“Europa” é a palavra de ordem

Luís MouraJunho 13, 20245min0

“Europa” é a palavra de ordem

Luís MouraJunho 13, 20245min0
A Europa vai ter mais um Euro de grande envergadura e Portugal vai estar presente... tem direito a sonhar em 2024?

Qualquer noticiário, de qualquer órgão de comunicação social, nas últimas semanas girou em torno da Europa. Inicialmente na análise aos possíveis cenários eleitorais para as eleições europeias, bem como para os seus resultados. No entanto, a partir de agora, a Europa irá resumir-se ao mundo do futebol. Dia 14, a Alemanha defronta a Escócia no encontro inaugural do Euro 2024. A seleção da casa, comandada por Nagelsmann, inicia mais um europeu sem figuras históricas, como é o caso de Mats Hummels. Um treinador jovem, cuja sua capacidade de liderança ainda não é certa, teve determinação e coragem para deixar de lado atletas que considera incapazes de contribuir para o sucesso da sua seleção. Não entrando na discussão sobre a validade das suas decisões, Nagelsmann, teve a coragem que faltou a Roberto Martínez. Para uma leitura informada do presente artigo recorde as escolhas do selecionador nacional:

 

O selecionar português, que irá comandar na Alemanha pela primeira vez a nossa seleção, numa competição com um grau de exigência elevado, decidiu dar continuidade aos convocados do anterior selecionar, Fernando Santos. Se é factual que deu oportunidade a novos futebolistas, como é o caso de João Neves e de Francisco Conceição, não deixa de ser uma evidência a presença de uma base que representou Portugal no último Mundial e Europeu, sem o sucesso devido. A presença de Ronaldo e Pepe é incontornável. São dos raros casos no mundo do futebol, em que são os próprios jogadores a decidir o seu futuro e não quem os comanda, mas isso, não se deve confundir com qualquer direito adquirido.

Não devem ser as internacionalizações ou os golos marcados pela seleção a definir titularidades, deve ser o momento, aquilo que os jogadores podem entregar à equipa a cada jogo, em cada contexto. É esta uma primeira critica que endereço a Roberto Martinez: a incongruência. Aquando da apresentação dos selecionados, Martínez, enumerou os motivos pelos quais deixou jogadores como Trincão e Pedro Gonçalves (Pote) de fora dos selecionados. A não presença no estágio de Março, segundo o selecionador de elevada importância, foi o motivo para a exclusão da lista final. Contudo, não desvalorizando os métodos utilizados por Martínez, escolheu para o Europeu jogadores que, sem grande sombra para dúvidas, estão a baixo da sua melhor forma, como é o caso de João Félix, Pepe, Pedro Neto, entre outros. Alcançar uma convocatória ideal é uma tarefa praticamente impossível, mas, no meu ponto de vista, estrategicamente ou não, o selecionador nacional procurou acender uma discussão sobre as suas decisões. Outro exemplo é- na convocatória inicial antes da saída por lesão de Otávio- a inclusão de Rúben Neves e a exclusão de Matheus Nunes.

O jogador que atua na Liga Saudita fez mais jogos que Matheus Nunes, mas é mais valorizado competir contra grandes adversários e ter companheiros de equipa mais prestigiados que dificultam a afirmação dentro da equipa ou ter minutos num campeonato fraco com ausência de competitividade e qualidade (pelo menos não ao nível da europa)? Roberto Martínez respondeu: é mais importante ter minutos. Mas ao mesmo tempo, deixa de lado Trincão para convocar Pedro Neto. Ou seja, será a relação entre minutos e forma física um critério ambivalente que vária de jogador para jogador? Só Roberto Martínez poderá responder a esta questão.

Os jogos de preparação também têm sido algo confusos. Está a ser adotada a estratégia de dar minutos a todos os jogadores, de forma a estarem preparados a competir na fase final do Europeu. Não me parece o método adequado por dois motivos. Primeiro, porque a seleção não serve para fazer estágios de pré-época. Representar Portugal numa fase final, apenas deve estar acessível a quem está preparado tecnicamente, taticamente e fisicamente para tal. Os jogadores chegam à seleção com uma época nas pernas, pelo que a ausência de ritmo em alguns jogadores poderá ser sinónimo de uma temporada menos conseguida. Em segundo lugar, pelo facto de este tipo de jogos servir para criar dinâmicas coletivas, para afinar taticamente o que é trabalhado nos treinos. Portugal tanto joga com três como com dois centrais. Altera de sistema tático frequentemente, acompanhando a mudança dos seus interpretes. É uma incógnita como jogará a seleção no primeiro jogo do Europeu, não há uma base de trabalho, o que é tudo menos positivo.

Se é sabido que esta é uma das melhores seleção que Portugal apresenta, é também uma forte possibilidade que seja altamente desperdiçada. Defrontar países cujas suas seleções são compostas por atletas semiprofissionais, não é a mesma coisa que jogar numa fase final de um Europeu. A exigência é altamente multiplicada, tal como a dificuldade de impor um estilo de jogo bonito, mas o mais importante é ser eficaz algo que a seleção nacional, com o devido benefício da dúvida, ainda não comprovou totalmente.

Quero tanto como qualquer português que a seleção conquiste o troféu. As críticas endereçadas à preparação do Europeu, nada mais são que uma tentativa de expor o que poderia ter sido trabalhado de forma distinta. Dia 17, quando o arbitro apitar para o início do Portugal vs Chéquia, somos todos da mesma equipa, com um objetivo em comum: ganhar para dignificar o nosso país.

Boa sorte Portugal!


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