Caderneta de Cromos e as lendas do Japão!
A Caderneta do Fair Play ficou fascinada pelo futebol japonês. Apesar da pouca repercussão que o futebol nipónico tem no Ocidente, a verdade é que o Japão apresentou um crescimento visível do seu futebol jogado e vivido, o que significa que o desporto cresceu em número de japoneses dentro do rectângulo de jogo e também ao nível da qualidade dos cromos que têm surgido. Consideremos que a J-League (a liga profissional de futebol) foi criada em meados dos anos 90, o futebol evoluiu num ritmo fantástico. E isso merece o seu destaque. De tal forma que o Fair Play e a caderneta.de.cromos acharam por bem colar três cromos que foram, e ainda são, fundamentais para o desenvolvimento do futebol no Japão. Com estes cromos, vêm também coladas algumas histórias que devem ser lembradas e que marcam a carreira destes craques.
Zaizen
A grande estrela da primeira grande seleção japonesa: a do Campeonato do mundo sub17 de 1994.
Se te lembras desta equipa (ou se pesquisares um pouco) podes ver que quem carregava o número dez nas costas era este cromo, deixando no banco o famoso Hidetoshi Nakata. Neste torneio de 1994, este Japão defrontou a Nigéria de Kanu e Babayaro, a Itália de Buffon e Totti e foi sempre considerado o melhor jogador em campo.
Claramente, tinha ganho o prémio de jogador revelação, o que chamou automaticamente a atenção de muitos clubes. Um deles foi a Lazio de Roma que o chamou para uns testes em Roma. Não deu certo (uma simpática rotura de ligamentos acabou com todas as esperanças) e voltou para o japão. Três anos depois, Nakata assinou por um clube italiano. O jogo tinha mudado para os camisas 10 do japão daquele Mundial. Zaizen nunca mais foi aquilo que, em tempos, prometeu. Passou ainda por Espanha, tornando-se no primeiro japonês a jogar na La Liga, porém sem grande impacto. Todos os países têm aquele jovem que parece que nem todas as estrelas do céu são suficientes para os iluminar por tanto sucesso prometerem. Zaizen é o japonês desse lote.
Kazuyoshi Miura
O maior jogador japonês da história. Passo a explicar-vos o porquê em retrospetiva, começando pelo “fim” da historia. Entre aspas porque a historia deste cromo ainda não terminou. “Eu sei que já não sou novo e eu começo a sentir o jogo cada vez mais duro fisicamente. Mas eu continuo a sentir imenso prazer quando a minha equipa ganha ou quando eu jogo bem.” – disse Miura em 2005. Este texto está a ser escrito em 2018. Kazu tem 51 anos e é jogador profissional de futebol.
Em Janeiro deste ano, com 50 anos, o Yokohama FC prolongou o seu contrato por mais um ano. É a sua trigésima terceira época como profissional de futebol. Deixou três marcas no livro do Guiness: uma como o jogador mais velho de sempre a jogar uma partida de futebol; outra como o jogador mais velho a marcar um golo no futebol profissional, superando assim o inglês Stanley Matthews (que já foi colado nesta caderneta); e ainda como o jogador mais velho a actuar num campeonato do Mundo de futsal (Sim, em 2012 também jogou futsal). Naturalmente, é também o jogador japonês com mais internacionalizações. Por isto e muito mais, Kazu é “o” símbolo do futebol no Japão. Ele deve receber muito amor por parte de todos os japoneses que gostam de futebol, mas com toda a certeza ele dá muito mais amor a este desporto. 51 anos e ele ainda lá anda, no meio dos jovens adultos, a fazer golos e a mostrar como se respeita o futebol.
Tudo começou aos 15 anos quando Kazu decide sair do Japão e viajar para o Brasil, a terra prometida… do futebol. Lá saiu ele de Shizuoka com 700 dólares no bolso e rumou a São Paulo à procura de uma oportunidade de aprender com os melhores. Começou no Santos, o seu primeiro clube no Brasil mas as coisas não foram fáceis. Com poucas oportunidades foi para o Matsubara e CRB, onde também não correu bem.
Dormia no estádio, salário baixo. Ao invés de viajar de volta, deu um passo atrás, assinou por um clube menor, o XV de Jau. Aí sim, ele brilhou e ainda hoje é lembrado como um dos grandes craques daquele clube. Ainda teve tempo para passar pelo Coritiba e voltar à sua primeira casa, o São Paulo FC onde venceu um campeonato Paulista e assinou o golo da vitória frente ao Corinthians . Foram 4 anos de muita aprendizagem, capacidade de resiliência, adaptação, muitos golos, ginga e claro… samba. Por isso mesmo, o seu festejo de golo é até hoje um passo de samba. Em 1993, surgiu uma moda em todas as discotecas japonesas de, quando tocava uma determinada musica, todos dançavam a “Kazu dance”, um samba nipónico.
Volta ao Japão em 1990, com um currículo preenchidíssimo. Estava na cara que com aquele espirito de guerreiro, Kazu iria longe. Mas nunca se pensou que fosse tão longe. Começou em 1986 e já vai em 2018 de botas calçadas. Impressionante. É preciso amar muito o jogo. Diz ele que “Se eu não tivesse sido jogador de futebol, não acredito que pudesse ter existido” .
Musashi Mizushima
Não, o Kazu Miura, o cromo que apresentei anteriormente não é o único japonês que se aventurou pelo futebol brasileiro. Na verdade Mizushima foi o primeiro japonês a viajar para o Brasil e tentar a sua sorte no futebol.
Para além de ter sido um jogador que brilhou pelo São Paulo FC e por outros clubes brasileiros de menor expressão, acredito que o maior feito da sua carreira tenha sido a capacidade de inspirar Yoichi Takahashi a criar a maior personagem anime do futebol: Oliver Tsubasa. Sim, foi este cromo a base para criar uma história que maravilhou milhares de crianças no Mundo inteiro, especialmente no Japão. A série foi, sem dúvida, um catalisador fundamental para a adesão do povo japonês a este desporto.