De Silas a Rúben Amorim… o novo caminho do Sporting CP
Na verdade ninguém terá ficado muito surpreendido com a saída de Jorge Silas do comando técnico do Sporting. Os resultados em modo de assim/assim, mas sobretudo algumas exibições, significaram uma clara melhoria relativamente ao registo desta época atribulada. Mas ainda assim insuficientes para manter a ligação pelo tempo mínimo expectável: o final da época.
Obviamente que os resultados importaram na decisão tomada mas, mais do que isso, parece-me que a ligação entre a administração e o treinador nunca se transformou num casamento feliz, com condições para durar. Citando Fernando Pessoa (via o meu amigo António Alfarrobinha no seu Bola de Cautchu):
“para vencer, material ou imaterialmente, três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar as oportunidades e criar relações humanas. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.”
Ora sorte é coisa que não temos tido há muito e nesta época em especial tudo ou quase tudo temos feito para a desmerecer. Não trabalhamos bem e não se comungando da mesma uma visão é quase impossível obter bons resultados. A escolha de Silas teria correspondido mais um espírito de “desenrascanço” e o “deixa ver se pega” já observado com Leonel Pontes do que uma escolha baseada num critério definido ou na convicção de acto de gestão racional.
O trabalho de Silas nunca seria fácil e a possibilidade de êxito é logo quase à partida dramaticamente reduzida com a saída de Bruno Fernandes, agravada pela chegada tardia de Sporar, já depois do derby e do clássico e a poucas horas da Taça da Liga. Há que reconhecer também que Silas esteve também longe de revelar assertividade, particularmente ao não estabilizar a equipa num modelo em que esta se sentisse confortável, depois da pré-época caótica de Keizer e da balbúrdia que se seguiu na construção do plantel e dos resultados daí subsequentes. Esse seria ou deveria ter sido o seu trabalho primordial e que não logrou alcançar.
Talvez por isso mesmo Silas tenha percebido que o seu tempo terminava ali na Turquia, sentindo-se impotente e incapaz de dar à equipa o mínimo indispensável: a confiança que o plantel tem de ter no trabalho efectuado e muito em particular no treinador e vice-versa.
Não sei como se chega a Rúben Amorim, mas o valor pago pela cláusula de rescisão contaminará definitivamente qualquer discussão sobre a decisão. Está na mente de todos que foi a necessidade de racionalizar os custos que contribuiu para afundar a época em curso, ainda o barco não tinha saído do cais. Como é que agora se paga tanto por um treinador que o eleva ao top dos treinadores mais caros de sempre, pondo-o como um desconhecido e inexperiente ao lado de nomes como José Mourinho é a pergunta que está na ordem do dia. Esperemos que constar do top ten onde se aproveita apenas Mourinho, Ancelotti e, um pouco mais abaixo, Pelligrini e AVB, não constitua um mau presságio…
Devo ser dos poucos Sportinguistas que não valoriza a experiência ou, neste caso, a ausência dela no curto curriculum de Amorim. A experiência fala-nos sobretudo do passado e relativamente pouco do futuro. Para o tentarmos projectar na vida de um treinador parece-me mais importante olhar para o que fez no seu trajecto, nomeadamente como jogaram as equipas sob seu comando, que resultados alcançaram, que efeito a sua passagem provocou, o que pensam dele os jogadores, colegas e dirigentes que com ele privaram. Fosse apenas pela experiência, nomes como Mourinho, AVB e até mesmo Guardiola, dificilmente nos fariam despertar as memórias e sensações que deles guardamos.
De facto, o curriculum de Ruben Amorim é muito curto. São apenas 42 jogos realizados como treinador principal. Mas trata-se de um percurso tão surpreendente como foi meteórica a sua ascensão a técnico do Sporting. Começa no Casa Pia, onde realiza 18 jogos, contabilizando 13 vitórias. No Braga B, dos 11 jogos 8 deles são vitórias. No seu percurso recente pelo Braga somou 10 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, ambas com o Rangers, que ditariam a eliminação na Liga Europa. Pelo meio ficam as vitórias sobre todos os grandes.
É aqui que pode entrar a experiência. A que Ruben Amorim não tem mas de falou Silas à saída. É que Amorim entra num clube onde a atenção mediática é incomparavelmente superior à do Braga, onde a pressão, também por comparação, é quase nula. Então se falarmos na pressão interna que transforma o clube em ponto permanente de ebulição… O que falta a Amorim falta a todos antes de entrar: a experiência num clube onde tudo parece ser muito mais difícil e tortuoso que na generalidade dos seus congéneres.
Mas não vai encontrar apenas o tempo e cobrança favoráveis, que lhe permitiu trabalhar tranquilamente em Braga. Encontrará também um clube que, em termos organizacionais, está quase parado no tempo há vários anos, talvez algures no início do presente século. No que ao departamento de futebol diz respeito, Amorim não tardará a perceber que muito do que tinha em Braga lhe daria jeito por cá. Mesmo no que diz respeito aos recursos humanos de retaguarda. E, quanto ao plantel, não diria muito menos…
E este último aspecto vai ser determinante para o que lhe será possível ainda alcançar este ano. É muito duvidoso que encontre em Alvalade elementos em número e qualidade que lhe permita emular o modelo de sucesso que instalou em Braga onde, convém lembrar, conquistou o primeiro troféu da carreira. É que é ainda no que falta da Liga que Amorim determinará a largura das portas por onde entrará na próxima época. E o seu futuro está umbilicalmente ligado ao de Frederico Varandas e Hugo Viana, que parece aqui vestir de forma integral o fato de director desportivo. Esta é seguramente uma contratação com o seu dedo.
Considerações à parte, Ruben Amorim já cá está e a sua excelente prestação na apresentação convocou de novo a costela que talvez seja o que nós Sportinguistas temos mais em comum: a de optimistas incorrigíveis. Talvez mais do que mais o lado sonhador seja essa vontade indomável de, apesar de tudo e com todos os pesares, querermos ver o Sporting no lugar que para ele projectamos nas nossas mentes e corações.
O para já único troféu da curta carreira de Rúben Amorim