La Liga Scouting #3 – Raúl de Tomás (Rayo Vallecano)
Raúl de Tomás é um avançado de 24 anos, que se encontra pela segunda época consecutiva ao serviço do Rayo Vallecano, histórico clube madrileno. Conhecido pelas suas raízes e filosofias bem vincadas e definidas, o clube de Vallecas volta esta temporada a ser a casa de um dos mais promissores “delanteros” espanhóis da actualidade.
Na temporada passada, Raúl foi o segundo melhor marcador da La Liga 2, com 24 golos em 32 jornadas, tendo sido uma das peças fulcrais para o regresso do Rayo à “companhia dos grandes” e ao principal escalão do futebol espanhol. A sua magnífica temporada despertou o interesse de vários clubes, que no entanto saíram a perder na hora da decisão, pelo sucesso que o jogador já tinha atingido ao serviço dos “vallecanos“. Isto depois de lhe ter sido negada uma oportunidade no Real Madrid, o clube que detinha (e detém) o seu passe.
Como joga Raúl
De Tomás, apesar de possuir alguma variedade de recursos técnicos, é um finalizador puro. Sempre de olho na baliza adversária e com um faro de golo bastante apreciável, destaca-se pela forma como se movimenta na área adversária, demonstrando inteligência na forma como procura criar espaço para atacar a zona onde percebe que a bola irá cair, e sendo também mais lesto na reacção que a maioria, na hora de procurar a finalização. Agressivo nos duelos individuais, é uma constante dor de cabeça para os seus oponentes pela capacidade de trabalho que possui, raramente dando um lance por perdido. A sua capacidade atlética para isso contribui, sendo um jogador relativamente rápido e com uma capacidade de choque suficiente para suportar todos os confrontos físicos a que está exposto durante os 90 minutos.
Outra das características onde Raúl sobressai é no remate de meia distância. É frequente vê-lo procurar a baliza assim que recebe a bola nas imediações da área adversária, conseguindo ocasionalmente apontar golos de belo efeito através dessa acção. Aqui, a sua tomada de decisão poderia muitas vezes ser diferente, caso a sua percepção do espaço e dos colegas também estivesse num nível superior. O facto de ser um “homem-golo” acaba por atenuar esta limitação, bem como o facto de se encontrar numa equipa de menor dimensão, cujo volume de oportunidades é também substancialmente menor em relação ao de equipas de maior dimensão.
No Rayo, actua como a principal referência do ataque, no 4x3x3/4x2x3x1 que tanto Míchel – o ex-treinador – como Paco Jémez – o actual treinador – utilizaram/têm utilizado. Por via das limitações do colectivo nas fases de construção (entretanto algo atenuadas por Jémez, mas ainda claramente visíveis), é muitas vezes solicitado através de bolas mais longas para as costas da defesa ou para o duelo aéreo com os centrais adversários. Aí, apesar de ter “apenas” 1,80m (uma estatura não tão elevada como a de outros avançados de perfil relativamente semelhante ou que são frequentemente solicitados dessa forma), é um atleta que garante uma eficácia significativa, conseguindo muitas vezes ganhar a bola e guardá-la, permitindo assim a subida da equipa no terreno.
Tecnicamente, e talvez pelo facto de também ter tido uma formação de grande nível, é um avançado que despoleta alguma curiosidade. Dele não se podem esperar grandes incursões em drible ou tentativas de 1×1. Ainda assim, possui um nível bastante satisfatório ao nível do passe e da recepção (para além de estar claramente acima da média no capítulo do remate), o que também contribui significativamente para a sua qualidade enquanto principal referência de ataque da equipa. Estas suas características técnicas poderão ser o alicerce para o seu crescimento rumo a um patamar superior, que lhe permita inequivocamente outros voos bem mais elevados. A margem de progressão, essa, está definitivamente lá.
O futuro
Esta temporada, Raúl leva 14 golos em 30 jogos na La Liga. Números muito interessantes para o jogador “nascido e criado” na “cantera” do Real Madrid, clube ao qual ainda se encontra contratualmente ligado, até 2023. De resto, as suas exibições já levaram mesmo a rumores de que Zinedine Zidane pretende, pelo menos, observar novamente o avançado na pré-época 2019/20. No entanto, e na fase da carreira em que se encontra, é também de considerar a possibilidade do jogador pretender desvincular-se do seu clube formador (onde nunca teve verdadeiramente uma oportunidade para se impor).
Caso não se imponha no Real Madrid, ou não tenha sequer essa oportunidade, certamente não faltarão interessados nos seus talentos. Tanto em Espanha, onde são vários os clubes que poderiam beneficiar muito de um avançado com o seu perfil (como o Bétis de Quique Sétien, por exemplo), como no estrangeiro, em clubes de média dimensão europeia. Desde logo, a Raúl já foi bastante associado o interesse do Sporting, que poderia encontrar no espanhol a opção ideal para substituir uma provável saída de Bas Dost. Também noutros campeonatos europeus de nomeada, Raúl poderia dar provas da sua qualidade e garantir um rendimento imediato e muito positivo em clubes com ambições europeias e, inclusive, com ambições a títulos nacionais.
O que parece ser mesmo dado assegurado é que Raúl de Tomás dificilmente se manterá num clube da dimensão do Rayo Vallecano (com todo o respeito por essa instituição, obviamente) na próxima temporada desportiva. Prestes a entrar naqueles que são os “anos dourados” da maioria dos futebolistas, as bases para uma carreira de grande nível parecem já estar lançadas.