Andrés Escobar, o bom Escobar e a tragédia do Mundial 94

Pedro PereiraJunho 17, 20183min0

Andrés Escobar, o bom Escobar e a tragédia do Mundial 94

Pedro PereiraJunho 17, 20183min0
Um recordar de Andrés Escobar, um jogador que deixou uma lição muito importante para o futebol: passar dos limites da normalidade. Uma viagem até 1994 pela Caderneta dos Cromos

Texto escrito para a Caderneta dos Cromos, página do Instagram que devem seguir para revisitarem os maiores astros, estrelas, flops ou outros do futebol. Uma viagem diferente, com recurso aos cromos da Caderneta, que vai para além dos míticos da Panini! Hoje temos Andrés Escobar!

Andrés Escobar, o jogador que deve ser lembrado para entendermos até onde não pode ir o futebol.

Andrés era o capitão de uma geração de ouro do futebol colombiano, a de 90. Chegaram ao Mundial de 94 com dois golos sofridos na fase de qualificação. Como desde sempre no futebol colombiano, a influencia de narcotraficantes no futebol era grande nesta altura. Porém, em 1994 faltava um elemento que equilibrava um mundo de desequilíbrio e exageros: Pablo Escobar, que tinha acabado de morrer.

A Colômbia estava numa fase de reorganização política e social e para os jogadores, aquele caos social tirava-lhes o foco do que deveriam fazer em campo. Uma seleção com tudo para brilhar, estava condicionada.

Mas os apostadores colombianos (apostadores ilícitos e muitos relacionados com o narcotráfico) confiavam, ainda assim, nesta esperançosa equipa.

Apostaram mal.

Na primeira jornada perderam 3-1 contra a Roménia do genio Hagi. Os apostadores ficaram fulos e fizeram questão de passar essa mensagem à seleção. Não há espaço para derrotas! Chegaram até a proibir a utilização de alguns jogadores no jogo seguinte. Andrés não foi um deles.
Jogo seguinte: EUA. Nos últimos nove jogos entre as duas seleções, a Colômbia tinha ganho todos. Parecia certo. Aos apostadores também lhes parecia.
Aos 34 minutos de jogo, 0-0 ainda, surge um cruzamento da esquerda para dentro de área. Andrés, central a tentar fazer o seu papel, faz mal o corte e… AUTO GOLO.

O mundo desabou. Os colombianos mal sabiam o que fazer depois de estarem a perder. A verdade é que acabaram mesmo por perder o jogo. Com essas duas derrotas, a equipa mais promissora do campeonato não passou da fase de grupos. Viajou para casa de cabeça baixa e com um grupo de apostadores à sua espera na terra do café.

Dias após à infelicidade de Andrés Escobar, o próprio defesa veio tentar dar algumas palavras de ânimo para os adeptos cafeteros,

“A vida não acaba aqui. Temos que seguir em frente. Não importa o quão difícil, temos de levantar e seguir em frente. Só temos duas opções: deixar a raiva paralisar-nos e a violência continua ou damos a volta por cima e ajudamos os outros. É a nossa escolha. Deixem-nos manter o respeito. As minhas desculpas a todos. Tem sido uma fantástica experiência. Vemo-nos em breve porque a vida não termina aqui.””

Passados uns tempos, na primeira vez que Andrés saiu à rua (os amigos disseram para ele não sair de casa porque seria perigoso mas ele disse que não tinha medo, que queria mostrar a cara ao seu povo), três pessoas abordam o central colombiano e perguntar-lhe que porcaria ele tinha feito naquele dia no Mundial. Sem lhe dar tempo para responder, deram-lhe seis tiros.

Morria assim, o bom Escobar.

Se o leitor tiver interesse em descobrir o mau Escobar, de seu nome Pablo Escobar, poderá revisitar a nossa trilogia a falar do impacto de Pablo no futebol colombiano durante os anos 70 e 80. Uma viagem que pode fazer em parte pelo Netflix, mas recomendamos que viagem no tempo de outra forma.

Gol ou Plomo – O Futebol da Era Escobar

 


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