A caminho do Euro 2024 com o de 2004 no pensamento
Poucas semanas depois de ter nascido, a seleção nacional portuguesa, comandada por Luiz Felipe Scolari, estreava-se na minha cidade (Porto), no então Euro 2004. De resto, 2004 foi um ano impactante no futebol nacional. O FC Porto de José Mourinho ganhou a Liga dos Campeões com momentos inesquecíveis, como por exemplo, o golo de Costinha que gelou o Teatro dos Sonhos e empurrou os portugueses para os quartos de final da competição.
Foram tempos prósperos para Portugal. Organizar um Europeu, ter a seleção nacional como uma das favoritas à conquista da competição e ainda, o mais importante, mobilizar uma nação em torno de um objetivo maior: fazer história e conquistar a primeira grande competição de seleções para Portugal. O sucedido faz parte da história e, como a qualquer bom português, foram-me transmitidos os sentimentos bases filtrados da derrota contra a Grécia no Estádio da Luz. Ainda hoje, se falam das decisões polémicas de Scolari, como é o caso da não convocação de Vítor Baía. Ironizando, o mito popular apregoa que bastava juntar à equipa do Porto, Figo, Ronaldo, Nuno Gomes e Pauleta. A tarefa teria sido, certamente, mais complexa. Contudo, discutir o infortúnio do Euro 2004 não é o objetivo deste artigo. Na verdade também não é falar sobre o de 2024. É mais do que isso.
É apelar à paixão do povo português. Naturalmente, o apelo não constitui nenhum pedido de patriotismo, muito pelo contrário, procura promover a paixão pelo desporto rei do nosso país. Mais do que torcer por A ou por B, é sentida a falta dos tempos em que esse sentimento era puramente demonstrado por atos memoráveis perpetuados na memória de quem nunca os viveu. Como é o meu caso em relação ao euro 2004. É um apelo à sensorialidade afetada pelo debate superficial e desrespeitoso promovido pelas redes sociais na sociedade tecnológica à qual pertencemos.
Agora, passados 20 anos, depois de uma fase de qualificação imperial, voltamos a jogar o europeu com as memórias de 2004 e de 2016. Balanceamos a tristeza vivida e a euforia consequente do remate mais importante da história do futebol português. No entanto, estará Portugal preparado para voar alto no euro 2024?
Tudo aponta que sim… Desde que me recordo de ser gente, nunca vi um grupo tão forte, pelo menos individualmente. A baliza entregue a um dos mais promissores guarda redes do futebol mundial que tem como suplente a barreira do State de France em 2016. A linha defensiva contém heróis já consolidados, como Pepe e Rubén Dias, e jovens talentos que emergem no panorama nacional encabeçados por António Silva e Gonçalo Inácio. No meio campo, os campeões de outrora entregam o lugar à juventude: No lugar de João Moutinho, William, João Mário, Adrian Silva, etc, surgem nomes como Palhinha, Vitinha, Bernardo Silva e Bruno Fernandes.
À frente, aliado às novas forças, permanece Cristiano Ronaldo. Se como uma mais valia ou uma sombra que promete continuar a atormentar as aspirações de novos jogadores, remeto para a subjetividade de cada leitor, mas, parece incontornável a vontade de repetir 2016. De tornar a ganhar, quiçá, novamente à França…
Contudo, o imprescindível é voltar a sentir.