Haris Seferovic – Como pode um avançado sobreviver sem golo?

Pedro AfonsoSetembro 3, 20196min0
27 golos na época passada fizeram o adepto encarnado esquecer a falta de golo de Seferovic. Mas com apenas 82 golos em 281 jogos, fica claro que o suíço não é um matador. Como sobreviver sem alimento num clube como o SL Benfica?

Portugal e a Liga NOS têm sido agraciados nos últimos anos com jogadores de enorme qualidade no último terço do terreno. Não apenas jogadores dos ditos “grandes”, mas também avançados em clubes da dita “segunda linha” que vêm fazendo a diferença. No caso do SL Benfica, a presença de craques como Jonas, Rodrigo, Mitroglou, Jiménez, entre outros, apenas vem reforçar a teoria de que, para equipa grande, grande avançado.

Como esquecer esta dupla? (Fonte: Mais Futebol)

Mas a verdade é que o comum adepto parece apenas querer que os jogadores corram e pouco se importam com os golos… Até que passam a importar-se. Seferovic cai numa categoria de avançados que personifica esta crença e visão dos adeptos, que vê no jogador que corre o seu esforço, suor e dedicação a um clube, mais do que no jogo pensado ou criterioso dos ditos “pinheiros de área”.

Explicar o trajeto de Seferovic no Benfica e o tratamento a que foi “sujeito” pelos seus adeptos parece saído de um argumento da famosa série “The Twilight Zone”. Chegado com pompa e circunstância de um modesto Frankfurt, com apenas 20 golos em três épocas, o suíço já era considerado, para a “torcida” encarnada, como o craque que viria substituir Mitroglou, helénico de muito golo, mas pouca corrida. As hostes encarnadas nunca lidaram bem com o estatismo em campo (vide caso de Óscar Cardozo, segundo maior goleador estrangeiro da história do Benfica e que saiu pela “porta pequena” do clube) e Kostas não agradava particularmente pela sua aparente displicência em campo. 52 golos em duas épocas (marca absolutamente soberba) não foram suficientes para convencer o clube da Luz a manter o grego e uma nova época foi atacada com Seferovic como arma primordial. Os primeiros jogos enganaram muitos adeptos, mas, no final da época, um saldo paupérrimo: 7 golos em 29 aparições.

Um verdadeiro matador (Fonte: AGONAsport)

A época transacta inicia-se com Seferovic como 4ª opção e na porta de saída do clube. Mas as lesões de Jonas e a desilusão de Ferreyra e Castillo deram espaço para o surgimento de Seferovic como avançado primordial. Continuava a haver pouco golo, mas no meio do marasmo do técnico Rui Vitória, o seu esforço era valorizado, mais do que os seus golos. As críticas visavam jogadores mais pensadores do jogo, como Pizzi, ilibando o suíço de culpas (não obstante a sua fraca apetência para o festejo máximo do futebol). A mudança de técnico trouxe ao suíço uma nova vida. Lage e o seu 4x4x2 altamente pressionante, num estilo reminescente das equipas de Sarri, adequavam-se ao estilo de Seferovic: a sua velocidade e capacidade de pressão valorizadas e um caudal ofensivo para permitir que um jogador que falha 3 ou 4 oportunidades por jogo seja o melhor marcador do campeonato. 27 golos em 51 jogos e um novo amado do adepto encarnado.

Chegada a nova época, fica claro que Seferovic não se encontra na melhor forma. É certo que o seu parceiro de ataque se alterou e RDT (dos nomes mais bizarros escritos numa camisola do clube encarnado) não tem as mesmas valias (nem qualidade) que João Félix. Mas exigia-se mais a um avançado que, ao final de 4 jogos e 12 golos da equipa encarnada, apenas contribuiu com 1. E retorna a contestação, a ideia de que Seferovic não chega para o clube encarnado, de que é necessário um novo avançado.

Uma parceria demolidora (Fonte: OJogo)

A grande questão (e onde reside a maior incoerência do comum adepto) é que Seferovic nunca deixou de ser o que é atualmente. O suíço, apesar do seu 1m85 e 79kg, é incapaz de jogar competentemente pelo ar (Bruno Lage deixou claro, após o jogo com o Porto, que muita da incapacidade do Benfica atacar passou por essa diferença de qualidade), não possui capacidade de progredir com bola controlada no pé e teima em travar todas as jogadas que necessitem de algum recorte técnico para dar seguimento (a típica receção na ala orientada para trás seguida de passe para a zona central, geralmente para a entrada de Rafa ou Pizzi). Seferovic acaba por se tornar um “pinheiro móvel”, onde as situações de perigo necessitam apenas do “encostar” para que o suíço consiga finalizar. Com 318 jogos na sua carreira, Seferovic tem apenas 82 golos (apenas mais 1 que Pizzi, mais 2 que RDT que tem menos 99 jogos), um número verdadeiro parco para um avançado de um clube como o SL Benfica.

Não quer isto dizer que Seferovic não seka importante neste modelo do Benfica. É exatamente por existirem valências que Bruno Lage não abdica dele, mas sim de RDT a cada substituição (erradamente, talvez). Seferovic é o primeiro defensor da equipa, o controlador da pressão, entendendo o jogo como ninguém, fazendo subir e descer a equipa com competência. É também um exímio explorador dos espaços, capaz de abrir crateras nas defensivas para as incursões de Rafa, RDT ou até de Grimaldo.

Julgue-se o que se pode julgar e não mais que isso (Fonte: OJogo)

E é disto que Seferovic vive, da sua valência tática num jogo cada vez mais de procura de espaços e de aberturas. Seferovic é defendido e criticado sempre pelos motivos errados. Não é um goleador, mas nem todos os avançados têm de o ser. Deve existir, no entanto, alguém capaz de os servir e, num clube grande, onde a exigência é enorme e a margem para erro absurdamente pequena, o avançado deve ser capaz de se elevar à equipa e decidir quando o plantel não o consegue. Como fazia Jonas, Cardozo, Saviola, Lima e Rodrigo, ou Liédson, Lisandro López, Jackson Martínez ou Falcao o faziam. Tratemos melhor o “Pinheiro de Área”, não esqueçamos o seu golo, nesta espécie em vias de extinção.


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