USWNT – time to say “goodbye”
Julie Ertz – para muitos, e principalmente, para os mais desatentos ou adeptos mais recentes, este pode ser um nome que significa pouco. Mas a verdade é que, e para nós que aqui andamos há alguns anos, Julie Ertz é uma das principais figuras de uma seleção dominadora.
Numa fase em que era muito escasso o acesso a transmissões de jogos feminino de futebol, houve várias jogadoras que me chamaram a atenção, e que, pela proximidade de idades, me fizeram “invejar” aquilo que vivenciavam. Uma dessas jogadoras é Julie Ertz, na altura, ainda conhecida como Julie Johnston. Defesa central possante, muito agressiva nos duelos, forte posicionalmente, com grande capacidade de transporte de bola, passe e finalização (cabeceamentos ao primeiro poste, uma delícia de ver), foi assim que fiquei a conhecer esta grande atleta. Com o passar dos anos, foi-se fixando como média mais defensiva numa seleção recheada de talento.
O pêndulo que dava equilíbrio e segurança defensiva, e acutilância ofensiva. Uma guerreira, dentro e fora do campo, principalmente desde o nascimento do seu filho Madden. Mais uma lutadora, que demonstrou a todos que é possível uma atleta de alta competição conciliar a maternidade com a sua profissão.
Uma carreira invejável, desempenhada sempre na National Women’s Soccer League (NWSL), onde foi considerada, por duas vezes, a Jogadora do Ano (2017 e 2019).
De entre prémios individuais e coletivos, é digno de registo tudo aquilo que venceu a nível da seleção nacional – 2 títulos Mundiais (2015 e 2019), 1 título Mundial sub-20 (2012), e 2 títulos Olímpicos (2016 e 2021). 123 internacionalizações, 20 golos marcados. São estes os números que marcam a caminhada de Julie Ertz na USWNT, e que nos deixam, desde já, com saudades. Foi o último jogo de Julie ao serviço da sua seleção nacional, mas o seu trabalho não ficará, certamente, por aqui!
“It’s not because Mama can’t play… Mama can play.”
Megan Rapinoe – este sim, um nome que desperta a atenção de qualquer adepto (ou não) de futebol. Como se o impacto dentro de campo não fosse suficiente, Megan Rapinoe é uma das maiores e mais impactantes vozes da luta pelos direitos das mulheres no desporto, ganhando principal destaque durante a luta pelo #EqualPay.
Com 38 anos, Megan Rapinoe pode olhar para trás, para a sua carreira, e retirar-se com orgulho e sentimento de dever cumprido. Como jogadora, e apenas falando dos seus feitos desportivos, alcançou feitos incríveis, títulos individuais e coletivos com que a maioria apenas sonha – 203 internacionalizações, 63 golos marcados, 73 assistências. 2 vezes vencedora do Campeonato do Mundo (2015 e 2019), medalha de ouro dos Jogos Olímpicos em 2012, e um prémio “The Best”, atribuído pela FIFA, que a consagrou como melhor jogadora do mundo em 2019 (única jogadora norte americana a receber essa distinção). Intensa, veloz, com uma incrível capacidade para ler o jogo e “adivinhar” as movimentações das colegas, colocando a bola “redondinha” para estas finalizarem. Humilde, líder, capaz de influenciar positivamente todos os que a rodeiam. É esta a imagem de uma jogadora absolutamente espetacular, e de um ser humano extraordinário.
Lembro-me de Megan Rapinoe ainda antes de esta colorir o seu cabelo. Lembro-me das parcerias com Abby Wambach, Christen Press, Sydney Leroux, Alex Morgan, com Tobin Heath a jogar na ala contrária. Uma frente de ataque invejável, demolidora. Fosse qual fosse a jogadora com que fazia parceria no ataque da seleção norte americana, Megan Rapinoe parecia capaz de ler os seus pensamentos, e a combinação saía sempre bem.
É o fim de uma era, não veremos mais Rapinoe em campo. Mas veremos muito mais Rapinoe fora dele, na luta diária pelas mulheres e pelos seus direitos. Pela equidade e igualdade. Pelo respeito por todos. Uma voz ativa que não se silenciará com o “abandono” do campo de futebol.
“When we, as a nation, put our minds to something, when we truly choose to care about something, change always happens.”
No final de contas, e quando penso nestas “reformas” agora oficializadas, concluo uma coisa: que sorte tive eu, e todos nós, em podermos ver jogar atletas desta dimensão, seres humanos que fizeram e fazem a diferença num mundo que ainda é muito machista, muito masculino, muito injusto. São o exemplo certo a seguir!
Obrigada, Julie Ertz!
Obrigada, Megan Rapinoe!