5 emprestados para preparar a próxima época – SL Benfica
A política de contratações dos clubes ditos grandes em Portugal sempre teve tanto de exemplar, principalmente ao nível da captação de novos talentos para futuras transferências rentáveis, como de ilógico, com a contratação de inúmeros jogadores sem as valias necessárias para representar o clube e cujo destino são empréstimos sucessivos. Numa fase em que os clubes portugueses começam a demonstrar dificuldades económicas e o mercado se encontra cada vez mais inflacionado, todos os jogadores contam e podem ser soluções para colmatar lacunas dentro dos plantéis.
Ao longo desta época, ficou patente que o Benfica apresenta um plantel desequilibrado: com excesso de opções com qualidade para posições como a de extremo; com ausência de opções credíveis, em termos de número e de qualidade, para posições como as laterais defensivas. Numa altura em que o clube começa a “apertar o cinto”, a preparação da próxima época deve ter em conta a plêiade de emprestados que podem ser úteis ao clube. Abaixo, uma proposta de 5 jogadores que podem integrar a pré-época (no mínimo) e assumir um papel interessante no clube encarnado, na próxima época.
Talisca (Besiktas)
O médio brasileiro tem tanto de talentoso como de controverso. Chegado ao clube da Luz pela mão de Jorge Jesus em 2014/2015, o virtuoso médio ofensivo brasileiro teve um início fulgurante, com 44 jogos e 11 golos marcados, e um papel importante na conquista do campeonato encarnado.
Com a chegada de Rui Vitória, o médio brasileiro perdeu espaço, quer seja pela sua indefinição tática que apenas pareceu ter sido resolvida na Turquia (foi quase sempre utilizado a médio centro pelos treinadores encarnados quando a sua posição de eleição é a de 2º avançado ou Nº 10), quer seja pela indisciplina aliada a casos controversos como a passagem de informação para o treinador dos rivais da 2ª Circular, um rumor que parece ter coincidido com o desaparecimento de Talisca da equipa principal dos encarnados. A sua mudança para a Turquia levou ao renascimento de Talisca no Besiktas, onde é peça fulcral para as excelentes campanhas europeias do turcos, contribuindo com golos (31 em duas épocas) e inúmeras assistências.
Se por um lado a sua valência futebolística é inegável, a sua personalidade e profissionalismo parecem antever uma enorme dificuldade em regressar ao clube da Luz, casa-mãe, e que Talisca decidiu “renegar”. Desde o seu regresso à Luz em 2016/2017 com a camisola do Besiktas, onde marcou o golo do empate para lá dos 90 minutos e festejou efusivamente e passando pelas declarações inflamatórias e desrespeitosas do jogador para com a instituição, o brasileiro é mal-amado na Luz e um regresso teria de ser bem trabalhado, até do ponto de vista de comunicação com os adeptos.
A verdade é que o futuro de Talisca parece passar por outros países, com propostas estratosféricas (30M de euros) a deixarem antever uma saída na próxima época. Contudo, face ao sistema tático encarnado e ao envelhecimento e normal decair de qualidade de Jonas que se antevê nas próximas duas épocas, Talisca seria ouro sobre vermelho (neste caso).
André Carrillo (Watford)
O extremo peruano é mais um caso de um jogador mal-amado pelas bancadas da Luz. Não pelo seu desrespeito pelo clube, tendo demonstrado sempre uma postura exemplar não obstante todos os assobios e declarações menos respeitosas dos adeptos encarnados para com Carrillo, mas pelo seu estilo de jogo “molengão”, pausado, pouco compreendido pelo adepto de futebol que gosta de ver jogadores a correr, ainda que sem nexo nenhum (inserir caso de Salvio e de Jiménez).
A contratação a custo zero de Carrillo ao rival Sporting CP parece também ter dividido os adeptos encarnados, que esperavam muito mais do extremo, que encantou na primeira volta do campeonato de 2015/2016 ao serviço do clube leonino, e não se identificaram totalmente com a postura da SAD encarnada, que buscou uma “vingança” pela saída de Jorge Jesus.
No entanto, a qualidade futebolística de Carrillo não pode nem deve ser descurada. Ao serviço do Watford, participou já em 26 jogos na Liga mais competitiva do Mundo e demonstrou toda a sua qualidade. Numa fase em que se fala do assédio do Arsenal a Zivkovic e em que Salvio voltou a lesionar-se num joelho (um verdadeiro calvário e é necessária muita cautela no seu regresso à competição), Carrillo pode ser uma opção de segunda linha interessante, trazendo uma qualidade ao jogo encarnado que Diogo Gonçalves não consegue trazer, nesta fase.
