático da velha máxima “se tens a bola não sofres golo“. Isto é, o Sporting conseguiu o que queria ao chegar à vantagem e depois procurou a melhor forma de a manter. Com uma construção demorada e paciente, mas simultâneamente inócua na maior parte das ocasiões, pelo menos conservava a bola em seu poder.
Se o Sporting esperava que o adversário reagisse à desvantagem madrugadora, e dessa forma se soltasse em campo, abrindo brechas no seu conservador 5x3x2, enganou-se. Na maior parte do tempo os escoceses jogaram como quem tem medo que o kilt subisse e revelasse pormenores que ofendessem o pudor dos poucos que tiveram o privilégio de ver o jogo a partir da bancada. Quase sempre agarrados às saias da sua linha recuada, poucas vezes tiveram a coragem (ou a sabedoria…) de ir espreitar o que se passava no rectângulo onde Adan tinha vistas privilegiadas sobre o relvado. Os escoceses revelaram-se uma equipa de recursos muito limitados, sendo por isso muito pouco afoitos, arriscando quase sempre pouco mais que nada.
Dessa forma, e muito autoconsciente das suas limitações o Sporting também não arriscou nada. Jogou quase sempre a pôr gelo no whisky escocês de muito baixo teor alcoólico. À medida que o jogo chegava ao fim ficava evidente que tanta reverência em assumir maior risco se revelaria acertada. Começou-se a notar maior descoordenação, menos discernimento que conduziam a perdas de bola que só não foram comprometedoras porque os escoceses não sabiam mais. Executando muito devagar, quem sabe como com medo de sujar as botas em eventuais “prendas” que os agora famosos pombos possam ter deixado, o Sporting sofreu ainda mais por via das fracas prestações individuais da generalidade dos jogadores.
Deixo algumas notas do que foi a exibição individual do 11 titular dos “leões”…
Ádan: pouco trabalho, mas resolvido sempre de forma eficaz, como se pede a quem desempenha a sua função.
Porro: mostrou a vantagem de os espanhóis terem TGV… com rapidez chega-se mais depressa ao destino, se for possível com segurança e conforto, melhor ainda. Vai ter menos linha disponível em Paços de Ferreira, o que vai ser um bom desafio.
Neto: A simplicidade de processos que usa ajuda-o mas não deixa de expor uma das suas principais debilidades: não se pode contar com ele para construir. Ora essa é uma das principais necessidades deste Sporting…
Coates: está como peixe na água no esquema de Amorim. Com dois colegas à ilharga tem mais tempo para pensar e menos espaço para cobrir e isso dá-lhe a tranquilidade e segurança que o seu jogo exibe.
Fedal: é um central à moda antiga. Não é um primor com os pés, tal como Neto, não é o central que vai lançar o jogo dos “leões” partir de trás.
Nuno Mendes: fez ontem o seu pior jogo na sua ainda muito curta carreira, Como a generalidade dos colegas, acusou fadiga a partir do momento em que os ponteiros do relógio apontavam para o fim. Mas também algum nervosismo nos momentos derradeiros, o que não surpreende, mas contrasta com a segurança que vinha demonstrando.
Matheus Nunes: parece beneficiar da preferência de Amorim mas começa a ter que apresentar muito mais para a justificar. Nos momentos finais quase comprometia o resultado com falhas em transições, deixando a equipa exposta.
Wendel: jogo sobre o fraquinho, apesar do papel determinante no golo, no momento em que recupera a bola. Mas a equipa sofreu muito pela sua falta de esclarecimento e dificuldade de fazer o que melhor sabe… progredir em condução, superando as linhas adversárias.
Jovane: se estava a ser alvo de observação para uma eventual aquisição o relatório vai ser francamente desfavorável. Ainda assim, no momento do golo, o movimento de arrasto dos defesas centrais decisivo para baralhar marcações e sobretudo criar a dúvida sobre a execução do artista que se segue.
Vietto: de longe o jogador mais evoluído a que a ausência de Pote ainda mais destaca. Precisa de alguém que lhe ajude a dar continuidade às suas incursões que o perceba e sobretudo que ofereça mais soluções de passes de ruptura.
Tiago Tomás: last but not the least. Estreia de sonho com um golo que vale o apuramento. Quase fazia outro de cabeça. Se conseguir subir o número de participações ofensivas, estando mais presente, pode ser…
Tendo sido a única equipa que fez por merecer a passagem ao play-off, o Sporting consegue o seu objectivo deixando no ar muitas interrogações sobre a aptidão e competência para enfrentar o Lask Linz. Nessa altura o Sporting fará apenas o seu terceiro jogo oficial e, tendo o Paços de Ferreira pelo meio, não se afigura muito fácil mais aprimoramentos, não se sabendo se entretanto ainda vão chegar reforços da “ala covid19″. Não se esperam facilidades para este início época atribulado.