Portuguesa de Desportos: cem anos de sucessos e decepções

João Pedro SundfeldAgosto 16, 20206min1

Portuguesa de Desportos: cem anos de sucessos e decepções

João Pedro SundfeldAgosto 16, 20206min1
A Lusa, como é conhecida a Associação Portuguesa de Desportos, equipa do estado de São Paulo no Brasil, já viveu momentos de glórias, mas passa por situação delicada. E para comemorar os cem anos de vida, O Fair Play conta alguns detalhes aqui.

Artigo por João Sundfeld

Em 1920, foi fundada a Associação Portuguesa de Desportos, também conhecida como Lusa. O clube, rapidamente, ganhou o carinho da colônia portuguesa presente na cidade de São Paulo e, ao longo destes cem anos de história, colecionou conquistas e polêmicas, sendo, com isso, um dos mais tradicionais times de São Paulo. No século passado, a Lusa tinha um plantel poderoso e brigava por importantes títulos. Hoje, por outro lado, a equipa não disputa nenhuma divisão do futebol nacional e luta, constantemente, contra as dívidas crescentes.

A Portuguesa comemora 100 anos lutando para não deixar de existir (Foto: Divulgação/Facebook)

Durante décadas, a Portuguesa foi um dos melhores times do Brasil. Chegou a bater de frente com o Palestra Itália, atual Palmeiras, na década de 1930; com o Santos do Pelé, nos anos 70, e, nesta mesma época, com a Academia do Palmeiras, liderada por Ademir da Guia.
No ano de 1935, por conta das divergências em relação ao profissionalismo no futebol, houve uma rutura entre alguns times de São Paulo e a Associação Política de Esportes Atléticos, que organizava o campeonato estadual. Sendo assim, houveram dois Campeonatos Paulistas, um da APEA e outro da Liga Paulista de Foot-Ball. Desta forma, dois clubes foram campeões: o Santos, no torneio da LPF, e a Portuguesa, que venceu dez dos quatorze jogos que disputou, na competição da APEA. No ano seguinte, a equipa lusitana foi, novamente, campeã, vencendo, mais uma vez, dez partidas e perdendo apenas uma.

Na década de 1950, a Lusa viveu, possivelmente, os seus melhores anos. O clube recebeu a Fita Azul, título de honra concedido aos times que voltavam invictos de suas campanhas internacionais, em três anos (1951, 1953 e 1954). Além disso, sagrou-se campeão da Taça San Izidro ao bater o Atlético de Madrid, campeão espanhol na época, por 4×3 e, também, conquistou o Torneio Rio-São Paulo duas vezes. O plantel da Portuguesa nesses anos áureos era um dos mais poderosos do país, contando com alguns dos melhores jogadores da história do futebol, como Djalma Santos (defesa bicampeão mundial com o Brasil), Brandãozinho (um dos maiores ídolos da história do clube), Julinho Botelho (um dos melhores extremos direitos que o Brasil já teve), entre outros grandes nomes.

Na década de 1970, mais precisamente no ano de 1973, a Lusa conseguiu algo improvável e considerado um dos maiores feitos da história do clube: conquistou o seu terceiro Campeonato Paulista, mas, desta vez, dividiu o título com o Santos comandado pelo Rei Pelé. Além disso, a equipa ficou na frente do Palmeiras, liderado por Ademir da Guia, e do Corinthians, que contava com Roberto Rivellino. Mesmo com bons jogadores em seu plantel e boas campanhas no campeonato regional, a Lusa nunca conseguiu o título brasileiro. A melhor campanha do time nesta competição ocorreu em 1996, ano em que a equipa chegou à final do campeonato, vencendo treze dos vinte e sete jogos disputados até então. No último jogo, porém, a Portuguesa foi derrotada pelo Grêmio e ficou com o vice-campeonato.

Na década de 90, Dener foi considerado por muitos a maior promessa do futebol brasileiro (Foto: Divulgação/Portuguesa)

O ano de 2011 marca a última alegria do adepto rubro-verde. Disputando a Série B do Campeonato Brasileiro, a Portuguesa encantou o Brasil com o seu futebol bem jogado e ofensivo, conseguindo, com isso, o apelido de Barcelusa – em alusão ao Barcelona que, na época, maravilhava o mundo com o estilo de jogo inovador proposto por Pep Guardiola – e a segunda melhor campanha da história da competição. Com isso, o time sagrou-se campeão, sendo este o único título nacional de toda sua história. Em 2012, a Barcelusa teve grandes dificuldades para se manter na elite do futebol brasileiro, devido ao seu plantel limitado e às enormes dívidas contraídas pelo clube, mas conseguiu evitar o descenso, ficando na 16ª posição. A época seguinte, porém, marcaria o início de sua derrocada.

No ano de 2013, a Lusa estava constantemente na luta contra o descenso. Na penúltima rodada, a equipa venceu a Ponte Preta e precisava, apenas, de um empate na última partida para se manter na primeira divisão. O embate final seria contra o Grêmio, o vice-campeão. Um jogo fundamental para a temporada lusitana e que terminou num zero a zero sem grandes emoções, mas era o suficiente para rebaixar o Fluminense. Aos 32 minutos do segundo tempo, no entanto, a história mudava na frente dos olhos de todos que assistiam à partida, pois Héverton entrou em campo e, depois disso, a Portuguesa nunca mais foi a mesma.

O jogador em questão havia sido suspenso pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva dois dias antes da realização da partida. Assim sendo, ele não poderia ser relacionado e, muito menos, entrar em campo. Ao atuar, a Portuguesa assumiu um risco desnecessário e que custou caro, pois o Fluminense entrou na justiça e, com isso, a equipa paulista perdeu quatro pontos, ficando atrás do Flamengo, que também havia sido punido, e sendo rebaixada. Desde então, o clube não consegue se reerguer. A cada ano que passou, as campanhas foram piores e a situação foi agravada. Em 2014, a Lusa jogou a Série B e em 2017 foi eliminada na primeira fase da Série D, ficando, deste modo, fora de qualquer competição nacional.

Héverton foi o pivô do caso que até hoje marca a queda da Portuguesa (Foto: Futurapress)

O clube tenta voltar a ter a importância de outrora, mas os problemas são muitos, principalmente financeiros. As dívidas do clube são astronômicas e as receitas praticamente inexistem. O atual presidente, Antônio Carlos Castanheira, trabalha para aumentar os rendimentos, utilizando o centenário como uma grande ferramenta de marketing, e tenta construir a Arena Canindé, um projeto similar ao proposto em 2002 pelo então presidente Joaquim Alves Heleno, que seria um importante ativo do clube. Com isso a Lusa pretende voltar a crescer e, ao menos, disputar, num futuro não tão distante, a primeira divisão novamente.


One comment

  • Rogerio Augusto Mendes Rino

    Agosto 26, 2020 at 4:04 pm

    Muito bom esse relato
    Prendeu minha atenção Até o fim
    Parabéns ao articulista

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