Yuri Ribeiro (Rio Ave)
O Rio Ave é, sem dúvida, uma das equipas que melhor futebol pratica em Portugal. E muito se deve a Miguel Cardoso, um treinador sem medo de arriscar e com uma identidade futebolística que se vai construindo de forma assertiva e descomplexada. E essa influência no futebol da sua equipa também parece passar para os jogadores. E a verdade é que Yuri Ribeiro parece agora muito mais jogador que quando saiu do Benfica, por empréstimo, no início desta temporada.
O lateral natural de Vieira do Minho estreou-se na passada temporada com a camisola principal dos encarnados, tendo participado em dois jogos para as Taças onde esteve longe de deslumbrar. Dadas a lesão de Grimaldo, o seu concorrente direto era Eliseu e não conseguir tirar o lugar ao lateral açoreano é sintomático das prestações fracas com que Yuri nos presenteou.
Mas novo ano, vida nova e o lateral esquerdo assumiu-se como peça fulcral no sistema tático de Miguel Cardoso, tendo até ganho valências ofensivas que não apresentava na sua passagem pelo Benfica B. Com a saída (que apenas peca por tardia) de Eliseu no final da época e a potencial venda de Grimaldo para o Nápoles, Yuri Ribeiro tem uma auto-estrada aberta para assumir a lateral esquerda encarnada na próxima época.
Ponck (Desportivo das Aves)
Carlos Ponck tem sido uma verdadeira surpresa ao longo das duas últimas épocas na Liga NOS. Um jogador com claras limitações técnicas, o cabo-verdeano foi capaz de superar todas essas lacunas e assumiu-se como indiscutível nos dois clubes onde esteve emprestados nas últimas duas épocas (Desportivo de Chaves e Desportivo das Aves).
Com 60 jogos em duas épocas na Liga NOS, o agora defesa central é muito mais jogador do que quando saiu da equipa B do SL Benfica. Apesar da sua estatura reduzida face ao normal de um defesa central (apenas 1,83 metros de altura), compensa essa potencial lacuna com enorme inteligência defensiva e, acima de tudo, uma enorme capacidade de superação e de esforço, que o tornam uma verdadeira carraça.
O seu regresso ao Benfica poderia servir para suprir uma de duas lacunas: a de defesa central ou a de trinco. Samaris, apesar da sua enorme qualidade, não parece contar como opção válida a Fejsa, quer seja pela sua menor inteligência tática, quer seja pela sua impetuosidade defensiva que inúmeras vezes desequilibra a equipa. Ponck poderia aproximar-se do estilo de jogo de Fejsa, muito mais defensivo, muito mais ponderado, de pêndulo defensivo da equipa. Por outro lado, a sua experiência a defesa central poderia ajudar a colmatar a lacuna de 3º e 4º central da equipa encarnada, onde Lisandro López (agora emprestado ao Inter de Milão) nunca demonstrou qualidade suficiente para ser opção válida e onde Luisão caminha a passos largos para a reforma.
Se a sua continuidade no plantel principal pode ser duvidosa, Carlos Ponck merece, pelo menos, a oportunidade de se treinar na pré-época com a equipa principal.
Pêpê (Estoril Praia)
A época do Estoril Praia tem sido verdadeiramente desastrosa e longe da normal consistência e estabilidade que tem pautado o percurso dos canarinhos na Liga NOS ao longo das últimas épocas. Contudo, Ivo Vieira não pode ser acusado de promover um estilo de jogo aborrecido ou desprovido de ideias de qualidade na sua equipa, mesmo que isso implique perder jogos por não se resguardar o suficiente.
E neste estilo de jogo de posse, de passe constante, Pedro Rodrigues, mais conhecido por Pêpê, teve um papel interessante, participando em 15 jogos e contribuindo com 1 golo, nesta que é a sua primeira experiência fora do clube encarnado e a primeira na Liga NOS.
De longe o jogador menos preparado dos já mencionados, Pêpê entra nesta lista por apresentar características totalmente diferentes do típico médio defensivo: é uma espécie de Busquets, Jorginho, William Carvalho ou Rúben Neves (obviamente comparações elogiosas que estão longe de ser úteis excepto para se perceber o seu estilo de jogo). E nenhum outro jogador nos quadros encarnados apresenta estas valências, cada vez mais relevantes num futebol de posse e para um clube que tem demonstrado, ano após ano, dificuldades na primeira fase de construção. Devidamente acompanhado, e com as oportunidades certas, Pêpê pode ser um caso sério no futebol português e, a par com Rúben Neves e William Carvalho, encabeçar uma evolução no paradigma do médio defensivo português.