Danos colaterais das denúncias anónimas no futebol português
Existem as “queixas” ou denúncias positivas, que contribuem para uma investigação ou são construtivas para uma sociedade, enquanto existe outro género de denúncia, que serve apenas para criar suspeição e toxidade em determinado ambiente.
É aí que surgem as denúncias anónimas que poluíram o ambiente no futebol português esta época. Como se já não houvesse falta de cultura desportiva suficiente no nosso país e variadíssimos episódios de bastidores, apareceu um novo ingrediente, as “denúncias mascaradas”, sem qualquer fundamento, pondo em causa o profissionalismo de diversos atletas e entidades, focadas na prática desportiva.
Mas, o que é realmente uma denúncia anónima e para que serve? Para além do óbvio – uma denúncia feita por alguém que não deseja ser identificado -, este mecanismo, criado pela Polícia Judiciária serve para o comum cidadão ser importante na identificação de crimes no meio social.
“A comunicação Denúncia Anónima consiste numa forma de fazer chegar às autoridades competentes informação sobre a preparação ou o cometimento de crimes cuja denúncia possa pôr em risco a segurança do cidadão que transmite a notícia, ou a segurança de terceiros”, pode ler-se no sítio oficial da PJ na internet.
Mais, este tipo de denúncias não são para situações urgentes.
“Após submeter a Denúncia Anónima a mesma será processada assim que possível, não sendo por isso o meio adequado para recorrer com urgência às autoridades. Em caso de urgência deverá contatar o Serviço de Piquete da Polícia Judiciária da área mais próxima”, pode ler-se ainda no site da PJ.
Posto isto, o que se quer dizer é que a denúncia pode realmente ser feita, mas não banalizada, que é o que está a ocorrer, conspurcando um futebol português que já tem problemas a mais do ponto de vista do seu ambiente. Árbitros, dirigentes, “guerrilhas” sem fim… e agora, o “último grito”, para culminar, a denúncia anónima… Será que não percebem que estão simplesmente a “matar” o futebol?
Quase como uma nova modalidade, o “queixinhas sem nome” ou o “denunciante mascarado”, paira sobre o futebol português, numa banalização de queixas que só prejudica o campeonato. Um conjunto de suspeitas “a avulso”, sem cabimento, cujo intuito é apenas desestabilizar e criar suspeição. Se há matéria para investigar, investigue-se. Caso contrário, a mediatização destas denúncias terá que ser repensada.
Com uma redução da mediatização das mesmas, evita-se naturalmente o “lamaçal” que as mesmas têm ocasionado. Quando a queixa torna-se pública, aparecendo em jornais, TV’s e afins o jogador será linchado nas redes sociais e nas TV’s.
A partir dessa constante mediatização, está instalado um ciclo “sujo”, que deixa sem dúvida marcas no visado, porque a partir desse momento todos os futebolistas são suspeitos de se entregarem a dinheiro prometido por A ou B. De certa forma, os jogadores equiparam-se agora aos árbitros. Erram, é porque estão comprados e se vencem, venderam-se.
Há quem já ache isto normal, infelizmente. Estamos tão habituados aos “jogos” do futebol português fora das quatro linhas, que a tendência é desvalorizar ou deixar andar. Como as denúncias vão aparecendo com grande frequência, a sua banalização e relativização estão em crescendo. No dia em que ocorrer algo grave, porque é possível e sabemos que existe a corrupção no futebol, os adeptos simplesmente não reagem, pensando que se trata de mais uma denúncia ridícula.
Por isso, o que se pede é bom senso. Infelizmente faltou, naquela que foi uma época atípica em Portugal, por agentes que deveriam ser secundários no futebol. Dirigentes, directores de comunicação e denunciantes “com máscara” e com poucos ou nenhuns factos concretos para formularem essas queixas, quiseram ser protagonistas, contribuindo para a descredibilização do futebol.