Schalke 04. Uma luz no meio de uma crise
Pedro Sousa é autor do projeto Bola na Relva e colaborador do Fair Play!
Antes de falar na crise profunda que atravessa o clube alemão, convém mencionar que o Schalke 04 conseguiu escapar a um dos recordes mais humilhantes do futebol germânico. A vitória, este fim de semana, em casa, diante do Hoffenheim, permitiu evitar a presença no livro de recordes, como clube com mais jogos consecutivos sem vencer na Bundesliga. Esse registo vai continuar a pertencer ao rival, Tasmania Berlin. O grande protagonista foi Matthew Hoppe, que apontou três golos, na goleado por 4-0. Contudo, este foi apenas um momento de alegria no meio de uma enorme balbúrdia.
Nesta época já são em quatro treinadores diferentes e os problemas aumentam
O clube Gelsenkirchen está inundado em dívidas e problemas diretivos. Por consequência, a gestão desportiva tem sofrido e a queda de um dos maiores clubes alemães está à vista de todos. Sem capacidade financeira para reforçar a equipa e valorizar os jogadores do plantel, o emblema germânico conseguiu escapar à humilhação que mencionei em cima, mas o fim dos problemas está muito muito distante.
Para termos uma pequena noção da crise desportiva do clube, Christian Gross é o quarto treinador esta temporada. David Wagner transitou da época transata, mas ao fim de dois jogos na nova temporada foi despedido. Seguiu-se Manuel Baum, mas a aventura no comando técnico durou apenas 11 partidas. Após a sua saída, Huub Stevens liderou em equipa de forma interina, até à chegada de Gross. O experiente treinador suíço foi o responsável pela primeira vitória no campeonato esta temporada.
Esta confusão vivida no clube não está só confinada aos treinadores, mas também está presente nos cargos diretivos do Schalke 04. O polémico ex-presidente, Clement Tonnies, abdicou do cargo, antes do começo da presente época, isto depois de acumular escândalos, enquanto liderava o emblema germânico. Para além disso, o desespero por conseguir um encaixe financeiro fez com que Michael Reschke, antigo diretor técnico, tentou vender Omar Mascarrel ao Hertha Berlin, isto sem o conhecido do próprio atleta.
E as confusões não ficam por aqui. Se não bastasse, Vedad Ibisevic, avançado, foi despedido devido a agressões verbais a Naldo, treinador adjunto. Este episódio aconteceu em novembro e, na altura, Amine Harit e Nabil Bentaleb foram também afastados. O caso do argelino foi mais grave e também pode ditar a saída do clube no mercado de inverno.
Um plantel que teve de ser construído com “tostões”
O Schalke 04, na última década, apresentou sempre planteis bem constituídos e cheios de qualidade. Pelos quadros do clube já passaram elementos que saíram do clube e estiveram em destaque em grandes emblemas mundiais. Contudo, devido à crise financeira e desportiva que atravessa, a produção de novos talentos tem estado estancada. Olhando para os homens que tem à sua disposição, Christian Gross não tem muitas opções para tentar contrariar a má fase.
Há jogadores que são propensos a lesões e a clara falta de profundidade pode complicar a tarefa do suíço. Para já, o mercado de inverno trouxe uma cara conhecida. Sead Kolašinac regressou por empréstimo do Arsenal e acrescenta experiência, conhecimento do futebol alemão e qualidade ao lado esquerdo da defesa, podendo também atuar como central. Porém, a principal preocupação do experiente técnico deve passar por trazer a harmonia ao plantel e afastar os jogadores dos problemas diretivos e financeiros que o clube atravessa.
Esta vitória diante do Hoffenheim pode ser o tónico para a sobrevivência do Schalke 04, mas há muito trabalho pela frente, num campeonato que é muito competitivo e tem equipas estáveis e mais desafogadas.