Ética, Respeito, Empatia – valores, princípios e posturas no futebol de formação

Margarida BartolomeuSetembro 28, 20255min0

Ética, Respeito, Empatia – valores, princípios e posturas no futebol de formação

Margarida BartolomeuSetembro 28, 20255min0

O futebol de formação, seja no feminino ou no masculino, é a etapa mais importante e determinante na vida de qualquer praticante da modalidade, quer seja pelo facto de ser nesta etapa em que lhes são ensinados os princípios básicos do futebol, e em que é fomentado o amor e paixão pela modalidade, como, e talvez mais importante, pelo facto de ser neste momento do seu desenvolvimento afetivo e emocional que a sua personalidade se começa a formar, e começam a adotar os comportamentos que testemunham pelas figuras de “autoridade” que as rodeiam.

O futebol de formação no feminino está ainda em desenvolvimento e, em muitos casos, a dar os primeiros (pequenos) passos. São cada vez mais os clubes que apostam na formação das atletas femininas, mas muitos ainda de forma insegura e pouco estruturada. Sabemos que o futebol de formação está “refém” da boa vontade dos seus intervenientes, dada a forma como a formação ainda é vista no nosso país – uma necessidade, mas não uma prioridade. No feminino, isto não é exceção, e é até ainda mais difícil atrair e fixar recursos humanos (treinadores, diretores, massagistas, etc.), estando os clubes dependentes do esforço e dedicação, muitas vezes hercúleo, dos seus membros, desde os pais, que assumem posições de diretores e até treinadores e massagistas, aos treinadores. No entanto, considero que é muito importante não cair na tentação de que “o que vem à rede é peixe” e saber selecionar as pessoas certas, para os cargos certos, no futebol de formação, pois além de formar desportivamente, estamos a ter uma influência direta na formação da personalidade de inúmeras crianças, e essa é uma enorme responsabilidade.

Todos nós, quer estejamos envolvidos ou não em clubes, já testemunhámos ou ouvimos histórias sobre pais, treinadores, diretores, que ofendem árbitros, que ofendem outros treinadores ou pais, e, mais grave, que ofendem ou dão ordens para agredir (o famoso “parte-lhe uma perna”) jogadores (crianças) adversários. Estas atitudes de falta de respeito, desportivismo e educação, por parte dos adultos, contagia largamente as crianças que assistem a estes momentos jogo após jogo, levando-as a sentir legitimidade para replicar esses comportamentos em momentos de maior pressão. Além dos comportamentos “expostos ao público”, perduram também comportamentos antiéticos nos bastidores, invisíveis a olho nu, mas que impactam negativamente quem tenta agir de forma correta. Podia enumerar várias atitudes de bastidores, como por exemplo, o contacto direto com atletas menores, vinculadas a clubes, ainda durante o decorrer de épocas desportivas, com o intuito de as aliciarem para outros projetos desportivos, com falsas promessas e manipulações. Será isto correto?! Manipular crianças prometendo-lhes “mundos e fundos”, só para conseguirmos ganhar jogos, ou por planos mesquinhos de vingança para com outros clubes?! Por outro lado, também nos “bastidores”, as pressões de “vencer, vencer, vencer” que são colocadas sobre as atletas, muitas delas com 11, 12, 13 anos, são absurdas, e levam muitas vezes a que os próprios treinadores condicionem o desenvolvimento de jovens que, numa determinada faixa etária, estão menos aptas e desenvolvidas, em prol do “resultadismo” e da vitória.

A minha ainda curta carreira como treinadora tem-me ensinado muito – o que fazer, como agir. Mas, acima de tudo, tem-me ensinado como não agir! Sou sempre fiel aos meus princípios e valores, e considero que o respeito pelo outro, a empatia e a ética desportiva são essenciais para o desempenho das minhas funções, e para o sucesso do futebol no feminino. Considero que, no geral, os clubes estão a tentar replicar demasiadas atitudes e posturas que são vividas no futebol masculino, e que tal não trará sustentabilidade e saúde à modalidade no feminino. Devemos sim replicar o que é bem feito, e deixar do outro lado da porta tudo o que seja negativo – ofensas verbais e físicas, hiper competitividade, intolerância ao erro, contactos diretos a atletas ainda vinculadas a clubes, tentativas de destruir os projetos existentes para conseguir ter sucesso no seu, etc., não têm espaço no desporto, e é preciso agir enquanto ainda é tempo!

É essencial saber selecionar os atores nesta história, conseguir formá-los e criar um ambiente mais saudável dentro do futebol feminino, para que nãos e comentam os mesmos erros que se cometeram no futebol masculino, e para que o ambiente desportivo seja um ambiente seguro para cada atleta crescer e viver! Neste âmbito, torna-se essencial existir um maior controlo e acompanhamento por parte das associações distritais de futebol (não basta aparecer nas finais das taças), que devem agir sempre que necessário, alertando, formando ou até punindo os intervenientes que ajam de forma incorreta. O ambiente desportivo tem que ser seguro, saudável e feliz, e para tal, é necessário que as pessoas que nele desempenham funções, também transmitam segurança, saúde e felicidade, dando espaço a que cada criança seja a sua própria pessoa, e se desenvolva ao seu ritmo.

É imperativo entender que, no futebol de formação, não é o treinador ou o diretor quem tem de sobressair – são as atletas! O futebol de formação é delas, para elas! São elas que têm os sonhos, são elas que têm de ter sucesso e, acima de tudo, são elas que têm de se sentir felizes!

Temos de ter noção de que temos nas mãos os sonhos de dezenas de crianças! Crianças inocentes, que só querem divertir-se com uma bola nos pés, e o seu grupo de amigas! Vencer é importante, formar a vencer é muito mais fácil do que formar a perder, mas não vale tudo para ganhar!


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