O Projeto do Leão Bicampeão!
O Sporting é bicampeão nacional atingindo um feito que muitos achavam que nunca iam ver, mas que felizmente ainda foram a tempo de viver esta alegria que tanto merecemos como Sportinguistas que nunca viraram a cara à luta e estiveram sempre com o clube quando tudo parecia difícil e até impossível.
Quem, como eu, nasceu na segunda metade da década de 90 cresceu habituado a uma coisa (ver o país pintado de azul e branco), em quase 28 anos de vida vi o Porto vencer 14 dos campeonatos nacionais disponíveis e apenas o oásis de 99/00 e 001/02 parecia manter viva a ideia que o Sporting era um grande clube e um candidato ao título. Ano após ano a lenga-lenga era sempre a mesma. “Somos candidatos!”, mas bastava abrir o jornal e comparar plantéis e a diferença era abismal… volta e meia aparecia um ano que nos devolvia a esperança como em 2006/07, mas cedo se percebia que não existia um projeto sustentado. Pelo meio vimos ainda o renascer do Benfica carregado por Jorge Jesus e vimos o Sporting cair mais baixo do que alguma vez imaginámos.
Bruno de Carvalho reergueu o clube, mas foi preciso esperar por Frederico Varandas para ver o clube criar bases sólidas para algo mais importante do que “ser campeão hoje”… O “ser candidato amanhã também”. Varandas levava a lição bem estudada do investimento massivo que deu 2 títulos no início do século e do investimento gigante que quase deu o título em 15/16 (os contornos ficam para outra discussão).
O Sporting pensou num projeto liderado pelo seu presidente, mas que tinha em Viana o seu principal executor. Faltava apenas o treinador, que é a peça chave. E depois de muitos “nãos” lá chegou o “Sim!” de Amorim a custo de 10M€. Parecia para todos muito dinheiro, mas para Varandas e Viana era algo natural (“Se o treinador é a peça mais importante porque é que não deverá ser cara como alguns jogadores” terão possivelmente pensado os dois dirigentes).
Sempre de forma silenciosa, o Sporting foi criando um projeto desportivo com quatro alicerces principais:
1- Ter uma base de jogadores nucleares que seguram o balneário e criam espírito vencedor.
2- Juntar contratações de qualidade e não apenas “mais um”. Menos atletas por mais dinheiro cada.
3- Potenciar a venda de apenas 1/2 ativos principais por ano.
4- Vender jogadores da formação para equilibrar contas.
O Ponto 1 é facil de explicar. Falo de jogadores como Pote; Nuno Santos; Matheus Reis; Trincão; Inácio; Quaresma e mais um ou outro que não são vistos como jogadores para vender e render milhões. São jogadores com importância distinta em campo (nem todos os craques entram aqui e normalmente é aqui que se encontram os patinhos feios dos adeptos) mas que seguram e criam a base vencedora da equipa. Possivelmente nunca conseguirão dar o salto para o nível seguinte ao sair do Sporting e portanto só a parte económica os pode retirar do clube mas para ligas ou clubes periféricos. São no fundo o Luisão; André Almeida; Rafa e Pizzi do Benfica ou um Paulinho Santos; Jorge Costa; Lucho; Bruno Alves; Pedro Emanuel e Helton do Porto.
No ponto 2 há a destacar a mudança de política de contratações. Este ano no verão o Sporting contratou 4 atletas apenas. Em 23/24 contratou 3. Em 22/23 foram 7 contratações (com resultados desportivos desastrosos). Em 21/22 foram 4 contratações.
(Convém notar que são feitas outras aquisições de futuro e de menor impacto financeiro como Esteves ou Fatawu mas foram apenas incluídas aqui as contratações diretas para a equipa A.)
A juntar a isto há depois um ajuste no mercado de inverno. Sempre mais difícil de navegar, mas que já deu bons frutos como Rui Silva; Diomande e Edwards apesar de também alguns dissabores como Biel; Koindredi e Pontelo.
No Ponto 3 está a forma como são geridas as vendas. Normalmente é escolhido 1 ou 2 atletas para serem vendidos (depende da entrada na Champions ou não) e depois completa com ajustes pontuais ou fins de ciclo. Ultimamente também se tem usado a formação para lucrar com jogadores que ao serem vendidos favorecem muito mais as contas da SAD como Mateus Fernandes ou Chermiti.
Do plantel de 20/21 o Sporting perdeu 2 jogadores do 11 base, sendo João Mário forçado. De 21/22 perdeu 2 que viriam a ser 3 em Janeiro para compensar o descalabro da ausência da Champions. Em 22/23 perdeu 1 e em 24/25 perdeu 1.
A finalizar o Sporting tenta capitalizar a sua formação para fazer algumas vendas de jogadores que contam como 0€ contabilisticamente e que portanto ao serem vendidos dão um crescimento total do seu valor de transferência potenciando as contas do clube no papel. Uma tendência que se repetiu também todos os anos sendo que em algumas situações como Palhinha e Nuno Mendes os atletas cumpririam 2 funções ao mesmo tempo visto que viriam a ser ativos da formação mas também pilares da equipa, tornando-os na situação ideal de negócio.
Olhando para o futuro podemos ver como este modelo parece estar a ser trabalhado para a próxima época mesmo com alguma mudança de ciclo e potenciais ajustes mais expressivos por uma possível mudança de sistema por parte de Rui Borges.
Do núcleo duro à partida não sairá nenhum atleta ou sairá apenas Ricardo Esgaio.
Nas entradas, o Sporting já confirmou a contratação de Kocho e de Alisson (mas este na ótica de Fatawu e Esteves) e deverá chegar ainda um ponta de lança, um extremo e um lateral direito (fala-se em Vagiannidis) completando assim o quarteto habitual de reforços.
A nível de saídas de peças chaves, tudo o que seja a saída de mais algum atleta para lá de Gyokeres seria um erro de Varandas, no meu entendimento, sendo absolutamente determinante aguentar potenciais investidas por Hjulmand e Diomande ou até mesmo Debast.
Já nas vendas da formação está tudo globalmente definido com a venda de Essugo e a já programada saída de Quenda.
Tudo o resto serão ajustes que podem acontecer falando-se muito da saída de Morita, Juste ou Israel, mas que a acontecerem serão numa ótica de fim de ciclo, à semelhança da saída de Feddal ou Paulinho.
O Sporting deverá ao que tudo indica apresentar-se de uma de duas formas consoante o sistema que Rui Borges escolher.
Todo este trabalho se deve a Frederico Varandas (e restante equipa) e é este o segredo do bicampeonato e da 4ª presença na CL nas últimas 5 edições e mostra como o presidente aprendeu com os erros da passagem de 21/22 para 22/23 e nunca mais os repetiu (apesar de nesse ano se ter feito a importante recompra de VMOCs). A grande dúvida é se Varandas passará esta política aos novos elementos ou se a mesma “morreu” com a saída, primeiro de Amorim, e depois de Viana.