O regresso de Zidane a Madrid
A 30 de Maio de 2018, Zinedine Zidane surpreendeu o mundo do futebol ao anunciar a sua demissão do cargo de treinador do Real Madrid, apenas poucos dias depois de levar os “merengues” a conquistarem três Ligas dos Campeões consecutivas (algo inédito, no actual formato da competição). Uma decisão tomada com base na ideia deixada implícita – mas de forma clara – de que a equipa necessitava de novos desafios, e de uma renovação que poderia levá-la a não corresponder às expectativas geradas pelos resultados obtidos pelo francês, sobretudo na Europa. Zidane assumia assim o começo do fim de uma era no clube, saindo pela porta grande e com uma imagem fortíssima junto dos principais clubes europeus, aos quais foi apontado repetidas vezes durante os seus meses de hiato.
Sendo certo que a saída de Cristiano Ronaldo do clube, algumas semanas depois, foi certamente um factor de significativo peso na preparação desta temporada por parte do clube, a verdade é que os últimos 9 meses têm sido um autêntico desastre para o Real. Julen Lopetegui sucedeu a Zidane, mas cedo se percebeu que a aura vitoriosa da equipa se iria rapidamente esbater. O espanhol nunca conseguiu conquistar os adeptos com as suas ideias – que tornaram o Real numa equipa lenta, previsível e monótona – e o péssimo início de campeonato serviu como “machadada final” na sua estadia em Madrid. De forma interina, foi então Santiago Solari, técnico da equipa B, que assumiu o cargo, e o seu começo foi bastante auspicioso, vencendo as suas primeiras quatro partidas. Porém, à medida que os jogos se foram desenrolando e as semanas foram passando, o Real foi piorando o seu rendimento, foi baixando a qualidade de jogo (que já no ponto inicial não era propriamente elevada) e Solari não resistiu a um conjunto de maus resultados e de total ausência de um fio de jogo identificável na sua equipa.
Chegamos então a 11 de Março de 2019. Lopetegui provou ser um enorme “erro de casting“, Solari não conseguiu também impor o seu cunho pessoal na equipa e acabou por sucumbir ao peso da responsabilidade de um cargo de tão elevada dimensão. De forma a começar de imediato a preparação da próxima temporada, o Real Madrid anuncia o regresso de Zidane, num contrato de três temporadas e meia (até ao final da temporada 2021/22).
Os desafios
Com o Real já afastado de todos os objectivos da temporada (eliminado da Liga dos Campeões pelo Ajax (após serem goleados no Santiago Bernabéu por 1-4), eliminado da Taça do Rei e já a 12 pontos do líder Barcelona, com apenas 30 pontos ainda em disputa), o primeiro desafio de Zidane centra-se na estabilização da equipa e do grupo de trabalho, e na recuperação da identidade que levou a maior parte deste plantel a dominar no panorama europeu durante três épocas consecutivas. Com Lopetegui, os “blancos” mantiveram uma identidade de jogo relativamente definida, mas que no entanto se revelou pobre em termos qualitativos. Muita posse de bola, mas uma circulação excessivamente exterior e sem qualquer tipo de dinâmica sem bola, o que transformou rapidamente a formação madrilena numa equipa totalmente previsível, sem qualquer vislumbre de criatividade. Aliado a isso, a perda de qualidade em momentos de transição defensiva custou caro a Lopetegui, que perdeu 6 dos 14 jogos que realizou ao comando do clube. Todos estes problemas apenas se agudizaram com Solari, que nunca demonstrou capacidade para incutir na equipa as suas próprias ideias. Não raras vezes, ficou até claramente no ar a ideia de que este não possuía uma visão definida para o futebol madrileno, limitando-se a explorar apenas a capacidade individual de um plantel recheado de talento.
