Fernando Santos, obrigado por tudo mas já chegava
Fernando Santos conquistou os dois títulos mais importantes da história da seleção portuguesa e isso será sempre um marco que nunca ninguém vai conseguir apagar e pelo qual todos os portugueses (amantes ou não de futebol) irão estar sempre gratos. Mas como em tudo na vida, a gratidão também não pode servir de desculpa para sempre e era claro que o tempo de Fernando Santos na seleção já tinha, há muito, ultrapassado o prazo de validade.
Fernando Santos pega numa seleção desmotivada depois do fracasso do Mundial 2014 e da derrota com a Albânia na qualificação para o Euro 2016 e era necessário levantar a moral de uma seleção que tinha muito mais potencial do que o que tinha demonstrado no passado recente.
A qualificação de Fernando Santos mostrou rapidamente o impacto que a sua entrada teve com 7 vitórias seguidas em outros tantos jogos, nomeadamente os jogos com a Dinamarca, o adversário mais complicado no papel neste apuramento.
Chegado o Euro 2016, Portugal entra com muita confiança mas exibições pobres tendo empatado os 3 jogos da fase de grupos com Islândia, Áustria e Hungria. Não fosse uma inédita possibilidade de os melhores 3º lugares se qualificarem e Portugal teria ficado pelo caminho num dos grupos mais acessíveis da sua história.
Ainda assim, este pequeno milagre permitiu a Portugal escapar ao lado dos tubarões na árvore que indicava o caminho até à final, algo que se revelou ainda mais acessível com o surpreendente triunfo do País de Gales frente à Bélgica. Com uma vitória no prolongamento e outra nos penáltis com Croácia e Polónia, respetivamente, o sonho estava cada vez mais perto.
Depois de vencer pela primeira vez nos 90 minutos frente ao País de Gales, a seleção derrotou de forma heroica a super favorita e anfitriã França, num pontapé soberbo de Éder e onde apesar dos soluços há que reconhecer o enorme mérito de Fernando Santos nesta conquista, pela forma como percebeu as limitações da equipa e onde era mais forte, nomeadamente ao apostar na dupla Ronaldo-Nani que tão bem se entendeu e no meio campo leonino composto por William, Adrien e João Mário.
Depois disto, no entanto, a seleção pareceu ficar sempre pior a cada ano que passava. A qualificação para o Mundial até correu bem, tendo apenas perdido uma vez com a Suiça, já no Mundial 2018 apenas 1 vitória pela margem mínima com Marrocos, tendo cedido empates com Espanha (obrigado Ronaldo) e Irão, numa campanha penosa que acabou com a eliminação aos pés do Uruguai, equipa que estava perfeitamente ao alcance da seleção portuguesa.
No Euro seguinte já nem a qualificação correu bem à seleção uma vez que a Ucrânia acabou por liderar o grupo de apuramento, sendo que depois o que se viu foi uma dificuldade tremenda para vencer a Hungria, antes de empatar com a França (obrigado Ronaldo) e ser trucidado pela Alemanha numa humilhação completa a Fernando Santos. Cereja no topo do bolo só mesmo a eliminação precoce com a Bélgica depois de termos sido mais uma vez salvos pelo milagre do 3º lugar.
Mais recentemente e como devem estar recordados, qualificação vergonhosa para o Mundial 2022 com um empate e derrota com a Sérbia em casa quando o empate bastava, um empate com a Irlanda e uma vitória tirada a ferros nos últimos minutos também frente aos irlandeses (obrigado Ronaldo).
Com uma das melhores gerações de sempre e já com vários anos a trabalhar em conjunto Portugal chega ao Mundial cheio de esperanças e acaba por vencer Gana, Uruguai e Suiça, tendo sido eliminado pela modesta seleção de Marrocos, não sem antes ter conseguido ceder também uma derrota frente à Coreia do Sul.
Pelo meio, convém também referir as 3 prestações na Liga das Nações onde Portugal se tornou o primeiro vencedor depois de bater a Holanda na final, tendo depois falhado duas qualificações para a final-four com derrotas frente a França e Espanha, onde o empate mais uma vez era suficiente para garantir a passagem.
Em suma ficam, infelizmente, na memória as derrotas com Bélgica, Uruguai, Marrocos, Coreia do Sul, Espanha, França, Sérvia, Suíça e Alemanha e os empates com Irão, Espanha, França, Hungria, Áustria, Islândia, Irlanda e Sérvia, onde se sentiu que a seleção apresentou um futebol pobre e onde se sentiu que era possível fazer bem melhor.
Fernando Santos também fica ligado a algumas das piores eliminações da história de Portugal nas duas competições mais importantes do mundo:
Mundial 1966 – Eliminados pela Inglaterra (Campeã)
Euro 1984 – Eliminados pela França (Campeã)
Mundial 1986 – Eliminados por Marrocos, Inglaterra e Polónia
Euro 2000 – Eliminados pela França (Campeã)
Mundial 2002 – Eliminados por Coreia do Sul e Estados Unidos
Euro 2004 – Eliminados pela Grécia (Campeã)
Mundial 2006 – Eliminados pela França
Euro 2008 – Eliminados pela Alemanha
Mundial 2010 – Eliminados pela Espanha (Campeã)
Euro 2012 – Eliminados pela Espanha (Campeã)
Mundial 2014 – Eliminados por Estados Unidos e Alemanha (Campeã)
Euro 2016 – Vencedores
Mundial 2018 – Eliminados pelo Uruguai
Euro 2020 – Eliminados pela Bélgica
Mundial 2022 – Eliminados por Marrocos
Fernando Santos consegue estar no melhor da seleção mas também no pior com 3 eliminações vergonhosas e que apenas encontram paralelo nas campanhas de 1986, 2002 e 2014, sendo que em 2014 e em 1986 a qualidade individual da seleção não era nem de perto nem de longe a de 2018-2022, bastando confirmar isso nas convocatórias para as provas. Nas 3 eliminações mais recentes todos os adversários foram eliminados na ronda imediatamente seguinte da competição o que prova ainda mais a sensação de que deveríamos ter feito bem melhor.