O fim de ciclo de Mariana Cabral e o início da era Micael Sequeira
O Sporting Clube de Portugal começou a época de forma atribulada, e apesar de só ainda se estar a finalizar o mês de outubro, a secção de futebol feminino leonina já passou por várias reviravoltas. Numa época que tinha começado a sorrir para as leoas com a conquista da supertaça frente ao Benfica, seguindo-se depois a passagem à segunda eliminatória da Liga dos Campeões, após eliminar o Eintracht Frankfurt e as islandesas do Breidablik. O Sporting, que viria a cair na eliminatória seguinte frente ao Real Madrid, numa eliminatória onde apesar das diferenças conseguiu demonstrar o seu futebol, e “cair de pé”. A meu ver, nada fazia crer que o Sporting e a Mariana Cabral iriam seguir caminhos diferentes, porque apesar de ela não estar a ser uma treinadora consensual, o Sporting vinha a conseguir resultados e a melhorar o seu futebol.
A Mariana Cabral pegou na equipa no verão de 2021, e tornou-a mais feliz e competitiva. Aproximou os adeptos da equipa, e recuperou um Sporting que animicamente vinha de uma fase má, numa secção desacreditada e sem vencer títulos. Taticamente, a Mariana Cabral trouxe coisas novas para o futebol feminino português, e tentou sempre colocar o Sporting a jogar um futebol apoiado, bonito para quem vê de fora, mas também para as jogadoras dentro de campo. Nem sempre conseguiu o sucesso que almejava, e muitas vezes caiu no erro de ficar presa ao seu modelo de jogo e não o tentar adaptar ao estilo do futebol português e da Liga BPI.
Em quatro temporadas ganhou duas Supertaças, uma taça de Portugal; os adeptos do Sporting dirão que é pouco, e que um clube grande não pode ficar “satisfeito” com este palmarés; mas acho que é necessário ver o outro lado porque houve troféus onde o Sporting não ganhou por um erro individual, bolas no poste ou penaltis falhados, ou seja, por pormenores que por mais vezes que se treinem, por vezes são um acaso e onde a bola pode cair para qualquer lado. Vejamos os exemplos práticos: na época passada o Sporting perdeu o título por um ponto, e lutou até
à última jornada; na supertaça de 2023 perdeu nos penaltis, também 23/24 esteve a um golo anulado de levar a prolongamento a meia final da Taça de Portugal, frente ao Benfica. Ainda na época transata, o Sporting chegou à final da Taça da Liga onde perdeu devido a uma perda de bola. Muitas vezes a “bola bateu na trave”, e via-se que faltava aquela pontinha de sorte para as derrotas passarem a títulos.
Algo que aconteceu esta temporada com a conquista da supertaça. A equipa leonina parecia que tinha virado a página do azar, mas eis que sem nada fazer prever ocorre a saída de Mariana Cabral. Um fim de ciclo e que leva consigo vários feitos e vários capítulos da história do futebol feminino do Sporting. A meu a ver a Mariana Cabral é das melhores treinadoras em Portugal, e das treinadoras que melhor tem conseguido trabalhar e potenciar as jogadoras jovens. Joana Martins, Andreia Jacinto e mais recentemente Andreia Bravo foram três jogadoras que cresceram muito sob o seu comando; jogadoras em que ela apostou sem medo, muitas vezes ultrapassando a hierarquia de jogadoras mais maduras, e como se pode ver pelo percurso das três foi uma aposta vencedora. Sempre defensora das suas convicções, e da melhoria do futebol feminino em Portugal, Mariana Cabral era um rosto visível da luta pela igualdade de condições no futebol feminino, da igualdade de oportunidades para os jogadores e para as jogadoras e uma pessoa que nunca teve medo de dar as suas opiniões publicamente, mesmo que essas pudessem prejudica-la. A saída do Sporting ao fim de oito anos, quatro deles como treinadora da equipa principal, deu-se devido aos resultados, mas também pela incompatibilidade entre a treinadora e o clube. Quem pediu a demissão foi a Mariana Cabral, o que deixa no ar que não sai pelos resultados, mas porque ela não concordava com a filosofia do clube e a forma como via o futebol feminino. Quem está certo ou errado, provavelmente tanto Sporting como a treinadora terão a sua cota de razão, e no futuro se verá quem fez a escolha certa.
Micael Sequeira, antigo treinador da equipa masculina do Vitória de Setúbal, foi o escolhido para suceder à treinadora açoriana. Sendo esta a sua primeira experiência no futebol feminino acho uma decisão arriscada por parte do Sporting, uma vez que acho que têm uma boa equipa no global e com individualidades capazes de fazer a diferença como é o caso da Telma Encarnação ou da Georgia Eaton-Collins, e mudar a meio da época é sempre complicado de gerir quer para a equipa técnica, quer para as jogadoras. Ainda mais quando o escolhido é alguém que vem do futebol masculino, ou seja, alguém que desconhece a realidade do futebol feminino e suas vicissitudes. Porém, a maioria da equipa técnica manteve-se o que é sempre positivo, uma vez que são profissionais que conhecem as jogadoras, a formação e a realidade do futebol feminino. Não tendo o Micael experiência no futebol feminino, é fundamental estar rodeado de pessoas que a conheçam.