Fernando Santos, obrigado por tudo mas já chegava

José Nuno QueirósDezembro 17, 20225min0

Fernando Santos, obrigado por tudo mas já chegava

José Nuno QueirósDezembro 17, 20225min0
Fernando Santos terá sempre um lugar muito especial no futebol português, mas o seu tempo na seleção há muito que deveria ter chegado.

Fernando Santos conquistou os dois títulos mais importantes da história da seleção portuguesa e isso será sempre um marco que nunca ninguém vai conseguir apagar e pelo qual todos os portugueses (amantes ou não de futebol) irão estar sempre gratos. Mas como em tudo na vida, a gratidão também não pode servir de desculpa para sempre e era claro que o tempo de Fernando Santos na seleção já tinha, há muito, ultrapassado o prazo de validade.

Fernando Santos pega numa seleção desmotivada depois do fracasso do Mundial 2014 e da derrota com a Albânia na qualificação para o Euro 2016 e era necessário levantar a moral de uma seleção que tinha muito mais potencial do que o que tinha demonstrado no passado recente.

A qualificação de Fernando Santos mostrou rapidamente o impacto que a sua entrada teve com 7 vitórias seguidas em outros tantos jogos, nomeadamente os jogos com a Dinamarca, o adversário mais complicado no papel neste apuramento.

Chegado o Euro 2016, Portugal entra com muita confiança mas exibições pobres tendo empatado os 3 jogos da fase de grupos com Islândia, Áustria e Hungria. Não fosse uma inédita possibilidade de os melhores 3º lugares se qualificarem e Portugal teria ficado pelo caminho num dos grupos mais acessíveis da sua história.

Ainda assim, este pequeno milagre permitiu a Portugal escapar ao lado dos tubarões na árvore que indicava o caminho até à final, algo que se revelou ainda mais acessível com o surpreendente triunfo do País de Gales frente à Bélgica. Com uma vitória no prolongamento e outra nos penáltis com Croácia e Polónia, respetivamente, o sonho estava cada vez mais perto.

Depois de vencer pela primeira vez nos 90 minutos frente ao País de Gales, a seleção derrotou de forma heroica a super favorita e anfitriã França, num pontapé soberbo de Éder e onde apesar dos soluços há que reconhecer o enorme mérito de Fernando Santos nesta conquista, pela forma como percebeu as limitações da equipa e onde era mais forte, nomeadamente ao apostar na dupla Ronaldo-Nani que tão bem se entendeu e no meio campo leonino composto por William, Adrien e João Mário.

Depois disto, no entanto, a seleção pareceu ficar sempre pior a cada ano que passava. A qualificação para o Mundial até correu bem, tendo apenas perdido uma vez com a Suiça, já no Mundial 2018 apenas 1 vitória pela margem mínima com Marrocos, tendo cedido empates com Espanha (obrigado Ronaldo) e Irão, numa campanha penosa que acabou com a eliminação aos pés do Uruguai, equipa que estava perfeitamente ao alcance da seleção portuguesa.

No Euro seguinte já nem a qualificação correu bem à seleção uma vez que a Ucrânia acabou por liderar o grupo de apuramento, sendo que depois o que se viu foi uma dificuldade tremenda para vencer a Hungria, antes de empatar com a França (obrigado Ronaldo) e ser trucidado pela Alemanha numa humilhação completa a Fernando Santos. Cereja no topo do bolo só mesmo a eliminação precoce com a Bélgica depois de termos sido mais uma vez salvos pelo milagre do 3º lugar.

Mais recentemente e como devem estar recordados, qualificação vergonhosa para o Mundial 2022 com um empate e derrota com a Sérbia em casa quando o empate bastava, um empate com a Irlanda e uma vitória tirada a ferros nos últimos minutos também frente aos irlandeses (obrigado Ronaldo).

Com uma das melhores gerações de sempre e já com vários anos a trabalhar em conjunto Portugal chega ao Mundial cheio de esperanças e acaba por vencer Gana, Uruguai e Suiça, tendo sido eliminado pela modesta seleção de Marrocos, não sem antes ter conseguido ceder também uma derrota frente à Coreia do Sul.

Pelo meio, convém também referir as 3 prestações na Liga das Nações onde Portugal se tornou o primeiro vencedor depois de bater a Holanda na final, tendo depois falhado duas qualificações para a final-four com derrotas frente a França e Espanha, onde o empate mais uma vez era suficiente para garantir a passagem.

Em suma ficam, infelizmente, na memória as derrotas com Bélgica, Uruguai, Marrocos, Coreia do Sul, Espanha, França, Sérvia, Suíça e Alemanha e os empates com Irão, Espanha, França, Hungria, Áustria, Islândia, Irlanda e Sérvia, onde se sentiu que a seleção apresentou um futebol pobre e onde se sentiu que era possível fazer bem melhor.

Fernando Santos também fica ligado a algumas das piores eliminações da história de Portugal nas duas competições mais importantes do mundo:

Mundial 1966 – Eliminados pela Inglaterra (Campeã)
Euro 1984 – Eliminados pela França (Campeã)
Mundial 1986 – Eliminados por Marrocos, Inglaterra e Polónia
Euro 2000 – Eliminados pela França (Campeã)
Mundial 2002 – Eliminados por Coreia do Sul e Estados Unidos
Euro 2004 – Eliminados pela Grécia (Campeã)
Mundial 2006 – Eliminados pela França
Euro 2008 – Eliminados pela Alemanha
Mundial 2010 – Eliminados pela Espanha (Campeã)
Euro 2012 – Eliminados pela Espanha (Campeã)
Mundial 2014 – Eliminados por Estados Unidos e Alemanha (Campeã)
Euro 2016 – Vencedores
Mundial 2018 – Eliminados pelo Uruguai
Euro 2020 – Eliminados pela Bélgica
Mundial 2022 – Eliminados por Marrocos

Fernando Santos consegue estar no melhor da seleção mas também no pior com 3 eliminações vergonhosas e que apenas encontram paralelo nas campanhas de 1986, 2002 e 2014, sendo que em 2014 e em 1986 a qualidade individual da seleção não era nem de perto nem de longe a de 2018-2022, bastando confirmar isso nas convocatórias para as provas. Nas 3 eliminações mais recentes todos os adversários foram eliminados na ronda imediatamente seguinte da competição o que prova ainda mais a sensação de que deveríamos ter feito bem melhor.

Fernando Santos
Apesar dos resultados recentes, é assim que espero recordar Fernando Santos daqui a muitos anos. (Fonte: DN)

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