La Liga Scouting #15 – Lee Kang-In (Valencia CF)
Formado no clube que sempre representou – o Valencia -, Lee Kang-In é um nome ao qual os adeptos da La Liga e do futebol em geral se começam a habituar nos últimos meses. O coreano, de apenas 19 anos, já se havia estreado na temporada 2018/19, mas foi a partir da temporada actual e ainda por terminar que o seu talento veio ao de cima.
Começou pela selecção sub-20 do seu país, no Mundial da categoria em 2019. Kang-In demonstrou brilhantismo e preponderância, colocando a equipa nas suas costas e carregando a Coreia do Sul até à final da competição, maravilhando todos aqueles que pouco ou nada conheciam daquele rapaz que criava lances geniais em catadupa. 6 golos em 7 jogos e uma panóplia de momentos fantásticos trouxeram-lhe o prémio de melhor jogador do torneio, distinção inegavelmente justa.
O interesse de grandes clubes após a competição aumentou drasticamente, com rumores de que o Real Madrid estaria interessado em assegurar já os serviços do jovem talento, antes que este valorizasse exponencialmente. No entanto, as intenções dos madrilenos saíram goradas, pois o Valencia apontou de imediato para a sua cláusula de rescisão – de 80M€ – dando assim um claro sinal de que conta com Kang-In para o futuro do seu projecto desportivo.
Os meses seguintes proporcionaram-lhe ainda a estreia na UEFA Champions League, tendo assim os grandes palcos europeus já assistido aos primeiros passos de uma futura estrela.
(Foto: koreaherald.com)
Como joga… Lee
Kang-In é um criativo com um manancial de recursos ofensivos variados. Tal facto permite-lhe, desde logo, ser uma opção válida para actuar nos três corredores. Preferencialmente, o mais próximo possível da baliza adversária e da referência mais adiantada da sua equipa. No primeiro caso porque, seja desequilibrando através do drible, encontrando companheiros em zonas de finalização ou criando oportunidades de golo a partir de situações aparentemente inofensivas para a defensiva adversária, o seu futebol ganha maior relevo e objectividade no último terço do terreno. E no segundo caso, porque a sua capacidade associativa é um dos seus pontos mais fortes, e permite-lhe não só surgir constantemente no centro do jogo, como também ligar a equipa com a sua referência mais adiantada, facilitando assim a chegada com qualidade aos terrenos mais favoráveis para o golo.
Pela sua capacidade de guardar e esconder a bola no seu pé esquerdo até nos espaços mais curtos e virtualmente impossíveis de manter, Kang-In é frequentemente comparado em Valencia com outra grande estrela a ter passado pelo clube: David Silva. E, de facto, as comparações têm razão de ser e o paralelismo entre várias das qualidades do coreano e do craque espanhol, nos seus primeiros anos de carreira, é bem visível em campo. Seja no corredor central ou partindo de um dos corredores laterais (preferencialmente, o direito), o espaço “de ouro” para o jogador coreano é aquele que se encontra (ou que ele encontra, muitas vezes) nas costas da linha intermédia adversária, espaço esse onde Silva também fez sérios estragos durante várias épocas.
Baixo e franzino (1,73m), Kang-In é, porém, um portento de agilidade e capacidade de aceleração. Reage quase por instinto às tentativas de desarme, muda de direcção com extrema facilidade e quebra linhas através do drible com uma regularidade impressionante. Foge ao choque, ganha a frente do lance e tem sempre mais um toque para dar na bola, mesmo quando a perda parece garantida.
A sua principal pecha prende-se, ainda, com a ausência de capacidade finalizadora. O potencial para contribuir de forma mais directa para o resultado final está lá, mas a verdade é que não é um jogador que surja com frequência em zonas de finalização ou que procure esse tipo de acções. Altruísta, a sua preocupação enquanto conduz a bola está sempre em encontrar o colega em melhor posição para fazer golo, e nem tanto em criar condições para que ele próprio possa finalizar. Possivelmente, com um maior peso na dinâmica ofensiva de uma equipa, essa relevância estatística poderá mudar.
No 4x4x2 actual de Albert Celades, e pelas vicissitudes do mesmo, o coreano acaba por não ter um espaço ideal para a sua utilização, uma vez que os alas se encontram mais afastados do último terço e os avançados funcionam, essencialmente, enquanto elementos de finalização, não participando tanto na construção ou criação das jogadas. Essa estrutura táctica, juntamente com a questão da ausência de rendimento directo estatístico acima referida, poderão ser justificações para a utilização relativamente curta de Kang-In na época 2019/20 (546 minutos, distribuídos por 18 jogos, e apenas um golo apontado).
Com uma fenomenal margem de progressão, a probabilidade de assistirmos a uma “explosão” de Kang-In na La Liga já na próxima época é elevada. O seu perfil reúne características únicas no plantel do Valencia, e o seu talento merece um protagonismo que até agora ainda não surgiu. Mas os grandes palcos serão uma inevitabilidade para ele.