De resto, não foi apenas em termos colectivos que a equipa caiu a pique. Também a nível individual se sucederam os problemas e as adversidades. Thibaut Courtois foi contratado para assumir a baliza do clube, mas as suas prestações têm deixado algo a desejar, e a sua chegada veio também retirar da baliza Keylor Navas, elemento muitas vezes desvalorizado pela imprensa, mas que sempre se apresentou a um nível elevado, tendo sido até decisivo em alguns momentos-chave para o sucesso do clube no passado. Para além disso, Solari ostracizou Isco (preferindo, inclusive, fazer actuar jogadores da “cantera” em detrimento da utilização do malaguenho) e Marcelo (relegando-o para o banco de suplentes ou até mesmo para a bancada, em alguns casos, e apostando em Sergio Reguilón, jovem lateral da formação) durante quase todo o seu “reinado” enquanto técnico do clube. Em vez de potenciar dois dos melhores jogadores do plantel, preponderantes na caminhada triunfal do Real Madrid de Zidane nos palcos europeus, o argentino criou dois problemas que Zidane parece agora também pretender solucionar, tendo devolvido a titularidade a ambos os jogadores logo no primeiro jogo após o seu regresso (vitória em casa por 2-0 frente ao Celta, em partida a contar para a La Liga).
O futuro
É muito provável que Zidane tenha regressado ao Real Madrid mediante algumas condições que, provavelmente, terão sido de imediato asseguradas por Florentino Pérez. O contrato de relativa longa duração indica que o francês estará de regresso para proceder a uma revolução significativa no futebol “merengue”, que passará inevitavelmente pela reformulação de um plantel algo envelhecido, em várias posições, e que acusou brutalmente a ausência de uma referência incontornável e de top mundial, após a saída de Cristiano Ronaldo.
Gareth Bale não se adaptou ao clube, nunca se assumiu verdadeiramente como a figura da equipa e estará provavelmente na porta de saída, naquela que se pode considerar – tendo em conta as expectativas aquando da sua contratação – uma experiência falhada fora do futebol inglês. Karim Benzema, apesar de excelente jogador, não é o “game changer” que os madrilenos necessitam. Luka Modric, o actual Bola de Ouro, não consegue impactar de forma decisiva o processo ofensivo. E, no meio de todo este caótico contexto, foi o “menino” Vinícius Júnior, de apenas 18 anos, aquele que mais procurou assumir o protagonismo e carregar consigo o peso de assegurar os desequilíbrios ofensivos da equipa.
Assim, parece urgente e premente a chegada de novos “craques” a Madrid, e Florentino Pérez parece disposto a abrir – novamente – os cordões à bolsa para que tal seja uma realidade. Éder Militão já foi contratado ao FC Porto, mas o foco principal é, claramente, a procura de uma nova estrela, que possa ajudar a dissipar o “fantasma” de Ronaldo. E aí, o principal objectivo parece ser francês, tal como Zidane. Kylian Mbappé é, muito provavelmente, o avançado mais promissor do futebol mundial para a próxima década, e o clube madrileno aparenta estar pronto a cometer uma loucura financeira para assegurar os serviços do avançado do PSG, que no entanto já fez saber que não facilitará em nada uma possível transferência.
Também Eden Hazard tem sido, ao longo dos anos, associado ao Real Madrid, e o próprio jogador não esconde a sua admiração pelo clube. Zidane é um apreciador assumido do extremo belga do Chelsea e, aos 28 anos, esta poderá ser a derradeira oportunidade para Hazard chegar a um dos seus palcos de sonho. De forma mais remota, mas tanto ou mais mediática, tem surgido ainda a opção Neymar, alicerçada nas notícias de que a estrela brasileira pretenderá regressar a Espanha. No entanto, as conhecidas ligações do avançado ao Barcelona poderão ser um entrave à conclusão do negócio e à própria vontade do jogador em rumar a Madrid, por todas as repercussões que uma mudança desse género acarretaria.
Muito são os rumores mas, certa mesmo, parece ser a ideia de que o próximo Verão promete ser de mudanças significativas para o Real Madrid.